O médico imunulogista da Casa Branca, Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, tem sido uma das figuras mais controversas nos Estados Unidos nos últimos meses. É ele que quase sempre contraria o próprio presidente Donald Trump sempre que ele desvaroliza a pandemia do coronavírus. Tem, por isso, sido elogiado por muita gente nas redes sociais, e por muitos outros políticos em todos os Estados Unidos. Mas claro que tinha de surgir um outro lado, e Fauci está agora a ser alvo de várias acusações sobretudo por parte dos mais conservadores e apoiantes de Trump. A onda de críticas cresceu depois de Anthony Fauci ter baixado a cabeça e esfregado a testa quando o presidente Donal Trump chamou de "Departamento de Estado Profundo" ao Departamento de Estado, aquando da leitura de um comunicado da Casa Branca, a 20 de março, sobre o COVID-19. Veja aqui o momento, que se tornou viral.

Esta atitude de Fauci foi vista como se estivesse a menosprezar o presidente, mas as acusações foram mais longe: referem que Anthony S. Fauci faz parte de uma mobilização secreta conta Trump, que tem como objetivo descredibilizar e derrubar o presidente. Em parte, esta acusação está relacionada com o facto de o imunologista não apoiar a forma como os Estados Unidos estão a combater o surto.

A teoria que se espalhou pelas redes sociais através da hashtag #FauciFraud teve uma forte partilha por parte de apoiantes de direita do núcleo de apoiantes de Trump, como é o caso de Tom Fitton, presidente da Judicial Watch, um grupo conservador, Bill Mitchell, apresentador do programa “YourVoice America”, que entrevista pessoas de extrema direita e ainda Shiva Ayyadurai, apoiante de Donald Trump.

Contudo, também Fauci tem vários apoiantes do seu lado por ter tido a capacidade de contrariar o presidente dos Estados Unidos quando transmitiu falsas informações e se mostrou otimista quando à disseminação do vírus.

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No meio da teoria que afirma uma mobilização contra Trump, o assunto não envolveu só a atualidade relacionada com a COVID-19, como também acontecimentos passados. Veio a público um alegado e-mail com elogios enviado há sete anos a Hillary Clinton, quando esta era secretária de Estado — publicação, baseada num artigo do "The American Thinker", que teve vários retweets no Twitter, de acordo com o jornal "The New York Times".

Um dos tweets anti-Fauci publicados esta terça-feira, 24 de março, chegou mesmo a dizer: "Desculpem os liberais, mas não confiamos no Dr. Anthony Fauci".

Por outras plataformas, a teoria e depreciação contra o imunologista também se foram espalhando, muitas vezes em forma de fake news fabricadas para destruir a credibilidade do médico: no YouTube estes os vídeos com teorias da conspiração mirabolantes sobre Fauci tiveram milhares de visualizações e pelo Facebook surgiram vários grupos privados com mensagens contra o especialista, de acordo com o mesmo jornal.

Esta não é a primeira vez que a política e a ciência entram em choque. O mesmo já aconteceu com o Governo de Donald Trump relativamente às evidências cientificas sobre as alterações climáticas. Contudo, no caso da pandemia que pode matar milhares de americanos tal como está a acontecer em todo o mundo — havendo já 30.982 mortos pela COVID-19 — as informações dos cientistas não devem ser ignoradas.

Anthony S. Fauci revelou numa entrevista à "Fox News" esta segunda-feira, 23 de março, que Trump muitas vezes não segue as recomendações: "Ele faz muitas perguntas. Essa é a sua natureza. Está constantemente a fazer perguntas. E nunca, nas várias vezes em que eu disse: 'Por razões científicas, devíamos realmente fazer isto', ele não disse: 'Vamos fazer'", conta.

Numa outra entrevista, também sobre o trabalho com Donald Trump e a Casa Branca, o imunologista refere: "Quando se lida com a Casa Branca, às vezes é preciso dizer uma, duas, três, quatro vezes e só depois acontece", disse à revista "Science" e acrescentou: "Então, eu vou continuar a pressionar".

Para conter as informações contra o especialista, de acordo com o jornal "The New York Times", o Facebook anunciou que removeu de forma proativa as informações falsas relacionadas com a COVID-19 e o YouTube disse que não recomendou os vídeos da teoria da conspiração sobre Fauci e que promove informações fiéis sobre vírus aos seguidores. Já o Twitter revelou que está a tentar eliminar "conteúdo que pode causar danos".

Apesar das teorias viriais, Feudi não deixou de participar num direto no Instagram de Stephen Curry esta quinta-feira, 26 de março, para discutir a COVID-19. Na sessão, Fauci voltou a alertar: "Isto é um assunto sério", disse, "não estamos a exagerar."