A cura está longe, a descoberta da causa também e as terapêuticas não são eficazes — nem a retardar os sintomas, nem a melhorá-los. Há estudos importantes em curso, mas são preciso anos para se chegar a conclusões relevantes, capazes de mudar as consequências desta doença. O Alzheimer é um tipo de demência em que há perda de memória, de capacidade intelectual, de reações emocionais, causadas pela formação de emaranhados e de placas no cérebro, que vedam a comunicação entre os neurónios.
Apesar de existirem poucas certezas quanto a esta doença que afeta 47,5 milhões de pessoas no mundo (prevê-se que, em 2050, o número triplique), há comportamentos que podem proteger-nos, explica à MAGG neurologista Socorro Piñero, dos hospitais CUF.
“Existem evidências científicas significativas de que a hipertensão, os hábitos tabágicos, a baixa escolaridade e os maus hábitos alimentares estão associados ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas como a doença do Alzheimer”, diz. Apesar de assumir que nem sempre faz aquilo que é suposto, há cinco cuidados fundamentais que a médica tenta aplicar no seu quotidiano para proteger o cérebro desta doença, do treino cognitivo a alimentos específicos.
1. Manter o cérebro ativo
A preguiça não é exclusivamente um estado do corpo, e da mesma maneira que a inatividade física tem consequências, a cerebral também.
O treino cognitivo não é apenas fundamental para retardar os sintomas de quem já tem a doença. Pessoas saudáveis devem fazer uma série de exercícios, para manter o cérebro ativo. "Costumo dar aos meus pacientes e aconselho pessoas saudáveis a fazerem uma espécie de treino, com exercícios para o cérebro", diz.
Exemplos:
- Experimente o inesperado: saia de casa diariamente, caminhe por locais variados, pouco conhecidos, assista a espetáculos e converse com diferentes pessoas.
- Por vezes, utilize a mão não dominante para abrir gavetas ou portas de armários, lavar os dentes, escrever ou comer.
- Identifique objetos pelo tato, como, por exemplo, o valor das moedas que tem no bolso.
- Altere a localização habitual de utensílios em casa, para que o mapa pré-formado do cérebro se modifique.
- Resolva quebra-cabeças com frequência: palavras cruzadas, sudoku, sopa de letras ou o encontre as diferenças.
- Utilize mnemónicas para memorizar listas de informações
- Se se esqueceu de algo importante, reflita sobre possíveis causas: talvez não tivesse prestado atenção por estar a fazer outra coisa, porque não valorizou a informação. Esta reflexão pode ajudar a criar novas estratégias para memorização futura.
- Invista em aprendizagens novas. Aposte num curso de fotografia, de informática, de xadrez, aprenda um idioma diferente.
2. Apostar na dieta mediterrânea
É que “além de prevenir o Alzheimer”, esta dieta “também ajuda a prevenir problemas cardíacos, como enfarte ou insuficiência cardíaca.” Socorro Piñero chama à atenção para alguns alimentos específicos: frutas, vegetais, cereais, peixe, azeite e consumo moderado de vinho (um copo por dia). “O ómega 3 é a gordura encontrada nos peixes azuis — carapau, sardinha, salmão, atum — e reduz o risco de declínio cognitivo”, alerta.
Os alimentos ricos em antioxidantes também são importantes — frutos vermelhos, por exemplo — porque protegem o organismo da ação dos radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento celular.
“Evito alimentos ricos em gordura, como produtos industrializados e salgadinhos.”
3. Praticar exercício físico
Há mesmo uma relação entre o exercício físico e o desempenho cerebral. Treinar regularmente liberta neurotrofinas, que, por sua vez, reduzem a hipertensão, que está relacionada com a alteração da memória.
“Recomendam-se 30 minutos de atividade física, três a cinco vezes por semana”, lembra. “Devemos também trocar o elevador pelas escadas, estacionar o carro mais longe do nosso destino ou parar na paragem anterior à habitual.”
4. Fazer check ups regularmente
O despiste é importante. A neurologista chama especial atenção para a hipertensão arterial, porque esta condição é capaz de influenciar a memória. “Há que controlar”, diz. “Pacientes com hipertensão devem seguir as indicações do clínico geral e fazer, pelo menos, duas consultas por ano para avaliar a pressão arterial.”
5. Dormir bem
É enquanto dormimos que assimilamos e gravamos tudo aquilo que aprendemos, pelo que é fundamental respeitar as regras de uma boa higiene de sono.
“Devemos ter um horário regular, evitar estímulos lumínicos — ecrãs — uma hora antes de nos deitarmos, evitar fazer desporto ou comer nas três horas anteriores e criar uma rotina de atividades que ajudem o nosso cérebro a perceber que é hora de descansar, tal como se faz com as crianças.”