O primeiro caso de COVID-19 em Portugal foi detetado no dia 2 de março de 2020. Há mais de um ano que vivemos com um vírus que ainda não é totalmente conhecido e que nos tem vindo a afetar a todos de maneiras diferentes. O stresse e a ansiedade aumentaram em larga escala e passaram a despertar no ser humano sentimentos como o medo e incerteza quanto ao futuro.

Segundo Filipe Melo, médico dentista na MALO CLINIC, estes são fatores que acabam por se manifestar de forma negativa na boca das pessoas. "Muitas vezes relacionados com uma área em que eu trabalho muito — a articulação da boca — em que as pessoas aparecem com alguns sintomas como dores musculares, dores de cabeça, dores no pescoço, e isso foi uma coisa que me despertou muito a atenção durante este período", começa por explicar à MAGG.

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Apesar de nos últimos anos já se ter verificado um aumento no número de pessoas com este tipo de problemas, com a pandemia o fenómeno intensificou-se e Filipe revela que, muitas das vezes, nem se consegue perceber qual a origem do mesmo. O médico dentista realça que esta tensão demonstrada pelas pessoas acabou por se repercutir em vários casos de dentes partidos ou lascados.

Para além disso, verificou-se ainda um aumento dos casos de bruxismo — "hábito de ranger os dentes e apertá-los". "Outra coisa que me despertou muito a atenção foi o clima depressivo em que as pessoas entraram, acabando por gerar descuido. Muitos desmarcaram todas as consultas que tinham", afirma realçando que vários problemas de fácil solução se tornaram em casos muito mais graves. "O que acontece é que há pessoas que quase há um ano e meio não aparecem cá e quando aparecem já vêm com dor ou problemas graves."

Raquel Simões, higienista oral na MALO CLINIC, sentiu também este descuido por parte dos pacientes. "Com a quarentena e o uso frequente de máscara, as pessoas descuraram da sua saúde oral, adiando as consultas, diminuindo os cuidados de higiene oral, com uma postura de ansiedade que acaba por se refletir na cavidade oral. O facto de se estar mais tempo em casa e de existir a tentação de comer mais snacks cariogénicos, tem levado ao aumento de problemas dentários", explica à MAGG.

Segundo a higienista oral, estudos recentes indicam que pessoas infetadas com a COVID-19 têm apresentado várias manifestações orais, "como por exemplo, úlceras aftosas, mau hálito, alterações na língua (como língua fissurada e despapilada), eritema da mucosa, entre outras", contudo estas são manifestações que não tem observado.

Especialistas referem que clínicas são seguras e que é essencial continuar a ir às consultas

Tanto Raquel como Filipe realçam a importância das pessoas continuarem a manter as rotinas e a realizar as consultas periódicas que estavam estipuladas, pois só assim poderão continuar a manter-se saudáveis. "Acho que o trabalho preventivo que tem vindo a aumentar ao longo dos anos se perdeu agora e acho que a médio/longo prazo vamos ter de recuperar isso."

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Segundo o médico dentista, todas as clínicas se modificaram nesta fase para poder tratar as pessoas com toda a segurança e, por isso, a pandemia não deve ser impedimento para que deixem de realizar as consultas. "É fundamental manter as consultas de higiene oral de rotina, de forma a manter a sua saúde oral e prevenir problemas dentários. Dado o protocolo rigoroso e seguro que todas as clínicas dentárias adotam, é completamente seguro realizar uma consulta de higiene oral", realça Raquel Simões.

A higienista alerta ainda que a não realização das consultas periódicas de higiene oral tem levado ao agravamento de problemas orais. "Houve um aumento de casos de gengivite (inflamação gengival) , periodontite (inflamação gengival com existência de perda óssea) e lesões de cárie dentária, levando mesmo à perda de dentes, em alguns casos."

Para além disso, há ainda quem relate que o uso de máscara faz aumentar o mau hálito. "A utilização da máscara tem relatado a prevalência de mau hálito, mas devido a problemas orais já existentes ou agravados devido à falta de cuidados de higiene oral. É também frequentemente relatada a sensação de boca seca", conclui Raquel Simões.