Concentrados, antioxidantes, conservantes e açúcar. Tudo isto disfarçado do seu refrigerante preferido. "Não há melhor bebida do que a água", reforça a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, que, mais uma vez, vem confirmar aquilo que (teoricamente) todos sabemos, mas que, segundo dados estatísticos, escolhemos ignorar.

Para matar a sede, celebrar a vida ou simplesmente alimentar o vício enraizado nos hábitos alimentares, deixar a água de lado e optar por um refrigerante é cada vez mais frequente. Dos miúdos aos graúdos, a verdade é que os refrigerantes fazem parte da alimentação dos portugueses. E os números assustam. 

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Em 2018, cada português bebeu em média 60 litros de refrigerantes, que se traduzem em (mais de) 3 quilos de açúcar, segundo o relatório de 2019 do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável.

Cerca de 28,4% dos portugueses ingere este tipo de bebidas pelo menos uma vez por semana, de acordo com o Inquérito Nacional de Saúde de 2019 – e os homens, os solteiros, os jovens e os que têm menor nível de escolaridade são os principais consumidores.

Já no que a termos geográficos diz respeito, os maiores níveis de consumo registam-se, essencialmente, na Região Autónoma dos Açores, de acordo com o Instituto Ricardo Jorge, em 2014.

O consumo excessivo de açúcar, por si, ou adicionado a produtos alimentares, é um dos principais responsáveis pelos problemas de excesso de peso, obesidade, diabetes e cáries dentárias", afirma a nutricionista Alexandra Bento, ao jornal "Expresso".

Coca-Cola
créditos: James Yarema / Unsplash

"Uma dose de 250 ml de Coca‑Cola contém aproximadamente 27 g de açúcar, que equivalem a quatro ou cinco colheres pequenas de açúcar (...) e fornece 29% dos 90 g de açúcares diários recomendados para um adulto com uma ingestão diária de 2000 kcal", lê-se no site oficial da marca, que faz questão de esclarecer que 250 ml de Coca-Cola não contêm mais calorias e açúcares do que um sumo de laranja e possuem menos açúcares do que um sumo de maçã.

No entanto, os especialistas alertam para a leitura atenta dos rótulos dos produtos e, consequentemente, para o valor nutricional dos mesmos. Não basta quantificar as calorias, é preciso perceber o teor das calorias que estamos a ingerir.

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“Do ponto de vista de saúde pública o consumo de refrigerantes com açúcar será sempre excessivo. Tal relaciona-se com o facto de as calorias fornecidas pelo açúcar serem consideradas calorias vazias, ou seja, ao serem adicionados a um produto alimentar aumentam-lhe o valor energético sem lhe acrescentar qualquer valor nutricional (por exemplo, vitaminas ou minerais), contribuindo assim para uma menor qualidade da alimentação", completa a nutricionista.

Sabe quanto açúcar tem o seu refrigerante favorito?

Com base num estudo do Instituto Universitário Egas Moniz, a MAGG organizou várias bebidas refrigerantes açucaradas consumidas em Portugal. Do maior para o menor índice de açúcar quantificado por 100 ml.

Seven Up (11,8 g/100 ml)
Monster Energy (11g /100 ml)
Pepsi (10,6 g/100 ml)
Coca-Cola, receita original (10,2 g/ 100 ml)
Fanta (7,8 g / 100 ml)
Sumol (7,2 g/ 100 ml)
Iced Tea Lipton (4,7 g/ 100 ml)

Ingestão de bebidas açucaradas na Europa, em 2019
créditos: ec.europe.eu / eurostat

Entre 2016 e 2020, o teor de açúcar de bebidas refrigerantes açucaradas sofreu uma diminuição de 17%. No entanto, os dados estatísticos continuam a personificar um problema e "vêm reforçar a necessidade do desenvolvimento de ações como o imposto especial de consumo sobre as bebidas açucaradas e adicionadas de edulcorantes", avança o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável.

"A regulação da publicidade e marketing alimentar, assim como o plano para a reformulação dos produtos alimentares (refrigerantes, néctares, leite com chocolate, iogurtes e leites fermentados, cereais de pequeno-almoço) são outros exemplos de ações que se encontram a decorrer e que podem ter um forte impacto na redução do consumo de bebidas refrigerantes açucaradas em Portugal", acrescenta.