A solidão e a tristeza nos períodos festivos — como é o caso da Páscoa, que celebramos já entre esta sexta-feira, 15 de abril, e domingo,17 — podem dever-se a vários contextos, como a perda de familiares, a emigração ou a entrada na reforma. E tratam-se de estados passíveis de serem intensificados nas épocas festivas, em todas as faixas etárias, uma vez que é nessas alturas que as pessoas tendem a reunir-se com quem lhes é próximo.

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A psicóloga Catarina Graça explica à MAGG que estes períodos tendem a ser conflituosos para quem se sente só porque há uma grande carga emocional ligada ao surgimento das memórias passadas associadas à família que outrora esteve presente. "Isto leva as pessoas a sentirem tristeza, melancolia e alguns sintomas mais depressivos. Mas há também quem não esteja só e até gostasse que não existissem estes dias”, salienta a especialista, que refere as crianças e os jovens como exemplo.

“A forma dos mais novos lidarem com a tristeza e a solidão é diferente, sobretudo se enfrentarem conflitos familiares. Tenho pacientes para quem estas épocas são mais dolorosas, porque sentem-se pressionados pela família, que acabam por fazer comentários e perguntas — como pelos estudos, por exemplo — e gerar ansiedade”, esclarece. “Para evitar a tristeza, é necessário passar-se tempo de qualidade."

Catarina Graça, Psicóloga

Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica e fundadora da Academia Transformar, concorda com a colega de profissão, lembrando que há a “solidão acompanhada”, também responsável por causar tristeza — isto é, as pessoas podem sentir-se sozinhas mesmo sem estarem isoladas.

“As pessoas podem estar rodeadas de familiares nestas épocas, mas não se sentirem conectadas consigo próprias, nem com os outros. Essas relações, na perspectiva delas, podem até ser tóxicas”, esclarece a especialista.

A psicóloga explica ainda que a solidão é “uma experiência muito individual e que resulta da percepção subjetiva”, daí que quando recebe pacientes a sentirem-se isolados e tristes procura colocar o foco internamente, isto é, aconselhar a que olhem para si próprios e percebam a qualidade de companhia que fazem a si mesmos. 

“Só depois de garantirmos essa primeira conexão de base é que podemos investir em estratégias de socialização e de companhia”, defende Filipa Jardim da Silva. 

Como se pode atenuar a tristeza?

As especialistas partilham algumas sugestões estratégicas de como atenuar a tristeza sentida, sobretudo nestes dias. O fenómeno atinge todas as idades, sendo os idosos a população que mais se destaca, segundo a psicóloga Catarina Graça, para quem as estratégias de superação adotadas devem ser personalizadas ao estado mental e capacidade de cada pessoa.

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“É fundamental focar naquilo que se tem, em vez de se pensar sobre aquilo que não se tem, bem como criar uma rotina produtiva”, defende a especialista, que acrescenta que o investimento noutras relações, por exemplo, de amizade, é fundamental, bem como tentar sentir-se útil. "Costumo aconselhar o voluntariado aos meus pacientes como forma de ultrapassar a solidão e evitar o isolamento."

Para Filipa Jardim da Silva, o primeiro passo é a própria pessoa que se sente sozinha e triste observar o que está a acontecer, quais os sintomas, dar-lhes nome e identificá-los. “Parece simples, mas a essência do mal-estar, por vezes, vem de não nos permitirmos sentir. Sem o fazermos, não conseguimos regular nada."

Filipa Jardim da Silva, psicóloga
créditos: Filipa Jardim da Silva

A psicóloga acrescenta ainda que é essencial um autocuidado integrado para atenuar o mal-estar da pessoa. “Se não estamos bem emocionalmente, é importante protegermos ao máximo o sono, a alimentação e ainda praticar exercício físico”, refere Filipa Jardim da Silva. Além disso, é bom procurar contextos, espaços e atividades que proporcionem emoções agradáveis. Também é aconselhável escrever num diário “o que está no cérebro a ocupar espaço”.

Em casos mais graves, as psicólogas aconselham a procura de ajuda especializada para evitar traumas associados a estas épocas do ano. “É preciso desmistificar a ideia de que ir ao psicólogo é para quem não está bem. É para qualquer pessoa”, sublinha Filipa Jardim da Silva.