O verão é para muitas pessoas a melhor estação do ano. Calor, praia, amigos e bebidas frescas ocupam os nossos dias, e mesmo com a correria do trabalho guardamos um bocadinho para os planos fora da rotina. Afinal, temos de aproveitar o verão que não dura para sempre.
Com a chegada do outono e as consequentes mudanças de temperatura, o cenário muda de figura. Grande parte das pessoas perde a vontade de sair de casa (e, às vezes, até da cama). Está frio, chove, está muito vento: tudo nos incomoda e tudo é desculpa para desmarcar compromissos e evitar sair de casa. Mas porque é que isto acontece? Há efetivamente uma ligação direta entre a mudança de estação e o nosso estado de espírito? A resposta é que sim, mas não para todas as pessoas e não da mesma forma.
A depressão sazonal existe mesmo
Apostamos que já ouviu o termo depressão sazonal, mas, afinal, o que é isto? “É um estado depressivo temporário associado à mudança de estações que ocorre principalmente do verão para o outono. Para ser diagnosticada, tem de existir um padrão. É normal querermos ficar no sofá com uma manta a beber chocolate quente principalmente quando está frio e está a chover, o que não é normal é, como padrão constante, não querermos e não termos disposição para sair de casa e para socializar. Dias maus e sem vontade todos temos”, explica Catarina Graça, psicóloga clínica.
“No início, o diagnóstico vai ser difícil. Todos nós, biologicamente, vamos ressentir-nos de alguma forma com as transições de estação. No entanto, alguém mais saudável vai dar conta dos sintomas em alguns dias e volta a regularizar os padrões tanto de humor como de apetite e sono para aquilo que costuma ser o seu normal. No caso de alguém mais suscetível, há uma instalação de uma fadiga mais persistente e irritabilidade que não passa, sendo que a pessoa sente como se o corpo não estivesse a responder. O corpo é mais forte do que ela”, diz Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica e fundadora da Academia Transformar.
O que podemos fazer para dar a volta?
É fundamental “manter hábitos ao longo do ano de forma consistente", diz Filipa Jardim da Silva. "Devemos sair e estar ao ar livre sem ser apenas no verão. Fazer check-ups idealmente de nove em nove meses, é também muito importante para percebermos como está a tiroide, a vitamina D, o ferro e a vitamina B12, que são muito importantes para o humor e para a qualidade do sono”, recomenda a especialista.
A falta de luz solar pode mesmo provocar um desequilíbrio nos níveis desses neurotransmissores levando a sintomas como cansaço, irritabilidade e falta de motivação e, ainda, levar ao isolamento, dado que evitamos sair de casa.
É muito importante, por isso, estarmos conscientes daquilo que sentimos e, depois da fase de adaptação à nova estação, criarmos uma rotina ativa e social.
Fazer exercício físico é uma ótima forma de mantermos os níveis de serotonina saudáveis, o neurotransmissor conhecido como a “hormona da felicidade”. Se não se sente motivado a sair de casa e ir treinar, organize a sua rotina para ir logo depois do trabalho.
Catarina Graça recomenda que faça exercício num local que não lhe permita perceber se ainda é de dia ou não, visto que a ausência de luz solar é, muitas vezes, "um dos motivos para nos sentirmos mais desmotivados, visto que temos a sensação de que com os dias mais curtos não temos tempo para nada além de trabalhar".
“A rotina não pode ser só casa trabalho, trabalho casa. Inicialmente, vai parecer que nos estamos a obrigar a sair, a treinar, a marcar jantares, etc., mas depois começa a fazer parte da nossa rotina diária", refere.
As especialistas também apresentam a alimentação como um fator crucial para a boa manutenção da saúde mental durante todo o ano. Pode ser necessário consultar um nutricionista para adaptar a sua dieta às necessidades do corpo em cada fase da vida.
Vida social é mesmo importante, garantem especialistas
Não é só nas estações com o clima mais ameno que devemos procurar manter a nossa vida social ativa, é muito importante fazê-lo durante todo o ano. A verdade é que também a “qualidade das relações interpessoais influencia o nosso estado de espírito: somos seres sociais. Devemos ter nem que seja uma pessoa em quem confiamos e com quem podemos celebrar coisas boas e, principalmente, partilhar tristezas. Ter uma boa rede de suporte é muito importante", revela Filipa Jardim da Silva.
Muitas das vezes, acabamos por desvalorizar e banalizar aquilo que sentimos, mas devemos estar sempre alerta e ouvir as necessidades do nosso corpo. “A base das doenças mentais está na perda daquilo que sentimos e que pensamos. Vivemos em piloto automático”, acrescenta ainda.
Em suma, a prática de exercício físico, uma boa alimentação (suplementos se necessário) e práticas como journaling, que nos fazem estar mais presentes no momento, são ótimas formas de contrariar esta depressão sazonal.
“É importante, quando acordamos, pensarmos em como estamos e em como nos sentimos antes de sequer agarrarmos no telemóvel e começarmos a fazer scroll nas redes sociais. Temos de sintonizar o corpo, como por exemplo, ao escovar os dentes e estar apenas focado nisso, apreciarmos cada refeição, pensarmos no sabor e na temperatura da comida em vez de fazer outras coisas em simultâneo.”, sugere Filipa Jardim da Silva.
Se já tentou de tudo e mesmo assim não consegue ultrapassar o que está a sentir, então deve mesmo procurar um profissional de saúde mental para o ajudar.
“A psicoterapia é importante para percebermos o porquê do padrão se repetir, que estímulos específicos é que potenciam esta resposta emocional. A medicação é a última alternativa, a pessoa deve reeducar-se. É possível ultrapassar e contornar tudo isto com as estratégias adequadas. A pessoa tem de estar minimamente atenta aos sinais e não normalizar esse estado emocional. É pertinente que as pessoas se informem”, conclui Catarina Graça.