Dois assuntos muito comuns a esta geração, que têm vindo a ser cada vez mais falados - e talvez não pelos melhores motivos - são as redes sociais e a tecnologia. A verdade é que, hoje em dia, são cada vez mais os jovens e também os adultos que se sentem presos a um ecrã, quer seja pelas aplicações de entretenimento no telemóvel quer seja pelos filmes na televisão, e fica cada vez mais difícil desligarmo-nos do modo online. 

"Programa Super-Pais". Os treinos de 20 minutos para pais sem tempo que querem cuidar da saúde física e mental
"Programa Super-Pais". Os treinos de 20 minutos para pais sem tempo que querem cuidar da saúde física e mental
Ver artigo

No entanto, há uma ferramenta que tem como único objetivo ajudar todas as pessoas a criar um estilo de vida mais saudável no que toca à tecnologia: o detox digital. Não é surpresa para ninguém que as redes sociais mexem cada vez mais com a cabeça das pessoas, podendo inclusive afetar a sua saúde física e mental, e por vezes é preciso parar e perguntar: será que estou viciado? E, se sim, como paro?

Com a ajuda da psicóloga e fundadora da Coletivo Transformar Filipa Jardim da Silva, a MAGG foi à procura de respostas. Há que entender que este detox digital é fundamental para quem quiser voltar a tomar as rédeas da sua vida. “Quando nós falamos em detox digital estamos a falar de uma pausa parcial ou total do uso de dispositivos digitais ou até de determinadas plataformas. Por exemplo, redes sociais, e-mail, algumas aplicações durante um determinado período. Nós queremos, com esta prática, recuperar o equilíbrio e o controlo sobre o uso da tecnologia”, começou por explicar. 

Portanto, mais do que propriamente um afastamento total, é nós querermos uma redefinição da relação com o digital”, acrescentou Filipa Jardim da Silva. Assim, este detox vai permitir que a pessoa tenha em consideração, por exemplo, as notificações desnecessárias que tem no telemóvel, podendo desligar-se de tudo o que, dentro da grande dimensão das redes sociais e da tecnologia, não lhe faz sentido. Este é um exercício a fazer que pode ser difícil no início, uma vez que este vício pode nem sequer ser reconhecido, mas que precisa de ser feito para que a sua saúde seja valorizada. 

Com isto, a psicóloga enumera três perguntas simples onde, ao responder, perceberá se este detox digital fará sentido para si: é o digital uma ferramenta ou um vício na minha vida? Será que estou a usar a tecnologia ou estou a ser usada por ela? Será que estou presente ou estou apenas disponível? “Nós carregamos em botões que dão corações, que dão vários emojis, que dão sons que fazem vibrações com cores bastante gritantes. Isto tudo altera os nossos circuitos de prazer e atenção, cria vícios. Então, é daqui que vamos observando alguns sinais de alarme”.

Que sinais de alarme existem?

telemóvel no metro
telemóvel no metro créditos: Unsplash

“Nós podemos destacar alguns, como por exemplo a sensação constante de urgência e hiperconexão. Há muitas pessoas que se apercebem de que não conseguem não estar com um ecrã na mão, e precisam permanentemente de estar no ecrã”, explica a psicóloga. “Ou seja, há um semáforo vermelho e elas agarram instantaneamente no ecrã dentro do carro. Estão à espera cinco minutos de uma consulta ou no metro e estão com o ecrã à frente delas. Deixaram de ter a capacidade, seja a caminhar, seja de estarem paradas, de estarem com elas próprias”, acrescentou.

Além disso, Filipa Jardim da Silva confessa que esta questão da ansiedade é também muito importante, uma vez que faz com que as pessoas fiquem dependentes de terem, por exemplo, bateria, para não se sentirem deslocadas. “Algumas pessoas relatam que estão permanentemente a verificar a bateria dos seus equipamentos, que estão sempre a verificar se os sítios para onde vão têm ou não rede, têm ou não Internet e uma Internet de qualidade. E, às vezes, levam dispositivos móveis de Internet de dados, levam as powerbanks, às vezes duas, os carregadores de carro, tudo”, disse. 

Quando estas pessoas ficam offline, acabam assim por sentir uma certa ansiedade ou irritação, existindo, em alguns casos, uma agitação motora física. “Há aquele nervoso que se instala em que o pé fica a tremer e em que não há posição na cadeira para nós”, acrescentou. Outro sinal a ter em alerta é a perda de foco e de produtividade, especialmente quando o trabalho tem que ver com a tecnologia. “Mesmo quando trabalham num computador não conseguem manter uma atenção focada por cinco minutos, às vezes a redigir apenas um e-mail. E, portanto, vão passando de janela em janela, entretanto abrem uma notificação, um pop-up”, confessou Filipa Jardim da Silva. 

Além destes, a perda de qualidade de sono é um dos fenómenos que mais pode acontecer a alguém com o vício nas redes sociais. “Não só existe dificuldade em adormecer como também existe o despertar mais cedo ou um despertar ao longo da noite. Mesmo quando as pessoas não se recordam de terem despertado, conseguem reconhecer que, quando acordam, não acordam revigoradas, como se não tivessem tido um sono de qualidade”. Por fim, “outro sinal de alarme que podemos destacar pode ser também a questão da baixa autoestima e da comparação constante”. 

Estes são só alguns sinais de alarme comuns, que podem inclusive derivar mesmo para consequências a nível de saúde mental. Nós já temos as problemáticas de ansiedade, as problemáticas de depressão, mesmo o burnout, podemos chamar um burnout digital, que é esta questão deste esgotamento relacionado com esta hiperconexão”, rematou a psicóloga sobre este tópico, acrescentando que tudo isto junto faz com que percamos a capacidade de reclamar o controlo dos nossos comportamentos e das nossas emoções. 

Como posso fazer um detox digital em casa?

ler um livro
ler um livro créditos: Unsplash

“Primeiro, podemos definir aqui alguns limites claros. Podemos definir, por exemplo, que estamos afastados de qualquer estimulação de ecrãs durante a primeira hora em que estamos acordados e a hora em que nos vamos deitar, idealizando de 30 a 60 minutos”, começou por dizer Filipa Jardim da Silva. “Assim, acordamos e preparamo-nos para adormecer conectados ao nosso corpo, conectados aos nossos sentidos”, explicou, acrescentando que isto poderia passar também pela alteração do despertador, não utilizando o telemóvel como uma ferramenta para acordar. 

O que podemos fazer, de uma forma muito concreta? "Podemos desligar notificações que não são essenciais. Isto aqui reporta mesmo para começarmos a também ter mais noção de como é que os nossos equipamentos funcionam, e nós podemos desligar notificações que não são essenciais. Podemos até eliminar algumas aplicações que são desnecessárias ou que nos geram mais distração”, acrescentou a psicóloga. 

“E podemos usar a tecnologia também a favor do bem-estar, podemos ocupar a nossa memória com uma aplicação de mindfulness, por exemplo, mesmo com algumas aplicações que nos criam aqui alarmes para pausas ao longo do dia”, disse também Filipa da Silva Jardim. “E, por fim, eu diria que é sobretudo, de uma forma muito prática, voltarmos a lembrar-nos de substituir o tempo digital por outro tipo de práticas, como a leitura, caminhadas, cozinhar, pintar, o silêncio”. 

“O grande objetivo é criar uma rotina digital mais consciente, funcional e alinhada com os nossos valores, mas também com os nossos objetivos de sermos saudáveis, física e psicologicamente. Nós não queremos diabolizar as redes sociais ou pensar que precisamos de fugir à tecnologia, muito pelo contrário. Apenas acho que precisamos, efetivamente, de trazer aqui mais consciência”, acrescentou ainda a psicóloga.

Com esta ajuda, Filipa Jardim da Silva garante que a reatividade, a compulsão e a dependência emocional dos equipamentos eletrónicos podem diminuir, e que estes momentos de afastamento vão acabar por criar mais consciência sobre as necessidades reais das pessoas. “Eu não acredito em processos rígidos, portanto a ideia é nós pensarmos nisto como um processo contínuo, como um caminho em que nós queremos redefinir limites saudáveis com o digital, sem culpa nem rigidez”, rematou.