O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi internado a 6 de abril na unidade de cuidados intensivos do hospital de St. Thomas, em Londres, depois de o seu estado de saúde devido à COVID-19 se ter agravado. A situação, agora estável, deixou o primeiro-ministro em alerta sobre o impacto que a obesidade pode ter na recuperação de doenças como a COVID-19.

Boris Johnson está convencido de que a sua situação se agravou principalmente pelo facto de o peso estar acima do que é recomendado no momento em que foi parar ao hospital. E esta pode não ser uma simples hipótese: há estudos que indicam que o índice de massa corporal (IMC) pode mesmo aumentar o risco de morrer com COVID-19.

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Mas o que é, afinal, o IMC e que valor corresponde à obesidade? De acordo com a Fundação Portuguesa de Cardiologia, o IMC é o índice que permite classificar o grau de obesidade de uma pessoa e que se obtém através da divisão do peso (em Kg) pela altura elevada ao quadrado (em metros).

Este valor indica que um indivíduo sofre de obesidade quando é igual ou superior a 30, de acordo com a Organização de Mundial de Saúde (OMS). A organização faz ainda a distinção entre obesidade e excesso de peso, uma vez que este último corresponde a um IMC entre 25 e 30. Boris Johnson estava precisamente acima, com um IMC na casa dos 36.

Como não ganhou para o susto depois de os médicos chegarem a pensar que teriam de anunciar a sua morte se a situação não melhorasse, disse Boris Johnson ao jornal "The Sun", para que o mesmo não aconteça a outras pessoas — seja em contexto de pandemia ou outras patologias —, o primeiro-ministro britânico está a planear medidas para combater a obesidade no Reino Unido, de acordo com o jornal "The Independent".

O que dizem os estudos sobre a relação entre a obesidade e a COVID-19?

Um estudo, divulgado a 28 de abril, com base na avaliação de 17 mil pacientes, indicou que aqueles que eram obesos (com IMC acima de 30) tinham mais 33% de risco de morte do que aqueles que eram considerados saudáveis. Estes dados são reforçados por Calum Semple, professor da Universidade de Liverpool, que revelou ao "The Telegraph" que as pessoas com obesidade infetadas com COVID-19 desenvolviam um quadro clínico pior, o que potenciava a necessidade de ficar em cuidados intensivos e até de morrer.

Já o Imperial College London fez uma análise mais profunda do estudo anterior e concluiu que ser homem ou obeso também pode diminuir o risco de sobrevivência ao vírus.

E parece que a obesidade não é o único fator de risco de agravamento dos sintomas da COVID-19. Se juntarmos doenças cardíacas e diabetes tipo 2, o risco pode ser ainda maior, de acordo com outro estudo, desta vez da Universidade de Glasgow, Reino Unido, publicado a 7 de maio.

Se em Portugal mais de metade (62%) dos portugueses são obesos ou pré-obesos, de acordo com uma investigação do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) publicada em março, lá fora os números não são menos alarmantes: “Neste momento, as notícias referiam-se à obesidade como um fator de risco subestimado para a COVID-19. Esse risco é particularmente relevante nos EUA, porque a prevalência da obesidade é de cerca de 40%, contra uma prevalência de 6% na China, 20% na Itália e 24% na Espanha", de acordo com um estudo publicado na conceituada revista cientifica "Lancet".

Mas, no fundo, porque é que as pessoas obesas têm um maior risco de morrer com COVID-19? A resposta é dada pela Federação Mundial da Obesidade, que revela que nestes casos é mais complicado entubar, ao mesmo tempo que estes pacientes também precisam de mais oxigénio. Mas há mais: "Pode ser mais difícil obter imagens de diagnóstico (porque existem limites de peso nas máquinas de imagens) e é mais difícil para a equipa de enfermagem posicionar e transportar os pacientes”, diz a Federação.

Quais as soluções?

O primeiro-ministro Boris Johhson está a usar a própria experiência para levar a cabo uma campanha contra a obesidade no Reino Unido, incentivando, por exemplo, as pessoas a andar mais de bicicleta em vez de usar os transportes públicos.

Por cá, ainda não há nenhuma ação em vista, mas pode começar por seguir as recomendações gerais da Fundação Portuguesa de Cardiologia. Contudo, o principal foco deve ser sempre não ingerir mais calorias do que aquelas que são gastas diariamente. Veja o que pode fazer mais:

  • Siga as proporções recomendadas pela Roda dos Alimentos: pratique uma dieta equilibrada e variada, rica em legumes, cereais integrais, fruta e peixe. Reduza os alimentos com açúcar e as gorduras saturadas, presentes sobretudo nas gorduras processadas industrialmente (hidrogenadas), carnes vermelhas, manteiga, e lacticínios gordos.
  • Aprenda a conhecer os alimentos e os nutrimentos: quando ingere um alimento, procure saber que tipo de nutrientes está a fornecer ao seu organismo. Não precisa de transformar-se num “conta-calorias”, mas é importante ter a noção de que certos alimentos são mais calóricos do que outros. Aprenda sobretudo a detectar as calorias escondidas nos alimentos pré-cozinhados ou processados industrialmente(muitas vezes sob a forma de gorduras invisíveis).
  • Coma a cada três a quatro horas: comendo várias vezes ao dia não tem demasiada fome quando chega à refeição seguinte. Coma porções suficientes para se sentir saciado. Use o seguinte truque: comece as refeições principais com uma sopa de legumes, sem batata. Para além de conter água, muitas vitaminas e sais minerais, ajuda a saciar a sensação de fome. Isto evita a ansiedade que certas dietas de emagrecimento podem causar.
  • Mantenha uma actividade física regular: escolha uma actividade que lhe dê prazer e inclua-a na sua rotina, de preferência diária. A regularidade é importante. Sempre que possível, ande a pé nas suas deslocações e privilegie o contacto com a natureza com pequenos passeios ou caminhadas ao ar livre.
  • Emagrecer e manter um peso saudável: muitas pessoas conseguem perder peso em tempo recorde. No entanto, o mais comum é que estas “dietas relâmpago” resultem, pouco tempo depois, no inverso: a recuperação do peso, acompanhada, frequentemente, de um aumento superior ao peso original. Se tem excesso de peso, procure ser acompanhado por um médico ou nutricionista e estabeleça metas razoáveis para a sua dieta .Tão importante como emagrecer é manter um peso saudável ao longo do tempo.