Eduardo Beauté morreu este sábado, 7 de setembro, em casa. Foi encontrado no mesmo dia em cima da cama, apenas de boxers, com uma coloração negra no pescoço. Dado o seu historial de depressão, do qual falou publicamente, rapidamente se supôs que o cabeleireiro teria tirado a sua própria vida.

Esta terça-feira, 10 de setembro, o “Correio da Manhã” divulgou que a causa de morte não teria sido suicídio mas sim uma embolia cerebral. O cabeleireiro dos famosos morreu então de causas naturais.

Mas o que é uma embolia cerebral? Existem fatores de risco? Quais são os sintomas a que devemos prestar atenção? Existem grupos mais propensos a sofrer este tipo de embolia?

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Mas comecemos por perceber em primeiro lugar o que é esta doença. Uma embolia cerebral é um tipo de acidente vascular cerebral que, neste caso em particular, dá-se quando um êmbolo (corpo estranho) viaja até ao cérebro parando a circulação sanguínea nessa zona.

Segundo Isabel Henrique, médica neurologista do hospital Lusíadas em Lisboa, existem várias origens para a formação deste êmbolo, sendo uma delas o crescimento de uma placa nas artérias. “Na parede da artéria pode ter crescido alguma coisa, uma placa por exemplo, que acaba por crescer e desprender-se”, viajando assim pela corrente sanguínea. Existe também a hipótese de o êmbolo ter sido formado no coração tendo viajado depois pelo sangue.

No caso de Eduardo Beauté, este êmbolo viajou até ao cérebro, mas é possível que viaje até aos pulmões, pernas e outros órgãos – formando outros tipos de embolia.

“O cérebro é completamente dependente da circulação sanguínea para o seu funcionamento. Toda a energia consumida pelo cérebro vem essencialmente do sangue, por isso quando deixa de chegar sangue ao cérebro, imediatamente as zonas que são irrigadas por essa artéria deixam de funcionar”, explica Isabel Henrique.

Isabel Henrique é neurologista no Hospital Lusíadas Lisboa

No caso de uma embolia cerebral, e se o êmbolo for de dimensões consideráveis, acontece que o cérebro incha rapidamente. Mais do que morrer com uma embolia no cérebro – ou seja, com algo a fazer um efeito rolha num vaso sanguíneo –, os doentes morrem por uma rápida inflamação no cérebro, que faz com que este inche rapidamente.

Existem várias causas para as embolias. Uma delas, ainda que não esteja diretamente relacionada, é a hipertensão. "A hipertensão provoca desordem em muitos órgãos e esse defeito altera uma das câmaras do coração”, alerta a médica neurologista. “Ao dilatar a aurícula esquerda podem haver alterações que propiciam o início dos êmbolos. Ou seja, a hipertensão em si não é uma causa, são os efeitos que ela faz no coração”.

Outra causa, e esta mais frequente, são as arritmias cardíacas. “A partir de certa idade é frequente aparecerem arritmias assintomáticas, em que as pessoas não sentem nada”, diz. As arritmias podem formar os tais êmbolos que depois andam livremente pelo sangue. O risco de as ter aumenta consideravelmente com a idade, por isso as pessoas idosas são aquelas que têm mais probabilidade de vir a desenvolver esta doença. Apesar disso, "o risco pode ser diminuído se os doentes estiverem com medicação".

De acordo com a neurologista Isabel Henrique, existem êmbolos de várias dimensões e, por isso, existem alguns que se podem ir desfazendo devido à pressão do sangue. “O êmbolo pode tornar-se cada vez mais pequeno pela pressão do sangue que tem atrás. Até pode desfazer-se”, explica. No entanto, o tempo que demoram a desfazer-se é crucial para a vida do doente.

“Se demorar muito tempo, e mesmo que se volte a pôr sangue nessas artérias, elas já não voltam a funcionar”. Por isso, a rápida intervenção é decisiva.

Nem sempre uma embolia cerebral leva à morte

No caso do cabeleireiro, a embolia cerebral revelou-se fatal, mas existem casos em que é possível salvar o doente. “Depende sempre da extensão”, explica a neurologista. “E o tratamento tem de ser feito rapidamente”. Uma das coisas que os médicos tentam fazer é irrigar os vasos sanguíneos que ficaram sem sangue, mas para isto a rapidez é urgente. “Caso não seja feito rapidamente, o edema pode ficar maior e o cérebro pode inflamar. Isto prejudica o doente”.

Por isso, identificar os sintomas deve ser a principal preocupação. A neurologista explica que eles podem variar conforme a localização do êmbolo, mas que normalmente a dormência de um membro do corpo pode indicar o início de uma embolia. A alteração da visão pode ser outro sintoma a ter em consideração. Mas existem outros.

“Existem três sinais de alerta que normalmente dizemos aos pacientes: alteração da linguagem, perder a força num braço ou ter a boca para o lado”, alerta. No caso de sentir algum destes sintomas deve rapidamente ligar para o 112, que o deverá encaminhar para a Via Verde do AVC – que permite verificar se o doente está a sofrer de um acidente vascular cerebral.

“É essencial que isto seja feito nas primeiras horas depois do início dos sintomas”, volta a ressalvar a neurologista.