Vivemos inevitavelmente numa realidade que nos obriga a passar várias horas do nosso dia agarrados a dispositivos eletrónicos já que é através deles que trabalhamos, comunicamos e até aprendemos. Com o confinamento, esta realidade intensificou-se e são cada vez mais as horas seguidas que passamos em frente a um computador numa postura que nem sempre é a melhor.

Contudo, esta é uma realidade que afeta progressivamente as camadas mais jovens que, desde cedo, se têm vindo a habituar a passar o dia a olhar para um ecrã. Segundo António Gaspar, fisioterapeuta e CEO da clínica António Gaspar, esta tendência tem vindo a ter um grande impacto na saúde corporal.

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"Parte do nosso dia é passado na mesma postura, e quando estas são mantidas por períodos de tempo prolongados podem resultar em dores cervicais, da coluna em geral e muitas vezes também dores de cabeça, sobretudo em crianças e jovens", explica o especialista à MAGG, referindo que, depois do confinamento, foram muitos as pessoas desta faixa etária que chegaram às suas consultas com problemas de coluna, várias dores e limitações em termos de qualidade de vida.

Mas há alguma forma de prevenir estes problemas? É verdade que uma boa cadeira pode sempre ajudar, mas António Gaspar explica que não há nenhuma postura absolutamente correta para quem está o dia todo em teletrabalho ou em telescola. "Qualquer postura mantida durante um longo período de tempo é prejudicial para a nossa coluna e não só. Penso que o mais importante é ter noção do que devemos fazer e ter algumas estratégias como, por exemplo, fazer pausas e ter horas programadas para isso. Quem está muito tempo sentado, ao fim de 30 ou 40 minutos deve levantar-se, mexer-se um bocadinho e até espreguiçar-se", aconselha o especialista.

Além disso, o "saber desligar nas pausas" é apontado por António Gaspar como algo essencial e que a maioria das pessoas não faz. "Muitas vezes vão comer e continuam com o telemóvel ou com o iPad, acabando por estar com posições incorretas onde as articulações continuam em stresse." No caso específico das crianças e adolescentes, frisa que esta promoção da pausa deve ser também incentivada pelos pais e, no âmbito escolar, pelos professores. "É preciso fazê-los parar e garantir que, em determinados períodos do dia, não há tecnologias."

O especialista afirma que, nas escolas, devia existir uma maior avaliação destes casos, visto que há crianças e jovens com mais tendência para determinado tipo de posturas corporais incorretas. "Penso que se não for feito nada a nível escolar, quando eles forem jovens adultos ou até mais velhos, irão ter uma tendência maior para problemas de coluna e posturais superior ao que seria normal. Se houvesse um rastreio nas escolas, com indicações mais profissionais ou precisas para o efeito, estaríamos a ter uma geração mais saudável, ao contrário do que estamos a fazer, que é fomentar uma menos saudável, neste caso concreto, em termos de problemas de coluna."

A importância do regresso às atividades físicas

Após longos períodos fechados em casa em que a única distração possível eram, para muitas crianças, os equipamentos tecnológicos, aos poucos começamos a desconfinar. Nesta fase, o especialista refere que é essencial que as camadas mais jovens, e não só, regressem às atividades desportivas.

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No caso de pessoas já diagnosticadas com lesões específicas, será, segundo António Gaspar, necessário fazer sempre uma avaliação correta pelo profissional de saúde, para que se perceba qual a atividade mais adequada. "Pilates clínicos ou outro tipo de exercícios muito orientados numa perspetiva de correção postural e de melhoria da coluna e da dor (se houver) terão de ser programas mais diferenciadores", refere.

No caso de não existir qualquer problema diagnosticado, o fisioterapeuta sugere a prática de natação como uma das melhores modalidades para ajudar nesse sentido, bem como a prática de outros desportos que "obriguem o corpo a mexer-se de uma forma geral".

António Gaspar frisa a importância do exercício tanto para a saúde física como mental das crianças, e refere que cabe aos adultos incentivar as boas práticas. "Penso que as crianças e os jovens se acomodaram mais com as suas novas tecnologias e com o seu sofá e, como tal, há que definir metas bem precisas para se movimentarem e para fazerem uma atividade diária" a título individual ou nas escolas, explica.

"Penso que as escolas estarão mais ou menos preparadas. De qualquer forma, temos todos de pensar um bocadinho, começar a colocar exercícios nos programas escolares e na educação física que possam compensar as más posturas que hoje temos todos tendência para adotar, e sensibilizar as crianças para esta temática tão importante para elas e para o seu futuro", remata o especialista.