Vivemos em caixinhas pequeninas, sem espaço para grandes cultivos. Mas há que saber aproveitar. Com uma pequena área e luz natural pode plantar as suas alfaces, espinafres, beterrabas, nabos ou até mesmo pimentos. Se lhe parecer muito complicado, pode optar por umas simples aromáticas ou plantas comestíveis.

Miguel Maria Brito e Isabel de Maria Mourão, filho e mãe, acabam de lançar o segundo livro dedicado ao tema. Depois de “Uma Horta em Casa”, lançam, editado pela Arte Plural, “A Minha Horta é Biológica”, onde estão descritos todos os passos, opções e regras para que possa cultivar os seus alimentos.

De forma sustentável e mais económica, afirmam que é “fácil cultivar alimentos saborosos, saudáveis e amigos do planeta — πara miúdos e graúdos”. Foi isso que a MAGG foi perceber, reunindo, junto do arquiteto paisagista, o passo a passo e algumas regras para que cultive, mesmo que num ambiente urbano, ou seja, dentro de casa.

O livro, editado pela Arte Plural, está à venda por 14,40€

1. O que plantar?

Aqui tudo depende do espaço. Mas suponhamos que tem apenas um parapeito de janela disponível: nesse caso pode plantar “flores comestíveis e aromáticas, alface, espinafre, nabo, nabiça, beterraba e até mesmo um pimento, que num recipiente mais pequeno pode crescer, ou uma pequena couve, alho francês ou cenoura.”

São plantas com raízes menos profundas, portanto é mais fácil. Ainda assim, para começar, Miguel deixa uma dica: além das aromáticas, começar pela nabiça, alface e espinafre.

2. E onde?

"Tudo começa a localização”: a sua pequena horta deve ficar perto de uma janela, próxima de luz solar. “As plantas precisam de horas de luz para crescerem. Quanto mais expostas ela estiverem, mais rápido vão crescer”, explica.

Numa casa que não tem muita luz solar, o melhor é apostar nas aromáticas e nas plantas comestíveis. “Como são perenes e ficam de ano para ano, vão ter um crescimento mais lento, mas vamos obtendo sempre partes da planta para o consumo.” Mas alface é uma exceção: tem um ciclo de vida mais curto e precisa de menos luz, logo, pode também ser uma boa opção.

Com as restantes hortaliças já é diferente. Demoram mais a crescer e precisam de mais luz. Mas, caso haja um terraço, a conversa já é outra, porque, à partida tem ter

3. Espaço e luz suficiente

Mas não basta o parapeito ou o terraço. São necessárias estruturas para colocar a planta ou a hortaliça. Segundo o arquiteto paisagista, pode utilizar um vaso, uma gaveta, ou “qualquer tipo de recipiente”, desde que tenha furos em baixo, que permitam drenar a água.” Caso contrário, é como os humanos — se o vaso retiver a água toda, as plantas morrem afogadas.

As aromáticas e plantas comestíveis podem estar em recipientes mais pequenos, porque se podem ir fazendo “podas frequentes." Por outro lado, “tudo o que tem folhas — excluindo a couve — deve estar num vaso com cerca de 30 centímetros. A abóbora e beringela e tomate [menos aconselháveis para casas pequenas] são plantas que precisam de vasos maiores ou de canteiros, com 50 centímetros de profundidade por causa da raiz.”

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4. A terra ou substrato

Já sabe que local da casa vai servir para criar a sua horta. Já tem vaso com furos para drenar. Próximo passo: a terra. Tem duas opções: ou compra e fertiliza-a (as plantas e hortaliças precisam de nutrientes específicos, tal como nós) ou compra um substrato, em que a terra já tem aquilo que é necessário para que o crescimento  seja saudável. “Neste caso, deve ler-se o rótulo e ver a quantidade de matéria orgânica. Se tiver 15% de matéria orgânica já está bastante fertilizado”, diz Miguel Maria Brito.

5. Semear (a semente) e plantar (a planta)

As sementes semeiam-se e as plantas plantam-se. É importante fazer a distinção. Aqui tem várias opções: semear uma semente no local definitivo, fazer uma sementeira em viveiro e depois, com a planta maior, transplantar para o sítio correto ou, por último e mais fácil, comprar a planta e plantar diretamente no local. É o mais fácil, explica Miguel, apesar de considerar mais “desafiantes” as outra opções.

Aqui é fundamental ter cuidados, nomeadamente com as distâncias. “As pequenas plantam-se mais próximas umas das outras. As maiores devem crescer com mais distância para não disputarem a luz, a cerca de 30 centímetros."

6. Cuidar

Uma fase determinante, com algumas regras que deverá seguir. À partida, em casa não terá pragas de lesmas ou caracóis, mas, com más práticas, é possível que as culturas adoeçam. Por exemplo: “Uma das práticas que devemos seguir é a de não molhar as folhas [no caso das plantas], porque podem aparecer fungos e, nesse caso, tem de se eliminar a folha doente."

O solo tem de se manter húmido. “Não deve estar seco, mas também não pode estar encharcado. As plantas morrem mais facilmente por excesso de água do que por falta dela. Por isso é que o vaso tem de ter um furo para estar a água em excesso. De outra fora ela afoga, porque as raízes não respiram, tal como nós.”

Segundo Miguel Brito, no início rega-se com menos água, mas mais frequentemente. Depois, aumenta-se a água, mas diminui-se a frequência. “O que importa é verificar o solo. Se estiver húmido, não é preciso regar. No início temos de estar mais atentos, mas quanto mais crescem mais resistentes se tornam à falta de água”, diz. “No caso das aromáticas, devem regar-se de três em três dias. E se tiver um vaso com prato, pode colocar-se a água aí porque, em princípio a terra vai absorvê-la.”

7. Colher

Aqui o processo depende daquilo que temos plantado. "Se é uma planta em que queremos obter a folha, temos de colhê-la antes de ela espigar. Até podemos ir colhendo por inteiro ou folha a folha, fazer uma colheita escalonada, que ajuda a prolongar o tempo de vida”, explica. “No caso das aromáticas, é ir podando, ir tirando à medida que se necessita. Elas ramificam, portanto se formos tirando ramos ou as partes superiores da planta, ela vai produzindo mais folhas e ramos.”

No caso dos hortícolas, à partida, estas terão dois ciclos de vida, num só ano. Portanto, depois de prontas a colher a primeira vez, é hora de repetir o processo. As aromáticas podem durar muitos anos, caso cuide bem delas.