Finalmente podemos dar a contagem decrescente como terminada, porque a segunda temporada de "And Just Like That" já foi lançada. A nova sequência de episódios da sequela de "O Sexo e a Cidade" chegou ao catálogo da HBO Max esta quinta-feira, 22 de junho, tendo sido disponibilizados dois episódios para os fãs matarem as saudades em dose dupla.

Ainda que, em tempos, tenham sido segredos que o elenco desejava guardar, já sabemos alguns dos presentes com que esta temporada vem de mãos dadas. Aidan Shaw, o segundo amor de Carrie Bradshaw, a quem Sarah Jessica Parker dá vida, está de volta para reacender a chama com a jornalista, mas não vai ser a única estrela da série original a picar o ponto nestes novos capítulos.

"And Just Like That" está quase aí. Saiba quando poderá ver a segunda temporada da sequela de "O Sexo e a Cidade"
"And Just Like That" está quase aí. Saiba quando poderá ver a segunda temporada da sequela de "O Sexo e a Cidade"
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É que nem Kim Catrall, responsável por interpretar uma das personagens favoritas dos fãs do franchise, Samantha Jones, conseguiu resistir a este regresso – mesmo que seja sol de pouca dura, como se costuma dizer, já que a atriz vai participar apenas numa cena. Os minutos de Samantha no ecrã vão retratar uma conversa telefónica com Carrie, uma vez que a atriz terá pedido para não se cruzar com nenhuma das estrelas do elenco ou com o produtor.

Mas nem só de personagens antigas se faz a festa neste universo recheado de glamour. Na primeira temporada da sequela, ficámos a conhecer novas personagens que entraram na vida do trio original, constituído por Carrie, Miranda (Cynthia Nixon) e Charlotte (Kristin Davis). Seema, interpretada por Sarita Choudhury, parece ter vindo ocupar o vazio que Samantha deixou na vida de Carrie e, no caso de Miranda, foi Nya Wallace, a professora de mestrado cuja pele é vestida por Karen Pittman, que se juntou ao seu círculo mais íntimo.

Foi precisamente com estas atrizes que a MAGG esteve à conversa, esta terça-feira, 13 de junho, numa conferência internacional. E ambas, que já eram fãs da série original, partilharam as suas experiências no decorrer desta jornada – e as suas opiniões em relação ao sucesso intemporal deste universo.

Apesar dos rumores, a amizade é real

Vamos diretos ao assunto. Desde 2004, aquando do fim da última temporada de "O Sexo e a Cidade", que se tem dito que o ambiente nas gravações não era o melhor. Graças a Kim Catrall, os fãs da série ficaram a saber que, apesar da inegável química no ecrã, aquilo que se passava nos bastidores não era assim tão amistoso.

Sendo que a atriz vai estar presente num dos episódios, a curiosidade sobre as relações conturbadas entre o elenco voltaram a dar que falar. E para Sarita Choudhury e Karen Pittman, a realidade é bem diferente daquela com que fomos surpreendidos há mais de duas décadas.

Isto porque ambas as atrizes reconhecem um sentimento de amizade entre os seus pares, nomeadamente no seio do trio original. E Karen Pittman descreve esse sentimento, que permeia esta produção, recorrendo a adjetivos bem ternurentos. "É genuína, sincera, gentil, amável e inclusiva", enfatiza a artista. 

"Se estivéssemos à briga, não vos ia contar", começou por brincar Sarita Choudhury, frisando que essa não é a realidade. Aliás, uma vez que vivem em Nova Iorque, todas as atrizes já se conheciam por se verem na rua, por verem os espetáculos umas das outras ou por, simplesmente, terem amigos em comum – e isso facilitou o processo.

"Há um sentimento no set de que já nos vimos a todas, por isso não há nada de novo, não somos uma novidade umas para as outras", esclareceu Sarita Choudhury. "Consigo perceber porque é que a série durou este tempo todo, por causa da amizade que elas têm. Elas são ótimas", rematou.

Mas não é só por isso que este universo sobrevive

25 anos, seis temporadas, dois filmes e uma sequela depois, a marca "O Sexo e a Cidade" continua viva e de boa saúde. Tendo em conta que o franchise já passou pelas mãos de pessoas de todas as idades, conquistando-as, é quase impossível não nos perguntarmos como é que se consegue esta proeza, além dos laços que unem o elenco.

Esta série trouxe personagens novas e esse é um dos aspetos que poderá ter adensado a curiosidade dos espectadores. Mas, de acordo com Karen Pittman, "o que faz de 'O Sexo e a Cidade' uma série intemporal é aquilo que não mudou". "Ou seja, o foco em temas como as amizades, o amor, o que é que significa ser uma mulher a explorar a sexualidade. Isso vai entreter sempre", frisou.

O facto de continuar a ser uma produção que reflete a vida em todas as suas formas e feitios faz com que os espectadores se identifiquem e queiram ver mais – especialmente quando a pedra basilar é o amor. "Acho que reflete a vida amorosa por causa dos erros que estamos a cometer enquanto personagens", começou por dizer Sarita Choudhury, acrescentando que "há um aspeto reconfortante nisso".

E nesta nova série, mais voltada para a quinta década de vida das personagens, não é exceção. "Quando estamos nos nossos cinquentas, estar em aplicações [de encontros] é complicado, porque não crescemos com isso", continuou. E a série lida com essa estranheza, porque o amor é tão antigo quanto a história, e estamos prontos para amar – mas ninguém te bate à porta e te diz como é que deves fazê-lo", explicou a atriz.

A representatividade é, mais do que nunca, a palavra de ordem

Para a altura, "O Sexo e a Cidade" foi uma produção revolucionária. A série abordou, de forma aberta, franca e desprovida de preconceitos, temas relacionados com a sexualidade feminina, relacionamentos, amizade e carreira destas quatro mulheres que viviam na cidade de Nova Iorque e que, com o tempo, quase que se tornaram amigas dos espectadores.

Há momentos em que as personagens amparam os fãs, fazendo-os refletir sobre determinados aspetos do quotidiano e obrigando-os a modificá-los para que não tenham de passar por experiências semelhantes. "O legado que fica é aquele sentimento de que 'estamos aqui para vocês'", confirmou Sarita Choudhury.

A par disto, foi uma série que apresentou, pela primeira vez, personagens femininas complexas e multifacetadas, já que as protagonistas tinham diferentes personalidades, ambições, e abordavam temas com que muitas pessoas poderiam identificar-se, incluindo questões sobre a carreira, a maternidade e o amor. Já as conversas sobre sexo, que incidiam sobre os desejos, experiências, orgasmos, contraceção e muitos outros temas considerados tabu, também quebraram barreiras. 

25 anos depois, "And Just Like That" mantém vivo esse legado. Contudo, de acordo com Karen Pittman, há ainda mais aspetos que contribuem para a manutenção do estatuto revolucionário: o facto de ser, cada vez mais, inclusiva e representativa do mundo em que vivemos, um efeito para o qual a sua personagem, Nya Wallace, contribui.

"Eu conheço pessoas, pessoalmente, que se parecem exatamente como a Nya. A roupa delas é fixe, atlética, étnica, e o cabelo é natural. Nós exploramos diferentes padrões de beleza, que são lindos e que são tão à moda de Nova Iorque", explicou a atriz. Mas nem só esta personagem contribui para estar na crista da onda culturalmente: "terem incluído uma personagem não-binária [Che Díaz, o atual par romântico de Miranda]" também pesa na equação.

"Uma das minhas grandes alegrias é ter mulheres a mandarem-me mensagens e a dizerem 'aquilo que representas na série é tão importante e bem-vindo'. E não são só mulheres negras, mas todas as mulheres que estão entusiasmadas por ver como é que a série se desenvolveu e se tornou mais inclusiva", acrescentou Karen Pittman.

Uma coisa é certa: quer estejamos a falar de "O Sexo e a Cidade" ou "And Just Like That", o cerne deste universo não muda. E por "ajudar as mulheres a explorarem-se a si mesmas", seja das formas mais profundas ou superficiais, fazendo-o de uma forma lúdica e cómica, é o que faz com que esta fonte não seque.