Chorámos quando, em 2005, passou na televisão o último episódio de "Sete Palmos de Terra". Ou quando nos disseram, em 2008, que a 15.ª temporada de "Serviço de Urgência" ia ser a última. E nem vamos falar do que aconteceu com "Os Sopranos", que aquele final deixou toda a gente num misto de frustração e deslumbramento de tão diferente que foi.
Mas todas estas produções tiveram finais fechados que concluíram, de forma coerente e inteligente, uma história que levou anos a construir. Por isso, e por muito bom que fosse ver um regresso de cada uma delas a acontecer, talvez não fizesse muito sentido.
Mas há outras séries que foram canceladas cedo demais, e que ainda hoje não se percebe com é que tal aconteceu. "Sense8" é talvez o exemplo mais claro em que, ao final de duas temporadas, a Netflix decidiu pôr um ponto final à história — numa altura em que tudo estava em aberto e não fazia sentido terminar. Em causa estavam as fracas audiências que impossibilitavam o retorno financeiro necessário para sustentar uma das maiores produções da plataforma de streaming até à data.
Depois de muita contestação, a empresa norte-americana voltou atrás e anunciou um último episódio de duas horas, com estreia marcada para 8 de junho, para alegria de muitos fãs.
"Arrested Development — De Mal a Pior", é também, nesse sentido, um caso de sucesso. Esteve em emissão na Fox entre 2003 e 2006 e, apesar de ter pouco público, conseguiu em apenas três anos conquistar o estatuto de culto um pouco por todo o mundo.
Em 2006, porém, foi cancelada mas nem isso fez parar a "série sempre em pé" — como é identificada aqui na MAGG — e em 2013 a Netflix comprou os direitos de maneira a conseguir produzir uma quarta temporada, estando uma quinta já anunciada para 29 de maio.
Mas há aqueles cancelamentos em que nem lágrimas de crocodilo fazem as estações e produtoras voltar atrás. Reunimos algumas das produções canceladas demasiado cedo que gostaríamos muito de voltar a ver.
"Rome"
A produção da HBO ficou conhecida pelo elenco de luxo e pela veracidade histórica com que retratava a transição da República de Roma para Império. Estreou em 2005 e muitas das personagens eram figuras históricas mas os protagonistas eram dois simples soldados que acabariam por se cruzar entre si devido a uma série de acontecimentos históricos um pouco por toda a região.
Apesar de ser uma das produções mais conhecidas da estação norte-americana, foi cancelada após duas temporadas devido à dificuldade em sustentar o custo de uma produção daquela envergadura — é que além de ser gravada em várias localizações, tinha ainda centenas de figurantes, adereços e cenários. Caso tivesse continuado, "Rome" poderia facilmente ter-se tornado em "A Guerra dos Tronos" daquela altura — com morte, sangue, guerra e História à mistura.
"Bloodline"
O original da Netflix estreou em 2015 e a sinopse não inspirava confiança. Os primeiros episódios pareciam lentos, enfadonhos e desinteressantes, mas foram necessários para dar lugar a um enredo cheio de mistério e reviravoltas que prometiam deixar o espectador colado ao sofá — um pouco à semelhança do que foi feito em "Breaking Bad" e, mais tarde, em "Ozark", outro original da plataforma de streaming.
Apesar disso, "Bloodline" não conseguiu cativar o mesmo público que tinha sido conquistado por outras produções semelhantes, como "House of Cards", "Narcos" ou "Orange is the New Black", e foi mesmo cancelada após uma terceira temporada, em 2017. A história teve um final digno mas não nos importaríamos se voltasse para mais uns quantos episódios.
"Chuck"
Ser fã de "Chuck" significou viver durante cinco anos com o coração nas mãos — é que a série da NBC esteve em risco de ser cancelada durante o tempo em que esteve em emissão, entre 2007 e 2012.
A série conta a história de Chuck Bartowski (Zachary Levi) um homem nerd e desajeitado que se torna espião depois de lhe ser implementado um chip de alta tecnologia no cérebro, que o faz ganhar força, agilidade e destreza.
A produção da NBC primou desde o início pela forma como misturava elementos de ação com comédia, e apesar de o final — transmitido em janeiro de 2012 — ter fechado de forma conclusiva a narrativa, muitos fãs queixaram-se de ter arruinado a história de amor entre as duas personagens principais.
"Deadwood"
O western da HBO ganhou oito prémios Emmy e um Globo de Ouro mas nem isso chegou para evitar o cancelamento. Em 2006, "Deadwood" foi descontinuada depois de se manter em emissão desde 2004 a 2006.
Aqui, a história passava-se em 1870 num acampamento no Dakota do Sul, e mostrava como uma cidade ia, aos poucos, sendo dominada pelo crime e pela corrupção dos cowboys que resolviam os problemas à lei da bala. A desilusão dos fãs correu mundo, em parte porque a narrativa nunca ficou concluída e as personagens nunca conheceram o desfecho que lhes estava destinado desde o início.
A HBO confirmou que estava a preparar um argumento para a realização de um filme mas até hoje pouco se sabe. Naqueles momentos em que a saudade bater forte e tiver vontade de ver um western da HBO, aposte em "Westworld". Tem robôs e outras coisas estranhas que dão que pensar.
"Marco Polo"
Este foi mais um original da Netflix a conhecer o carimbo de cancelamento em 2016. Depois de uma primeira temporada de sucesso, onde se contava a história do explorador italiano, "Marco Polo" chegou ao fim após duas temporadas. A notícia surgiu em forma de comunicado e agradecia o esforço dos atores, produtores e criadores da série.
Em causa estava, mais uma vez, o enorme custo financeiro que tornava inviável continuar a apostar numa produção deste tamanho. "Marco Polo" custou cerca de 82 milhões de euros e o entusiasmo da Netflix não foi correspondido pela crítica que, apesar de dar boas pontuações, temia pelo futuro de uma história que já acusava cansaço com o aproximar do final da primeira temporada.
"Hannibal"
A série da NBC veio provar que o papel de Hannibal Lecter não pertence exclusivamente a Anthony Hopkins ("O Silêncio dos Inocentes"). "Hannibal" estreou em 2013 e, enquanto thriller psicológico, contava a história de Will (Hugh Dancy) e Hannibal (Mads Mikkelsen) e a forma como estes se manipulavam mutuamente num jogo de brilhantismo mental.
Após três temporadas de sucesso e aclamadas pela crítica, a série foi mesmo cancelada devido à falta de confiança dos investidores em apostar numa quarta temporada. Desde então que o realizador, Bryan Fuller, já fez saber estar disponível para negociar com possíveis serviços de streaming que estejam interessados em comprar os direitos da série e produzir mais e novos episódios.
De momento, estão em cima da mesa serviços como a Netflix, a Amazon Video e a Hulu.
"Penny Dreadful"
A série que ficou conhecida por adaptar elementos do universo gótico ao mainstream. Em "Penny Dreadful" havia de tudo um pouco, desde vampiros a lobisomens. A narrativa baseava-se na criação de um universo alternativo em que as ruas de Londres na Época Vitoriana eram compostas de monstros e criaturas do oculto que colocavam entraves aos objetivos das personagens principais.
Apesar de o realizador, John Logan, ter afirmado estar satisfeito com a conclusão que deu à série, a verdade é que ainda ficou muito por explorar — prova disso é o facto de a história ter continuado nos livros de banda desenhada e que ainda hoje continuam a ser publicados.