Se não está a aguentar a espera pela terceira temporada de "Narcos" e não tem esperança nenhuma nos novos episódios de "La Casa de Papel", temos boas notícias: há uma nova série espanhola para ver e promete ser o vício de muita gente. Falamos de "Fariña", uma produção dramática que estreou na sexta-feira, 3 de agosto, na plataforma de streaming, e que mostra como o tráfico de cocaína começou a chegar à Europa através da Galiza.
A nova série é uma produção do grupo Atresmedia, o mesmo responsável por "La Casa de Papel", e passa-se na década de 80. Nesta altura, o setor da pesca sofreu drásticas alterações e endividou muitos dos pescadores que dependiam do seu trabalho para garantir que as famílias tinham comida na mesa ao final do dia.
Para assegurar a sobrevivência, grande parte deles recorreu ao contrabando de tabaco pelo mar que apenas era punível com uma multa simbólica — e que em nada impedia aquele tipo de atividade ilegal. Com o sucesso e influência que passaram a exercer na região, formaram uma aliança e tornaram-se nos senhores mais poderosos do estuário de Ría de Arousa.
Tudo muda, claro, quando surge a oportunidade de enriquecerem ainda mais através do tráfico de drogas pesadas, como cocaína ou haxixe, produzidas e transportadas pelos traficantes colombianos liderados por Pablo Escobar. Apesar de a organização criminosa de Galiza decidir não se envolver no tráfico de droga, por sujeitar todos os membros ao risco de prisão, Sito Minãnco (Javier Rey) não acede e estabelece contactos com alguns dos membros do cartel de Medellín, na Colômbia.
O "The New York Times" elogiou a produção espanhola e destacou como ponto forte o trabalho dos atores, dos produtores e dos guionistas que se souberem manter fieis à história original e ao livro escrito pelo jornalista espanhol Nacho Carretero. "Na Galiza, a crise no setor da pesca e a explosão do narcotráfico são os dois lados da mesma moeda e 'Fariña' retrata com sentido e interpretações de muito alto nível esse momento", lê-se na crítica do jornal.
Mas se não ficou surpreendido, a MAGG diz-lhe por que devia começar já a ver "Fariña", que chega agora à Netflix depois de ter estado na Antena 3, o canal espanhol que também transmitiu "La Casa de Papel".
A história e as personagens são reais
Esta é daquelas séries que por diversas vezes o vai fazer questionar se o que está a ver é mesmo real. Spoiler: é tudo real, aconteceu mesmo e está contado na perfeição. Com menos violência do que "Narcos", a série a que está a ser comparada pela crítica internacional, "Fariña" oferece um retrato fiel sobre o que foi o tráfico de droga na Galiza.
Tanto o é que algumas das figuras mais importantes da organização galega ficaram incomodadas com a forma como foram descritas na série através das suas personagens. Por exemplo, o verdadeiro Laureano Oubiña, um dos traficantes, diz que as cenas de sexo serviram como forma de difamação e tiveram como único propósito atacar o seu caráter. Já Manuel Charlin, chefe de uma das organizações mais influentes da região, revelou que não agredia com tanta regularidade os filhos como era mostrado na série.
Mas o mais curioso é que quando Sito Miñanco, a figura central da história, foi preso, em fevereiro, as autoridades reportaram que o traficante se encontrava na posse do guião da série. Ao jornal "El Español", a produtora diz que nenhum membro da equipa terá facultado o documento e que ainda hoje não conseguem perceber como terá tido acesso aos detalhes das gravações.
Todos os atores são incríveis — até os secundários
A série é dominada pelo sotaque galego e todas as personagens estão muito bem escritas e interpretadas. O protagonista é o carismático Javier Rey ("Sin Fin") que dá vida ao infame Sito Miñanco — mas a verdade é que se Sito desaparecesse, a série não ficaria a perder em nada.
Visto que toda a história acompanha Sito e a forma como as suas decisões afetam a sua família e os seus associados, seria pouco interessante se todo o elenco não fosse de qualidade.
Destacam-se os papéis de Carlos Blanco ("Voltar"), António Durán Morris ("Cela 211"), Manuel Lourenzo ("Mareas Vivas"), Monti Castiñeiras ("Conexão") e Tristán Ulloa ("De Olhos Abertos"). Juntos, incorporam a organização criminosa que é obrigada a fugir da Galiza para Portugal depois de as autoridades darem início a várias operações de captura. Assiste-se a uma perseguição semelhante à de Pablo Escobar, mas com menos sangue e caos pelo meio.
Os episódios são de 70 minutos mas nunca se tornam aborrecidos
Geralmente, séries longas equivalem a episódios aborrecidos, chatos e sem muito para contar. O mesmo não acontece com "Fariña", que tem uma história muito longa e complexa por trás — é essa mesma complexidade que faz com que o espectador nunca perca o interesse. É que quando parece que a narrativa está a abrandar, surge uma outra reviravolta ou acontecimento incrível que deixa o coração a mil.
Em apenas dez episódios há ritmo, ação, intriga política, crime e violência. Tudo misturado para garantir horas de entretenimento puro e duro, sem nunca aligeirar o tom ou os contornos de uma época de dificuldades e de transgressões.
As cenas de perseguição no mar envergonham produções milionárias de Hollywood
Já que toda a história gira em redor do tráfico de tabaco e droga pelo mar, há muitas cenas que envolvem perseguições com barcos velozes e muitos disparos. Para uma produção espanhola com muito menos orçamento que outras norte-americanas, as cenas de ação são sempre dinâmicas e de cortar a respiração — e nunca fica a ideia de que foram feitas a despachar.
Ao juntar isso com a banda sonora galega de grande qualidade, o ambiente criado é quase irrespirável e faz-nos sentir como se estivéssemos a viver os mesmos receios e os mesmos problemas que as personagens da série. O sucesso das canções é tal que a produtora juntou-as numa playlist personalizada no Spotify, uma plataforma digital de música em streaming.