"Não há mal-entendidos. O que está para trás, está para trás". É neste registo, que deambula entre o estóico e o quase institucional, que Lourenço Ortigão, 32 anos, fala da saída da TVI, o canal que abandonou no início de julho depois de 12 anos de ligação e no qual se estreou com "Morangos Com Açúcar", e que agora trocou pela SIC, tal como foi anunciado esta segunda-feira, 9 de agosto, aos jornalistas por Daniel Oliveira, diretor-geral de Entretenimento do grupo Impresa.
Ainda que o fim da ligação com a TVI tenha sido oficializado apenas em julho, os rumores já duravam há vários meses e intensificaram-se à medida que o ator não foi sendo integrado nos novos projetos de ficção do canal, cuja última participação aconteceu entre maio de 2019 e fevereiro de 2020, na novela "A Prisioneira".
Depois disso, seguiram-se participações em "Até Que a Vida Nos Separe" e "A Rainha e a Bastarda", da RTP, e a passagem pelo "All Together Now", como jurado convidado com programa de talentos da TVI.
Apesar disso, e depois de confrontado pelos jornalistas sobre se a mudança decorria de uma alegada falta de visibilidade que sentia na TVI, o ator é assertivo, preferindo desvalorizar essa ideia. "A TVI dava-me visibilidade, mas estive 12 anos no canal e senti que precisava de um desafio diferente. Qualquer empregado que esteja no mercado de trabalho, muda de empresa porque precisa de mudar. A mudança é necessária", refere.
"Não houve mal-entendidos. O que está para trás, está para trás"
Essa mudança, explica, decorre de uma "vontade de diversificar, mudar e crescer" enquanto ator.
"Manifestei interesse e falei publicamente sobre isso: de querer fazer projetos diferentes, que abrissem portas [nacional e internacionalmente], mas que me obrigassem sempre a ser desafiado. Desde a primeira conversa que tivemos, senti que o Daniel [Oliveira] partilha da mesma visão. Por isso, o que está para trás, está para trás. Agora quero olhar para o futuro."
E ainda que o objetivo seja olhar para o que está a caminho — e são várias coisas —, o ator diz-se de "consciência absolutamente tranquila" ao analisar, em retrospetiva, os 12 anos em que representou a TVI enquanto uma das suas figuras da ficção.
"Sei que, no caminho que fiz para chegar até ao dia de hoje [segunda-feira, 9, quando foi oficializada a sua chegada à SIC], dei sempre o meu melhor com o máximo de profissionalismo e empenho. É esse sentimento de leveza que trago. Não houve mal-entendidos. O que está para trás, está para trás. A minha saída da TVI não tem nada que ver com a entrada na SIC", reforça.
Até porque, explica, no momento em que decide sair do canal que representava há 12 anos, fê-lo sem quaisquer perspetivas futuras — ou seja, sem um contrato com a SIC no horizonte. Talvez por isso, acrescente, seja errado olhar para esta mudança como uma transição, já que não foi planeada.
Lourenço Ortigão saiu da TVI com o objetivo de procurar "o melhor" para si. Foi isso mesmo que Ortigão começou por dizer na manhã desta segunda-feira, depois de apresentado por Daniel Oliveira aos jornalistas: que queria abraçar novos formatos e sair da sua zona de conforto. É que, apesar de 12 anos de carreira, sente que "ainda está no início" e que há muito por fazer.
"Senti que, naquela altura, ia libertar-me para refazer a minha cabeça e perceber o meu valor. Quando estamos na nossa zona de conforto, não percebemos o nosso real valor. Precisava de ter a coragem de me libertar para procurar um futuro que acreditava ser mais adequado para mim".
Quando o fez, percebeu que o mercado estava atento.
"Sabia que mais tarde ou mais cedo iríamos ter a oportunidade de trabalhar juntos"
Lourenço Ortigão e Daniel Oliveira estiveram "sempre em contacto", segundo revela o ator. "Sabia que mais tarde ou mais cedo iríamos ter oportunidade de trabalhar juntos. Já tinha dito, aliás, ao Daniel que haveríamos de o fazer", por isso, Ortigão fala numa mudança que "podia ter acontecido mais cedo", mas que acontece agora "no momento e na altura certa".
Entre o momento em que lhe foi feita uma proposta por parte da SIC e a aceitação, deverá ter passado muito pouco tempo, tal como explica o ator em declarações aos jornalistas.
"Quando tivermos uma conversa, em que falámos de projetos e de ideias, deu para perceber a química e a forma de pensar que temos em conjunto. O Daniel trouxe muito à SIC e à ficção em Portugal, ao conseguir arriscar com projetos diferentes e arrojados", diz.
É por se rever nessa ideia de fazer televisão de forma diferente que Lourenço Ortigão assume querer ser uma "mais valia para o presente e futuro da SIC, neste período de renovação e inovação", assumindo que tanto o ator como Oliveira estão sintonizados "na mesma linha" no que toca à maneira de olhar para a ficção e para o entretenimento do canal.
No que toca aos projetos com os quais Lourenço Ortigão estará envolvido, Daniel Oliveira reforça que "as apostas em que a SIC tem feito no universo da ficção, quer na generalista ou na OPTO, abrem uma série de oportunidades para quem está no canal", na medida em que permite aos profissionais diversificar os moldes em que trabalham.
Das séries às novelas, os projetos que Lourenço Ortigão vai ter
Isto significa que, "além de novelas, os atores podem experimentar outros géneros como filmes e séries". E será isso mesmo que Ortigão fará, espera-se. Nesta fase, o diretor geral de Entretenimento do grupo Imprensa limita-se a enumerar apenas o que "já está calendarizado" — ou seja, a terceira temporada de "O Clube", que o ator "começará a gravar já esta semana".
No novo capítulo da série exclusiva da OPTO, Lourenço Ortigão vai assumir o papel de co-protagonista, dando vida ao novo dono do clube noturno mais exclusivo de Lisboa, uma figura que o próprio diz ser de "caráter duvidoso". Desta nova temporada, com estreia prevista ainda para 2021, farão parte nomes como Jessica Athayde, Ana Marta Ferreira, Maria Dominguez e Beatriz Godinho.
Até ao final do ano, será conhecido mais um projeto na ficção com a participação de Lourenço Ortigão. Deverá ser uma novela, embora Daniel Oliveira não adiante muito mais, preferindo guardar os anúncios para mais tarde. Sabe-se que a estreia acontecerá apenas em 2022.
"Quando falamos em ficção, não estamos só a falar de novelas, que vão continuar a existir na SIC. Temos toda uma linha paralela em que há vários projetos a decorrer e em que os atores que estão connosco também podem entrar e diversificar", reforça Daniel Olivera.
Além disso, Oliveira diz que "formatos como os Globos de Ouro" também estão contemplados na lista daqueles que o ator poderá participar, embora recuse anunciar mais do que aquilo que, neste momento, faz sentido à SIC comunicar.
Quanto ao contrato de exclusividade com o canal, o diretor geral recusa-se a especificar a longevidade ou o quão exclusivo será. Assegura, no entanto, que o ator tem um modelo contratual que permitirá a participação em formatos internacionais, com a SIC a garantir condições não só para que isso aconteça, mas para que também o próprio canal possa complementar a participação de Lourenço Ortigão em qualquer que seja o projeto.
"Acreditamos que a SIC pode ser um espaço em que o Lourenço consiga conjugar estas duas vertentes: a nacional e internacional. Mas, acima de tudo, a de cimentar a sua posição enquanto profissional. É uma relação que se inicia e que tem um prazo alargado. Temos abertura e uma elasticidade pensada para gerir os projetos em função daquilo que for acontecendo em determinado momento", conclui Oliveira.