Este domingo, 4 de julho, Maria Cerqueira Gomes estreia-se na apresentação de um reality show. A apresentadora, que trocou o Porto Canal pela TVI em 2018, fala sobre a dinâmica de "O Amor Acontece", as surpresas que os telespectadores podem esperar e de como, juntamente com Pedro Teixeira, já se emocionou com os participantes do programa.
Aos 38 anos, a apresentadora portuense sente que, depois de uma fase atribulada, aquando a sua chegada à estação de Queluz de Baixo, já encontrou o seu lugar no canal. Elogia o empenho de Ruben Rua, com quem coapresenta o formato das tardes de sábado "Em Família" e revela como lidou com as críticas de que a filha, Francisca, foi alvo, quando foi escolhida para integrar o elenco da novela "Festa é Festa".
O que é que nos pode revelar sobre “O Amor Acontece”?
É muito engraçado fazer parte de um projeto que ainda não foi feito em Portugal e que temos de adaptar à nossa realidade. É tudo uma descoberta e isso tem sido feito ao longo destas últimas semanas. Acaba por ser um bocado difícil de explicar porque as pessoas nunca viram. Estão sempre a perguntar ‘ah, mas há final?’. Não há final porque os participantes mudam todas as semanas. Tem sido uma descoberta. É impressionante como aquelas pessoas criam histórias, se descobrem, não só à pessoa que têm à frente mas a elas mesmas, só em quatro dias. Tem sido muito bom perceber que há pessoas tão diferentes e que querem participar neste formato.
Diferentes em que sentido?
As pessoas associam muito os reality shows a um certo tipo de pessoas. E os nossos participantes são completamente distintos. Temos pessoas de 75 anos, temos pessoas que, à primeira vista, ninguém as imaginava num reality. O facto de ser um reality mais curto incentiva as pessoas que têm as suas vidas e que pensam 'posso tirar 5 dias da minha vida para participar e encontrar o amor'. Porque o amor merece. Isso tem sido muito curioso. Eu e o Pedro temos conhecido pessoas inacreditáveis. O casting tem sido muito bom e temo-nos divertido muito. Temos percebido que as coisas podem, de facto, acontecer, se o match for bem feito. Eu nunca tinha trabalhado com a Shine [Iberia, produtora do formato] e tem sido uma ótima experiência.
Houve algum momento em que se tenham emocionado?
Sim! O programa é feito de emoções e eu já me emocionei bastante, o Pedro também. Já nos surpreendemos muito, já estivemos de lágrimas nos olhos, já nos rimos à gargalhada com muitas coisas que se passam ali. Na sexta-feira, saí do programa e disse assim 'eu via este programa e não precisava sequer de editar'. Porque é uma montanha-russa de emoções. Neste programa, claro que os apresentadores têm o seu papel mas isto vive muito do casting que está a ser muito bem feito pela Shine e pela TVI.
Estes dating shows, apesar de terem como premissa o amor, vivem muito do conflito. Em que medida é que "O Amor Acontece" tem uma dinâmica diferente?
O programa tem tudo. Tem o conflito mas não é esse o cerne, a base. Este programa acaba por ser curioso porque as pessoas chegam ao fim da experiência de quatro dias com um conhecimento delas mesmas muito superior ao com que entraram. Elas entram com a ideia de encontrar o amor, têm o estereótipo de pessoa que querem, têm também uma ideia daquilo que elas próprias são e, depois, chegam ao fim e aquilo acaba por ser um desafio.
Elas idealizam um homem de determinada maneira e depois pensam 'porque é que eu quero um homem desta altura, com estas características quando eu tenho isso lá fora e nunca funcionou? Se calhar tenho de dar uma segunda ou terceira oportunidade'. Que dão, neste programa, porque estão ali e decidem enfrentar os medos, quase. O público vai acabar por se identificar muito com isso.
O envolvimento entre os participantes tem sido comedido ou já houve alguns que foram ‘com tudo’, usando assim uma expressão mais leve?
Com tudo ninguém foi até agora, mas tudo é possível (risos). Porque todas as semanas é diferente. Tem sido muito bom chegar ao fim e ouvir casais a dizer ‘nunca imaginei’. Isso é muito bom.
Tendo em conta que a experiência de cada casal dura quatro dias, qual vai ser a dinâmica das galas de domingo?
São quatro casas, cada uma com um casal diferente. No domingo, é uma retrospetiva daquilo que foi a semana e, depois, uma reunião em que temos a oportunidade de rever algumas imagens. Eles têm acesso ao telemóvel, e vão mandando umas mensagens... Há também o confronto com o que se passou durante a semana. Depois, há a decisão final, se o amor acontece, se vai continuar a rolar ou não. Mas isto vive muito do que foi a semana. São quatro casais que nunca se viram e que estão ali também pela primeira vez a contar-nos a experiência. O que acontece ao domingo é o culminar da experiência e uma retrospetiva da semana.
Estão nervosos em relação às galas? Tanto a Maria como o Pedro já conduziram galas de domingo, tanto em "A Tua Cara Não me É Estranha" como em "Dança com as Estrelas", mas este programa tem uma dinâmica diferente, sobre emoções.
Acho que estamos sempre ansiosos. Acho que é exatamente isso, são emoções e todos nós já passámos por algumas daquelas coisas e sentimos aquilo. Acaba por ser muito mais natural do que, por exemplo… eu fiz "A Tua Cara Não me é Estranha", em que tinha a oportunidade de falar sobre música e eu não percebia nada de música, não é? Aqui eu percebo, eu sei o que é que aquela mulher ou aquele homem estão a tentar dizer ou estão a sentir. Acaba por ser natural, de bom senso e sensibilidade. Tem sido muito bom trabalhar com o Pedro. Ele tem uma energia muito positiva e temo-nos dado muito bem.
"O Ruben [Rua] é um trabalhador nato, é impressionante. Ele é a verdadeira 'cabeça' do programa"
Ao fim de quase três anos na TVI [Maria Cerqueira Gomes foi apresentada em novembro de 2018], sente que agora, com os projetos que está a fazer, já encontrou o seu lugar no canal?
Acima de tudo, a televisão é muito ingrata, no sentido em que o tempo conta muito. E eu, no meio disto tudo, como todo o ser humano, precisei de tempo para me adaptar a esta realidade. Agora sim, acho que as pessoas já me conhecem. Acho que as pessoas já sabem como eu verdadeiramente sou porque já estou em casa. E eu, estando em casa, sou eu. Eu precisei de tempo e, por sorte, por força das circunstâncias, por destino, por… não sei… eu consegui ter esse tempo, aqui e ali, até estar no meu ponto de rebuçado.
Neste momento, estou a fazer o que mais gosto, nas circunstâncias que eu sempre idealizei… até tenho medo de dizer isto! Não posso pedir mais do que tenho. Estou bem, estou a fazer três programas completamente diferentes uns dos outros, em que me realizo de maneiras diferentes. E tenho a sorte de o público já me conhecer. Eu precisei desse tempo, o público foi-me dando esse tempo e a TVI, todas as direções pelas quais já passei, também me foram dando esse tempo e eu agora sinto-me verdadeiramente confortável em todas as minhas funções. Este meu conforto advém do facto de eu sentir que as pessoas já sabem com o que é que podem contar quando eu estou no ecrã.
Não sei se houve, ao longo destes últimos anos, alguém que tenha estado numa posição tão ingrata como a Maria esteve: teve de substituir duplamente Cristina Ferreira, no “Você na TV!” e quando apresentou "A Tua Cara Não é Estranha". Depois houve também o regresso de Cristina à TVI… houve algum momento tão avassalador que a tivesse feito questionar a sua escolha?
Não. Houve sempre, principalmente no início, um lado muito pesado e negativo, mas que, na balança, o saldo é positivo. O que eu sinto é que, ironia do destino ou não, eu só consegui ser eu, em termos de espaço, ecrã e forma de estar em televisão, só conseguir ter esse à vontade quando a pessoa que eu fui substituir veio para minha diretora.
Não sei se é porque acreditamos na mesma televisão, ou na mesma forma de estar em televisão, muito natural e quase uma extensão do que é a nossa casa. Eu acredito piamente que estou do outro lado mas que sou uma extensão da casa das pessoas. Acredito muito na naturalidade em televisão, numa forma muito descontraída… Só consegui sentir esse à vontade para ser eu e fazer determinadas coisas com esta direção porque sei que pensa televisão da mesma maneira que eu.
As anteriores não pensavam?
Se calhar pensavam, eu é que precisei de tempo para me ir sentindo em casa. Acho que, se entrasse na TVI com a postura que tenho agora, tão natural, se calhar as pessoas não iam entender, iam achar que eu estava a tentar ser uma pessoa que nao era eu. Houve este tempo. Precisei de respirar, o público precisou de me conhecer. Isso acabou por ser natural até ao ponto em que eu cheguei. E esse ponto, curiosamente, foi com esta direção mas que também me deu a oportunidade de eu estar muito tempo em antena.
Isso nota-se no “Em Família” [programa dos sábados à tarde, que coapresenta com Ruben Rua]. A Maria está descontraída, brincalhona e, algo que não víamos no “Você na TV!”, a Maria a tomar as rédeas da emissão. Este formato em particular foi o que lhe deu mais espaço para o público ver quem a Maria é?
É engraçado porque, no “Em Família”, eu e o Ruben temos papéis muito bem definidos, e que se foram definindo ao longo deste trabalho em conjunto. O Ruben tem o papel mais difícil. Ele é um trabalhador nato, é impressionante. Durante a semana ele não sai da TVI, ele tem reuniões de horas, faz o alinhamento, tenta os convidados até à exaustão, ele monta aquilo tudo.
Eu estou no Porto, tenho o "Conta-me" e, depois, à sexta, tenho as gravações de "O Amor Acontece". A minha vida acaba por ser mais complicada. Ele é a verdadeira ‘cabeça’ do programa. É ele que, com a equipa, monta aquilo tudo e eu chego quase no final e ponho em prática a ideia que ele tem em mente, que é muito clara. Eu consigo, com ele, ser eu mesma porque nos respeitamos. Acaba por ser uma fusão muito boa. Nós temos um entendimento muito claro sobre os nossos papéis. É como um casamento, é como qualquer relação entre duas pessoas. Foi muito bom chegarmos a este entendimento e acho que é por isso que funciona. E temos um espírito de equipa muito bom. Eu consigo chegar lá e fazer aquilo que eu acho que sei fazer melhor porque sou eu. E tem sido muito, este "Em Família". Não foi um formato criado para mim nem para o Ruben mas que nós soubemos agarrar.
É engraçado que tenha referido esse papel que Ruben Rua tem nos bastidores e na construção do programa porque ele também tem sido uma das pessoas que tem estado no centro das críticas, por vezes injustas. Quem não está tão atento à dinâmica da televisão não tem a perceção que um apresentador, muitas vezes, não é só um apresentador.
O formato — e eu já lhe disse isto muitas vezes — o resultado final do programa “Em Família” é o Ruben. É mesmo! Ele passa horas reunido com a equipa, ele faz quase de polícia mau, está em cima do acontecimento, e eu sou o polícia bom, que chego no final. Ele faz um trabalho que exige muito, e ele dá muito dele. E é por isso que isto funciona e que o resultado final do "Em Família" é este. E não é de todo um programa que se faça num dia. Tem uma identidade própria, que os telespectadores vão gostando e tem sido muito bom.
O "Conta-me" tem um registo diferente das entrevistas do daytime, mais curtas. Tem entrevistado pessoas de quem é realmente amiga, estou a lembrar-me do Miguel Vieira, por exemplo. É uma posição desconfortável?
Quanto mais amigo, mais difícil. Eu sei tudo sobre a vida do Miguel Vieira e eu tenho que dosear e perceber até onde a pessoa que está à minha frente quer ir, sendo que a amizade está sempre em primeiro lugar. É uma posição muito complicada porque tem que se medir, e ao milímetro.
Essa sensibilidade torna-se ainda maior quando se conhece as pessoas que estão à nossa frente. Sempre preferi entrevistar pessoas desconhecidas. Prefiro entrevistar o chamado comum mortal, em que não há qualquer tipo de barreiras na minha cabeça e na minha forma de ver a pessoa. Mas nem sempre é possível e o "Conta-me" tem sido um grande desafio nesse sentido: até agora, na preparação, e é um dilema que eu tenho, que é: como é que faço a minha pesquisa, o que é que quero ver e ouvir e aquilo que eu dispenso, porque não me quero condicionar.
"Acho que a minha filha não se deixa deslumbrar… para quê? É só uma profissão."
Acaba por ser um jogo engraçado, que faz com que em desenvolva um lado profissional que eu não desenvolvia tanto. Muitas das pessoas que passam por mim vão à televisão, dão entrevistas do género e eu não gosto de as ver. Acaba por ser um equilíbrio entre toda a informação que eu quero reter, sem querer ver o que o outro fez para não cair em tentação, até mesmo no meu subconsciente, de ir pelo mesmo sítio.
Isso tem feito com que a minha identidade a fazer o "Conta-me" seja completamente diferente daquilo que o Manel [Luís Goucha] faz. Temos formas de ser muito diferentes, temos formas de estar muito diferentes e formas de comunicar muito diferentes. De uma semana para a outra, há uma forma de fazer o programa díspar e que acaba por ser interessante também para o telespectador.
Ao longo destes quase três anos, tem tido sempre uma postura descontraída em relação ao que se tem escrito sobre si, ás críticas. O momento em que a sua filha foi posta na berlinda, por causa da participação na novela “Festa é Festa”, deixou-a triste ou magoada?
Claro! Aquele primeiro impacto foi mais difícil. Eu tendo sempre a ver as coisas pelo lado positivo. ainda bem que aconteceu logo no inicio porque tanto eu como ela tivemos a capacidade de perceber o que é que isto poderia vir a ser ou como é que poderia condicionar a minha ou a vida dela. E esse entendimento foi claro na primeira semana. Depois acalmou, as coisas seguiram o rumo. Eu também já percebi que o que é tema um dia depois deixa de ser e perde qualquer impacto. É saber viver neste circo, que não tem outro nome, e retirar o que de melhor ele tem.
Que conselhos lhe tem dado para ela se manter firme no caminho que quer seguir, independente do que seja?
Ela tem uma ideia muito clara da minha postura relativamente a isso. Mais do que conselhos, é ela perceber como é que isto acontece do meu lado também. Acho que esse é o melhor exemplo que eu lhe posso dar. Tem sido um bocadinho por aí. Vivendo cada dia, ela focando-se cada vez mais no trabalho dela e não se deixar deslumbrar. Mas eu acho que ela não se deixa deslumbrar… para quê? É só uma profissão.
“O Amor Acontece” durante mais ou menos dois meses. E depois em setembro?
Pelo que eu percebi, em setembro, há o “Big Brother” (risos). Não sei, isto é o dia a dia. Se há coisa que aprendi nestes três anos é a não fazer planos para o futuro e a aproveitar ao máximo a experiência. Queria ver se tirava umas férias mas não sei. Logo se verá. É acreditar no nosso trabalho e fazer sempre bem.