“A cena da morsa foi a coisa mais difícil que alguma vez testemunhei ou filmei em toda a minha carreira”. As palavras são de Sophie Lanfear, produtora de “O Nosso Planeta”, a nova série documental da Netflix. Em entrevista ao “The New York Times”, Sophie recorda que as imagens remontam ao outono de 2017, quando um grupo com cerca de 250 morsas chegou ao topo de um penhasco no estreito de Bering, que separa o Alasca da Rússia.
Regra geral, a gravidade não é inimiga destes animais. Se estivessem a caminhar na neve, certamente que conseguiriam chegar ao fundo da montanha em segurança. Só que não foi isso que aconteceu: nas imagens captadas pela equipa de “O Nosso Planeta”, de David Attenborough, vemos uma morsa a cair de um penhasco com 79 metros de altura. A queda foi fatal.
"Eu estava à espera que talvez as morsas caíssem, mas que no final ficassem bem. Não estava preparada para a escala de morte", continuou Sophie Lanfear. Na opinião dos produtores, o animal deve ter-se atirado porque ouviu outros morsas na água no fundo da montanha. Inconsciente de que iria morrer, acabou por cair para a morte.
"Esta é a triste realidade das alterações climáticas", disse Lanfear. "Elas estariam no gelo se pudessem."
É normal as morsas subirem para zonas tão elevadas?
A resposta é complicada. De acordo com a equipa do documentário, numa única praia encontraram 100 mil morsas acabadas de dar à costa. "Era como ouvir 100 mil Chewbaccas", disse Lanfear. Com pouco gelo para tanto animal, no início as morsas juntam-se por desespero. Só que uma debandada pode acontecer de um momento para o outro — nestas condições, as morsas são um perigo para elas mesmas.
É por isso que elas escalam — para encontrar um sítio longe das multidões. As morsas começam a espalhar-se pela praia, algumas começam a subir a encosta. Não é um percurso fácil, mas Anatoly Kochnev, um russo que estuda estes animais há 36 anos, acredita que, estando um pequeno grupo à frente, o resto segue o seu rasto. E tendo em conta que estamos numa zona com pouca chuva, os rastos de odores de anos anteriores podem levar as recém-chegadas à praia a aventurarem-se pelo caminho.
"A visão de uma morsa fora de água é péssima, mas elas podem sentir as outras lá em baixo", disse o realizador, David Attenborough, conforme cita o "The Atlantic". "Como elas ficam com fome, precisam de voltar para o mar. Em desespero, centenas caem de alturas que nunca deveriam ter escalado."
Há quem diga que estamos a ser manipulados
Alguns críticos questionaram a ligação feita pelos produtores do documentário entre as alterações climáticas e a morte das morsas. Na época em que as imagens foram registadas, foi relatado que centenas de morsas morreram em quedas fatais depois de terem fugido de ursos polares.
"Esta deve ser a coisa mais ridícula que já foi atribuída às alterações climáticas", escreveu Patrick Moore, ativista canadiano e ex-presidente da Greenpeace Canadá, no Twitter.
A zoóloga Susan Crockford disse ao "Telegraph" que a narrativa era de um "absurdo artificial". "Esta poderosa história é ficção e manipulação emocional no seu pior".