Pegámos no telefone e ligámos para o Miminhos da Fátima, em Viseu. Ninguém atendeu. Tentámos um número fixo. Estava desativado. "Será que o restaurante faliu?", pensámos. Não seria o primeiro a fechar depois da passagem do chef Ljubomir Stanisic. Fizemos uma quinta tentativa, e finalmente conseguimos que nos atendessem. Foi o que precisávamos para nos fazermos à estrada, a caminho de Viseu.
Encontrar o restaurante não foi fácil. Não está escondido mas a fachada que é exibida na Internet já não é a mesma. As mudanças começam aqui. Aquela que era a Casa das Francesinhas de Viseu deu lugar aos Miminhos da Fátima, com vidros com película preta semi-opaca e um reclame que em nada se parece com o anterior. Depois de algumas voltas, entrámos. Eram 13h30 e das as nove mesas só três estavam disponíveis, uma destas acabou por ser ocupada minutos depois.
Rapidamente um dos dois funcionários da sala nos entregou o menu com as sugestões do dia. Seis pratos de peixe e carne entre os quais estava a francesinha. Nem sempre foi assim, contou mais tarde a proprietária, mas esta foi uma das poucas alterações que o chef fez. Tornou o atendimento mais simples. "Com tantas opções e com pratos mais elaborados, acabávamos a demorar imenso no atendimento", e os clientes de almoço são quase todos trabalhadores com pouco tempo para esperar por um Cordon bleu com arroz de míscaros. Passaram a existir dois menus: o do almoço mais reduzido e o do jantar com todos os pratos.
Enquanto decidia o que queria, foram trazendo algumas entradas: um cesto com vários tipos de pão, azeitonas e enchidos. Mas a decisão já tinha sido tomada sem ver a ementa: se esta era conhecida como a casa das francesinhas era isso mesmo que íamos provar.
No espaço estavam grupos de quatro ou cinco pessoas e um casal. Com os pedidos quase todos respondidos, Fátima veio até à sala e foi falando com algumas das pessoas — a filha também por lá andava. Descobrimos mais tarde que os filhos vão ajudando nos tempos livres e que o marido é um dos funcionários da sala. O atendimento foi rápido e alguns minutos depois lá estava a francesinha acompanhada pelas batatas fritas.
Fátima está no restaurante há 5 anos. Quando chegou, o nome era "Casa das Francesinhas de Viseu". Pensou em mudar, mas não o fez. "Tive receio de que caso mudássemos o nome as pessoas já não viessem atrás das francesinhas”.
Nunca viu o negócio afundado em dívidas milionárias ou necessidade de fechar as portas e é por isso que não foi a proprietária a contactar o programa. Aqui começam as surpresas. Foi o "Pesadelo na Cozinha" quem entrou em contacto com Fátima. "Queriam fazer um programa em Viseu e estavam à procura de um restaurante. Os outros aqui da zona recusaram e por isso vieram até mim. Não tinha nada a perder".
O contacto com o chef Ljubomir foi tranquilo e pouco polémico face a alguns episódios. "Gostei do método de trabalho dele. Gostei dele, é uma pessoa muito sincera", disse. As mudanças foram quase nenhumas — umas aplicações de madeira no teto, papel de parede e um quadro a giz onde está escrito o nome do espaço.
"Na sala de baixo [dedicada a grupos maiores] não mexeram e na cozinha também não". A entrada, que estava completamente diferente, é literalmente só fachada. "Aquele reclame é autocolante temporário e temos de mandar fazer outro, até já devíamos ter tirado". Quanto à comida, o essencial neste processo, a proprietária admite que o chef apenas inseriu receitas e pratos.
O balanço parecia positivo mas quando perguntámos se voltariam a participar no programa, a reposta deixou dúvidas: "Ia pensar bem, é muito stressante para nós. A pressão de fazer tudo para o chef não é fácil". E as diferenças parecem não justificar todo o trabalho. Fátima não sente grandes mudanças. “Consultámos a faturação do ano passado e comparamos com a deste ano, e há diferenças. Pode ser pelo chef ter vindo e pela mudança ou foi simplesmente porque os clientes continuaram a vir.”