Sabia-se que Daniel Guerreiro, um dos concorrentes do "Big Brother 2020", tinha trabalho na área da restauração, que acabou por abandonar para se dedicar à hipnoterapia na qual é formador — bem como em linguagem corporal e desenvolvimento pessoal. O que não se sabia, pelo menos até à manhã deste sábado, 23 de maio, era de que forma é que Daniel lidou com o seu passado — que muitos adivinham ser difícil. E o concorrente confirmou isso mesmo.
Numa conversa aberta entre todos os concorrentes da casa, Daniel começou por explicar que aquilo em que a sua vida se tornou não teve que ver com o ambiente que se vivia em casa. "Vivi numa casa boa, numa vivenda. Uma vida de luxo puro. No entanto, as decisões que tomei foram por escolha própria e nunca por maus exemplos em casa, que não existiam", explicou aos colegas.
Segundo contou, Daniel começou por se tornar numa criança problemática a partir dos 10 anos. Considerava-se o "patinho feio da escola", aquele que era sempre assaltado pelos colegas e que sofria de bullying constante. "Era aquela pessoa que estava constantemente a tentar integrar-se no grupo e nunca conseguia", ficando sempre à margem.
E uma das formas que encontrou para se fazer destacar foi encontrar conforto na rebeldia. "Virei rebelde e juntei-me a um gangue, daí a tatuagem que tenho no corpo", contou a todos os colegas que, até então, não sabiam exatamente o que estava para vir. Daquele momento em diante, os problemas na vida do concorrente foram tornando-se cada vez mais frequentes até que saiu de casa, trocando a vida de luxo por uma de extrema pobreza e miséria.
"Quando terminei o 9.º ano de escolaridade, arranquei para o Algarve e fui trabalhar na restauração. Uma área muito ingrata porque trabalhava cerca de 15 horas por dia na qual, além do meu serviço, tinha de lavar, com esfregonas, o chão da calçada que estava solto. Duas semanas depois, chegava a ter bolhas nos pés e desmaiava no trabalho porque não descansava. Tinha meia-folga e almoçava todos os dias às 16 horas."
E continua: "Esta vida levou-me a morar num barracão onde vivia com baratas. Todos os dias acordava com baratas nos pés, no lavatório, na minha casa. Vivi num sítio em que havia dez beliches de um lado e dez do outro com o pior cheiro do mundo e com gajos a masturbar-se ao meu lado. Foi uma coisa horrenda."
Daniel chegou a dormir na rua, passou fome e contorceu-se de dores durante muitas noites numa altura em que a única comida que tinha era pão que fazia com farinha e água.
"Abdiquei da vida que tinha, de luxo, e juntei-me a pessoas ainda mais pobres do que eu e conheci uma realidade muito diferente da minha — pessoas que moravam em guetos. Vivi num meio onde muita gente morreu, onde havia conflitos com a polícia, roubos, assaltos, tráfico de drogas e conflitos entre gangues. Tudo isto em Portugal", contou, arrancando suspiros e lágrimas dos colegas.
Apesar de tudo, Daniel Guerreiro não quis revelar muitos pormenores da sua vida passada por temer que, quando saísse da casa, alguém se pudesse vingar. Mas recorda o primeiro acidente de carro, os 14 acidentes de mota e o momento em que, a certa noite, acordou trancado num quarto com "quatro gajos armados com tacos de basebol e um cão de raça pitbull". "Queriam matar-me", recorda.
A vida conflituosa e à margem da lei que manteve durante oito anos só mudou quando, aos 21 anos, procurou ajudou para sair do abismo em que a depressão o tinha remetido.
"Naquela altura, senti que tinha atingido o ponto máximo da depressão. Tinha ataques de pânico, desmaiava e tinha alucinações estando consciente. Lembro-me de um dia estar deitado na minha cama e ouvir, do outro lado da janela, alguém assobiar. Sabia que era o meu vizinho, mas havia uma voz na minha cabeça que me dizia que não me podia mexer porque, se o fizesse, o Godzilla comia-me a cabeça."
Até que decidiu tratar-se, embora os profissionais de saúde que procurou não tivessem sido capazes de o ajudar. Na primeira consulta de psicologia a que foi, a psicóloga disse que não o conseguiria ajudar e recomendou-lhe uma colega psiquiatra que seria capaz de dar seguimento ao caso. Depois de verbalizar tudo aquilo que sentia pela primeira vez, Daniel Guerreiro repetiu a experiência.
"Durante a consulta de psiquiatria, quanto mais eu falava mais a psiquiatra bufava e dizia-me que nada daquilo fazia sentido e que não me conseguiria ajudar. Receitou-me Xanax, alertando-me de que seria uma solução apenas a curto prazo, e deu-me o cartão de um colega para que eu pudesse falar com ele", explica. E Daniel rejeitou o Xanax e o cartão.
"Não aceitei nada e a verdade é que, a partir daquele momento, mudei a minha vida. Nunca mais tive crises e acredito que foi porque, pela primeira vez na minha vida, verbalizei tudo aquilo que me atormentava. Mudei muita coisa em mim: apaguei todas as músicas de rap do meu leitor de música, deixei de me dar com determinadas pessoas e disse a mim próprio que havia a possibilidade de mudança", concluiu.