Na segunda parte da entrevista à MAGG, o segundo classificado do "BB2020" fala abertamente de um dos temas que "levou" para dentro da casa mais vigiada do País, a saúde mental. Diogo Reffóios Cunha mostra-se também agradecido pelo apoio que recebeu dos seguidores nas redes sociais, conta pormenores dos bastidores do reality show e revela como está a relação com Ana Catharina.

Vocês aperceberam-se da hashtag #SensatosdoTwitter ainda dentro da casa. Quando é que teve noção de que o Twitter estava a funcionar?
O primeiro avião do Twitter não foi para nenhum dos denominados “Sensatos”. O meu primeiro pensamento foi "ok, o Brasil está a ver". Porque em Portugal o Twitter não era tão forte como está a ser hoje em dia. Mas o momento em que me "cai a ficha", foi com a hashtag #DiogoNãoCortesoCabelo, que é ridículo em termos de conteúdo, mas que toda a gente utilizou. Foi um tema que, todas as classes, e não só quem vê reality shows, clicaram para ver o que era o conteúdo e, se calhar, criaram um conteúdo em cima disso a gozar ou a comentar.

Ou seja, foi tema. Aí, arrepiei-me todo. Eu não acreditava. O que aconteceu foi que nós combinámos com o Big Brother que íamos fazer isto. Fomos ao confessionário, viemos e fomos para uma câmara. Daí o Big Brother estar atento ao Twitter. Foi esse o desafio. Foi a primeira e única vez em que pude desafiar o Big Brother e em que a ideia do desafio e do que íamos fazer foi aceite sem quaisquer problemas. Em três minutos, aquilo ficou trend. Eu não acreditei, ele disse: "Acredite, acredite! Até a sua mãe não quer!". A minha mãe ligou para a produção (risos)!

Tanto é que o Diogo ainda não cortou o cabelo.
Não! Agora só corto quando for para uma personagem. É a promessa que fiz a mim mesmo.

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Há uma nova produção a começar em setembro na TVI.
Me chama (risos)!

O que é que aconteceu quando pegou pela primeira vez no telemóvel?
O expectável, por isso é que se chama “Big Brother”. Muda vidas.

Não digo tanto em temos de números, mas das mensagens que recebeu.
O expectável. Por isso é que o “Big Brother” é o que é, muda vidas. Eu dei-me a conhecer a muita gente, a muita gente que me era próxima e isso é maravilhoso. Receber esse amor todo de quem já nos conhecia e a dizer que adoraram voltar a conhecer-me é incrível!

Numa das semanas em que foi líder, propôs doar 100% do orçamento ao Banco Alimentar Contra a Fome. Os seus fãs do Facebook angariaram 3000 euros em quatro dias.
É incrível! Eu estava muito à espera que isso acontecesse. O Cláudio Ramos também o fez e eu acredito que muitas outras famílias anonimamente também o fizeram. Quando eu entrei no programa, os restaurantes, cafés, tudo o que era negócio de restauração, estava na penúria. Não sabiam mesmo como sobreviver. Um restaurante ou um café empregam muita gente e, por norma, esses colaboradores vivem mês a mês. Não têm uma poupança. Quando entrei no programa não vi em lado nenhum que essas pessoas iam ter lay off. Ou seja, não iam ter o que comer.

Quando não tens o que comer, ou vais à Junta de Freguesia pedir comida, ou tens os Bancos Alimentares que te ajudam e te apoiam. Ou seja, era preciso alimentar o Banco Alimentar. Acredito que não só o Big Brother alimentou essa ideia, como o fez o Cláudio Ramos, como também esse grupo de Facebook se juntou e doou os 3000 euros. Eu acredito que há muitas pessoas que o fizeram também ou então, quando o Banco Alimentar fizer um novo peditório, a marca está também mais reforçada.

Sente que ter estas pessoas todas a - e a palavra é mesmo esta - adorarem-no, lhe coloca um peso em cima dos ombros? É que estas pessoas adoram-no incondicionalmente!
Quem é que me adora incondicionalmente? A minha mãe?

Não. Aquele grupo de fãs do Facebook…
Ah, a partir de setembro arranjam outra pessoa para adorar (risos)!

"Tudo o que eu faço e o que eu sou pode, de facto, servir de exemplo para alguém."

É um facto. Mas acredito que o Diogo não tem estado isolado do mundo e que tenha lido as coisas que as pessoas lhe disseram, seja publicamente ou por mensagem privada. Ver miúdos de 14, 15 anos, não só a acompanharem, mas a genuinamente gostarem e admirarem um concorrente de um reality show não é comum.
Eu tive essa noção quando estive no “Extra”. Nós tínhamos de usar máscara e eu não sabia. Eu pus a máscara no antebraço e uma amiga minha, da Casa do Impacto, liga-me e diz ‘Diogo, passa-se isto assim e assim’. Mandou-me uns links e explicou-me como é que se tem realmente de usar a máscara. Aí foi quando começo a perceber isso que dizes. Mas também é o efeito Twitter, é a novidade. As minhas sobrinhas mais teenagers, essa cena do tio… Eu sou muito simples no meu dia a dia.

Não uso fato nem gravata, não tenho um escritório para trabalhar. Sou diferente, sou autónomo. Há não sei quantos anos que sou assim e que gosto de o ser. Quero ter cada vez mais idade e parecer mais novo (risos)! Tudo o que eu faço e o que eu sou pode, de facto, servir de exemplo para alguém. E alguém que tem 13 anos facilmente pode encontrar alguém num programa de televisão… E o “Big Brother” estava muito bonito! As imagens estão muito bonitas. Aquelas câmaras são maravilhosas!

Se o reality show fosse na Venda do Pinheiro…
… morria! Para mim, estava lá uma semana.

Vocês, o programa em si e as audiências. Numa altura em que as pessoas estavam confinadas, ver aquele horizonte…
E não só o horizonte. Havia muitos planos em que podias estar no canto da piscina, percebias que as câmaras estavam em ti, as mais próximas. De repente, as câmaras desapareciam e sentias que a emissão não estava em ti. Porém, tens na outra ponta outra câmara, que não consegues perceber se está a mexer ou não, e o plano está em ti. E está com a mesma qualidade. É isso que faz a coisa bonita, de facto. Tu sentes quando a emissão está em ti e, muitas vezes, eu deixava de sentir. ‘Olha, perderam o interesse na conversa’. E eu continuava. Mudaram-me o chip! E isso é fixe. E deve ser fixe realizar uma coisa dessa forma.

Diogo Reffóios Cunha
Diogo Reffóios Cunha créditos: Luís Pereira / MAGG

"Um “Big Brother” é o Diogo em esteróides. Tudo o que tens de bom e mau vem ao de cima"

O Diogo não expôs a sua vida privada, mas falou sobre a questão da saúde mental.
Isso não é expor a minha vida privada.

Não. É falar de um problema, de uma questão da sua saúde…
Esse é que é o problema do problema, que não é um problema. Da mesma forma que nós falamos facilmente de saúde física, o tema "saúde mental" não tem que ser nenhum tabu, nenhum estigma nem nenhum problema.

Não digo que seja para si, mas é muito mais difícil para a maioria dos homens falarem sobre essas questões do que para uma mulher. Sentiu que falar sobre esse tema o poderia fragilizar?
Não. Acho que falar sobre saúde mental não fragiliza quem quer que seja. Só pode fortalecer. Assim como falar sobre saúde física também não te vai fragilizar.

É um estigma diferente.
Sim. Mas há muitos problemas de saúde física, deficiências, amputação… provocam muitos problemas e desafios no dia a dia e é difícil. Não é para ter pena. É um problema, é o que é, a vida é isto. Uma das coisas mais inclusivas que se pode ter é no trabalho remoto, em que uma pessoa com deficiência ou com dificuldades motoras pode ganhar o mesmo ordenado do que um CEO porque, ao ser trabalho remoto, as oportunidades são idênticas. Conversar sobre saúde mental é um estigma. Toda a gente tem vergonha de dizer que está triste, toda a gente tem mais disponibilidade para dizer que está feliz.

Mas eu, desde que convivi com pessoas que são bipolares, percebo que a saúde mental tem de ser muito desestigmatizada. Há uma doença muito grave na sociedade, e são muitos, que é a bipolaridade. Felizmente não sou bipolar, mas tenho amigos que são e, isso sim, é difícil e complicado de lidar. Eu digo sempre que ter uma depressão e ter uma dor de dentes são similares na medida em que as idas ao psicólogo e ao dentista são parecidas. Ou seja, não é quando o dente está quase a cair que se vai ao dentista. Já começamos a perceber que temos de ir antes, de três em três meses, destartarizações… Ou seja. Já tens, na tua saúde dentária, normalizado que não é só quando dói. E eu gostava que isso acontecesse também na saúde mental. Não é só quando tens uma depressão que tens de ir ao psicólogo. É bom que vás lá quinzenalmente, mensalmente, só para fazer a tal ‘destartarização’. Mas depois tens doentes bipolares que precisam de psiquiatras. E aí a doença bipolar já não é um estigma. É uma doença grave.

Quão importante foi ter apoio psicológico dentro da casa?
Fundamental! Eu tive a primeira consulta no “BBZoom”, tal como toda a gente, creio. A partir daí, o que se passa dentro das consultas fica lá. É um espaço onde és livre de dizer o que te apetecer. E, num programa de televisão em que estás, 14, 15 horas por dia numa emissão ativa, teres a possibilidade de, numa horinha, poderes estar em silêncio dentro de um confessionário, à conversa com a tua psicóloga, não só é fundamental para que tenhas esse momento para ti mesmo mas para qualquer ser humano. Ainda para mais um ser humano que está metido numa casa com 19 pessoas totalmente diferentes. Ao ponto de eu ter uma semana em que tive três consultas. Não estava a saber lidar.

O que é que era mais difícil de lidar?
O dia a dia. Não saber o que se passa na vida real, a vida real começar a ser só aquilo… Antes de entrar na casa, eu fazia sessões muito fortes com o meu psicólogo de sempre. Ele dizia-me: "Tu vais para a prisão!". Ele trabalhava com prisioneiros e dizia-me "a tua realidade vai ser aquilo. Só existe aquilo". No primeiro dia, quando falo com o Cláudio Ramos pela primeira vez, através do tablet, de repente sinto-me no Ready Player One [filme de ficção científica sobre realidade virtual], do Spielberg.

Eu assustei-me, de manhã. Se eu ficasse naquele registo mental, estava lixado. Pirava do miolo. Aí consegui sozinho voltar ao meu registo. Tinha tempo. Depois, com a minha psicóloga, todos os meus dramas eu guardava-os e ia trabalhá-los depois para perceber o que tinha acontecido. Há transformações mentais gigantescas. Tu sentes tudo. Um “Big Brother” é o Diogo em esteróides. São os concorrentes em esteróides. Tudo o que tens de bom e mau vem ao de cima. Metes a rolha no que tu quiseres mas, para algum lado, eles têm de ir. Se forem para o estômago, ficas com úlceras no estômago. Eu tenho muitas, então tenho de "tirar o tampão", o que faço muitas vezes numa sessão de psicologia. Que é o sítio certo para gerir o que estou a sentir.

Na primeira parte do programa, tive consultas de psicologia agendadas sempre para o final da semana porque os meus ataques de pânico aconteciam necessariamente no domingo à noite. Aquela cena de estares três horas em direto, é estranho! Eu tinha muitos ataques de pânico antes, após, durante, a dormir. Tinha as consultas à sexta-feira. Depois, quando comecei a saber controlar melhor as minhas emoções para o domingo, pedi para me alterarem a consulta para a terça-feira, o que me ajudava a preparar as semanas e os desafios semanais, que eram, volta não volta, para não dormir. No fim, o meu problema era não dormir e haver provas estúpidas que tinhas de estar acordado durante a noite.

São quase técnicas de tortura.
A primeira semana do “BB2020”, em que nós temos a privação do sono, em que não conhecemos rigorosamente ninguém, é tudo novo, é quando aquelas 20 pessoas são mesmo aquelas 20 pessoas. No fim, já estava cansado, já estavam só a fazer programa para haver conteúdo… Não há necessidade! A meu ver, há 300 mil coisas que se podem fazer. Mas é um canal que fecha às duas horas da manhã e volta às 10h. Tem que haver coisas. A semana da "bolacha" [prova em que os concorrentes tiveram de dançar non stop em cima de uma plataforma] é maravilhosa. É um remember de há 20 anos. Para mim, fazia as provas iguais ao primeiro “Big Brother”. Não inventava mais provas, eram aquelas. Podíamos ter feito máscaras para a COVID-19, mas a produção tinha de desinfetar tudo e mais um par de botas.

Diogo reffóios Cunha
Diogo reffóios Cunha créditos: Luís Pereira / MAGG

"Eu quero é ser feliz. Quero conhecer pessoas que me façam feliz e quero estar bem"

Como é que foi a sua semana de detox digital e com a Ana Catharina?
Foi maravilhosa! No meu canal de Youtube há uma série de vídeos da Ana Catharina a cozinhar, a tomar banho, na praia, Ana Catharina por todo o lado!

Duas pessoas numa casa com muita gente é um convívio. Duas pessoas, sem câmaras e a sós, é um convívio diferente.
É aquilo a que estamos habituados.

Mas vocês passaram três meses só a verem-se um ao outro e às outras pessoas. Agora estiveram uma semana só a ver-se um ao outro, sem câmaras nem distrações.
Nós olhávamos muito um para o outro no programa e tínhamos muita comunicação não verbal. É igual, só que agora verbalizamos mais emoções.

Acha que era frustrante para quem queria por-vos o rótulo de namorados que vocês continuassem a dizer que não eram?
Isso é frustrante na vida! Porque, mais uma vez, é o que já me aconteceu no passado e não quero que aconteça. "Então, a tua namorada?Já te vais casar? Já não vais para novo!". Não, porra! Eu quero é ser feliz. Quero conhecer pessoas que me façam feliz e quero estar bem. Mais uma vez é um cliché do reality show arranjar casalinhos. Então ok, eu não sou um casalinho. "Ah, o suposto é você ser um casalinho!". Pois, mas o suposto é eu não ter um guião aqui dentro. Já aprendeu. E eles aprendem. No fim do dia, o Big Brother aprende.

"Adorava que no próximo "Big Brother" os concorrentes participassem mais na construção das atividades."

Essa afirmação é muito ousada.
Uma das coisas que o Big Brother tem é um poder de encaixe maravilhoso. Na personagem, no nome próprio e na produção. A personagem, de há 10 anos, é um homem incrível. A voz dele, tudo o que transmite e sabe. Ele fala com 20 pessoas e consegue falar contigo, individualmente e em público e não ferir ninguém. Vi muito poucas vezes o Big Brother errar, para não dizer que não vi nenhuma. Isto para dizer que ele aprende. Mas é difícil. As coisas têm processos e os processos são demorados. Só quem não passa por eles é que não sabe. Se tu mandas uma ideia para o confessionário, primeiro tem de ser registada. Depois tem de ser enviada para não sei quem, depois o não sei quem tem de escrever o email para não sei que mais…

Quando diz uma ideia, está a referir-se a quê?
Ao que quer que seja. Eu adorava que no próximo Big Brother os concorrentes participassem mais na construção das atividades do que ser só one way. Ser muito mais uma co-criação. Podíamos fazer diferente dessa forma. O sábado é um dia morto. É bom para descansar, mas não é bom para a produção. Então as ideias que vinham eram sempre coreografias. Nós já dizíamos que aquilo era o “Big Brother - The Musical”. Quando eu era líder, dizia ao Big Brother: "Para o sábado, envie lá nas redes sociais uma mensagem e pergunte às pessoas o que é que gostavam que nós fizéssemos". Depois começaram a vir gincanas e jogos mais tradicionais para passarmos o tempo. Coisas engraçadas, até.

Como é que está a sua loja online, o Diogão?
Estamos a receber encomendas até 13 de setembro. Depois, vamos pegar nas encomendas e mandar produzir.

Qual acha que vai ser o peso das redes sociais na catadupa de acontecimentos dos próximos tempos? Falo concretamente das eleições norte-americanas e das eleições em Portugal.
Hoje vi a minha mãe a fazer isso e fiquei muito feliz. Em qualquer rede social tens três botõezinhos nos quais se clica. Na maior parte das vezes diz "não me interessa", "não quero ver", "bloquear". Usem. E se as pessoas usarem isso, as fake news serão combatidas, a propagação rápida de fake news será combatida. Há muitos anos, o Marcelo Rebelo de Sousa disse, num comentário qualquer da TVI: "Na era da informação, nós também temos de aprender a controlar a informação que recebemos". Fiquei com essa frase na cabeça e a verdade é essa. Em televisão, não conseguimos tanto controlar essa informação, mas o expectável é que venha refinada para nós, mas nas redes sociais, onde temos um controlo total da informação que recebemos, há lá uma coisa que diz "não quero ver". Vamos ensinar as empresas a combaterem as fakes news porque eles precisam da nossa ajuda.

Agradecimentos: Village Underground Lisboa