Enquanto via a gala deste domingo, 13 de dezembro, do "Big Brother — A Revolução", só me vinha a cabeça o filme "Lemony Snicket's: Uma Série de Desgraças". Embora as semelhanças do enredo da película infanto-juvenil (baseada numa série de livros e que, depois do filme protagonizado por Jim Carrey, deu também mote a uma produção da Netflix) com o reality-show sejam poucas, não consegui largar o pensamento de que tudo o que podia correr mal nesta edição do programa da TVI, correu.
Voltando a setembro, o formato sofreu grandes alterações em relação ao que se tinha passado com o "BB2020", desde o apresentador — Teresa Guilherme voltou à condução do programa e Cláudio Ramos foi afastado — ao próprio jogo, que começou sem a prova do líder, com um bunker que nunca se percebeu bem o propósito, uma divisão de concorrentes entre a casa e o jardim, e até um grande muro que tapava a vista da Ericeira.
O programa não foi bem recebido pelo público e as alterações sentiram-se logo a partir da primeira semana. O bunker deixou de existir, a divisão da casa também, até o muro foi eventualmente destruído e a prova do líder regressou. Mas persiste um problema que a TVI nunca conseguiu solucionar: o péssimo casting.
Para além de deixarmos de ter participantes que nos obrigassem a discutir temas fracturantes, dentro e fora da casa (na edição passada do reality-show, aconteceu muito diálogo sobre feminismo, saúde mental, homofobia, entre outras questões), nenhum dos concorrentes que entrou era especialmente cativante.
O programa arrancou com desistências e expulsões relacionadas com falta de preparação mental para suportar o jogo, e mesmo com o decorrer das semanas, os problemas continuaram. Isto resultou num imbróglio de tal ordem que à data de ontem, a menos de 20 dias da Passagem de Ano, quando é exibida a grande final, não existem, pura e simplesmente, participantes suficientes para um ser expulso a cada domingo. Perceberam a ideia? O grande momento semanal do "Big Brother", a gala de expulsão, não pode existir devido à quantidade de desistências e saídas forçadas. Sou só eu que sinto que isto roça o patético?
Mas é difícil não deixar de ter uma ponta de pena pela produção, ainda que estejam a tentar sair do buraco que cavaram. Mesmo em tempos de COVID-19, tentaram de tudo para colmatar a falta de concorrentes. Colocaram os participantes expulsos à votação dos portugueses e enfiaram os mais votados (votadas, neste caso) num hotel para fazerem quarentena e regressarem à Ericeira.
Das quatro mais votadas, Liliana testou positivo e nunca chegou ao hotel, Sandra desistiu da intenção de entrar poucos dias depois, Jéssica Antunes recebeu o namorado, Rui Pedro, no quarto e foi desclassificada. Sobrou Carina, que com a sua personalidade explosiva, podia agitar as ondas de uma casa mais parada que Lisboa às seis da tarde de um sábado de confinamento.
Querem que eu diga ou a coisa é tão óbvia que chegaram lá sozinhos? Pois, Carina desistiu na passada sexta-feira, 11, e nem pela gala deste domingo quis esperar, dado que estava nomeada e existia realmente o perigo de ser expulsa. Feitas as contas, sobram cinco concorrentes, os casais André e Zena, Jéssica e Renato, e Pedro, que compõem também o grupo mais triste dos reality-shows.
Assim, na gala de expulsão deste domingo, Jéssica Fernandes, André Abrantes e Zena encontravam-se em perigo de abandonarem a Ericeira. Plot twist? Não saiu ninguém, porque os tempos desesperados do "Big Brother" exigem medidas desesperadas e que causam muita vergonha alheia.
Zena foi salva, mas Jéssica e André continuam nomeados. E tivemos de aguentar duas horas e tal para perceber que ficava tudo na mesma
Logo no arranque do programa, a produção anunciava que tudo podia mudar até ao final da noite. Engraçado como a grande mudança era percebermos que afinal ficava tudo igual. Devido à falta de concorrentes, não houve expulsão este domingo, mas não antes de o público ter de passar pela vergonha alheia de "testar o amor" de Zena e André.
Trocando por miúdos, a concorrente madeirense foi salva pelo público — essa parte era mesmo verdade—, e regressou para junto de Pedro e Renato na sala. Na Sala de Decisões, Teresa Guilherme disse a Jéssica que podia também regressar à sala, dando a entender que André tinha sido o concorrente expulso.
Por mais incrível que possa parecer, mesmo sem saber, a expressão na cara de Jéssica foi tão estranha que a própria Zena não estava muito a acreditar que o namorado tivesse mesmo sido expulso. Tirou os sapatos, foi para o jardim e começou a andar de um lado para o outro. Para Teresa Guilherme a participante da Madeira ficou abalada, eu cá tenho esse tipo de comportamentos quando estou de ressaca e a fazer o meu melhor para manter tudo no estômago. Opções.
Já André foi levado para o confessionário, onde pediu para se despedir da Zena, com um semblante carregado, e garantiu a Teresa Guilherme que o que lhe estava mesmo a custar era perder a namorada. Lá veio uma ou outra lágrima microscópica, que me perdoem, mas provavelmente causada pela ideia de dizer adeus aos 50 mil euros tão perto do final.
Ah, espera. "Zena chamada ao confessionário", ouve-se dentro da casa. A música melodramática começou a tocar, Zena e André abraçaram-se, a apresentadora revelou que afinal André continuava em votação e o par ficou tão confuso como eu a olhar para livros de mandarim.
Na sala, os concorrentes foram informados que não existiria expulsão, mas as nomeações também já estavam decididas: Jéssica e André continuam em perigo de saírem no próximo domingo, e Pedro foi eleito líder numa votação bastante peculiar, com os ex-concorrentes a darem-lhe o selo de melhor jogador.
Feitas as contas, fica tudo na mesma. E pergunto eu, não era melhor terem dito aos concorrentes algo como "filhos, deixem-se estar, fica tudo igual, falamos para a semana" e terem transmitido o "Armageddon" no lugar da gala? É que, neste momento, um conjunto de trabalhadores de plataformas de petróleo em cima de um meteorito para salvar a Terra parece-me um cenário bastante mais impactante do que este "Big Brother" prestes a afundar-se.
Quando o que se passa em estúdio recebe mais destaque do que o jogo, temos um problema
Há umas semanas, já aqui tinha escrito nesta crónica que não percebia o destaque dado a Rui Pedro após a sua desistência, com um grande bocado da gala desse domingo a ser dedicado ao ex-concorrente. Mudei de ideias. É que o que se passa dentro da casa é tão aborrecido que Teresa Guilherme e a produção têm a difícil tarefa de encher chouriços, mas só têm tofu para o fazer — e a coisa não resulta. Mesmo.
Se há umas semanas foi Rui Pedro a dar show cá fora, ontem foi Carina. A participante do Porto foi chamada a contar as razões da desistência, andamos ali a engonhar, chamaram depois o Carlos e um possível romance entre os dois ao barulho, e até Jéssica Antunes tinha uma opinião sobre o assunto.
Ah, antes disso ainda houve tempo para um bate-boca entre Sandra e Carina que nos fez ter aquela vergonha alheia. Amigas, se é para fazer peixeirada, ao menos façam a coisa com nível. Olhem, saudades do Sr.Fernando, pai de Fanny, ou do momento que Teresa, ainda apenas como mãe de Thierry, perdia a cabeça com a ex-nora, Sofia, na época da "Casa dos Segredos". Ou alguém chame só a Érica (sou a única a achar que não há "Duplo Impacto" sem ela?).
Apesar de nada ter sido mencionado em direto, alegadamente, Rui Pedro e Joana envolveram-se numa discussão em estúdio que obrigou à PSP ser chamada ao local. Porra, onde é que estão as câmaras para apanhar isso, amigos? É que dentro da casa, no pasa nada.
Valham-nos os looks de Ana Garcia Martins e a esperança que 31 de dezembro leve este programa embora e o "BB - Duplo Impacto" não se lembre de ressuscitar nenhuma destas almas penadas de concorrentes. Não há paciência. Mesmo.