Em Portugal, estamos a despedir-nos da primavera para dar lugar a uma estação ainda mais quente. No outro lado do Atlântico, e no hemisfério oposto ao nosso, o outono já vai dando as boas-vindas ao inverno. No entanto, em Alagoas, um estado do litoral brasileiro que a MAGG visitou, não havia frio que nos impedisse de aproveitar as maravilhas que este local do Brasil tinha para nos oferecer.

Para poder estar perto disto, pode contar com a TAP, já que, em 2020, a companhia aérea lançou uma ligação entre Lisboa e Maceió, retomada no ano seguinte. Os voos, que são realizados duas vezes por semana, às quartas-feiras e sábados, fazem uma curta paragem em Natal, antes de rumar até este destino – mas não se preocupe, porque nem sequer tem de sair do avião.

Este restaurante brasileiro está a conquistar os portugueses (e não só). Há açaí, pastéis e muitas guloseimas
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Já de pés bem assentes em terras alagoanas, é andar à descoberta das maravilhas deste território. É certo que não faltam sítios onde poderá ir a banhos (de água ou de sol), uma vez que, mesmo sendo o segundo estado mais pequeno do Brasil, há 17 lagoas para apreciar – o que denuncia, desde logo, uma das suas grandes valências.

No entanto, este estado em forma de coração conquistou o nosso por uma panóplia de outras atividades, que ficam a uns quantos quilómetros do litoral. Percorremos vários recantos de Alagoas e eis aquilo que poderá lá fazer, caso tenha (ou planeie ter) esta viagem na sua agenda.

1. Passeio de jangada pelas piscinas naturais de Pajuçara

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créditos: João Valadares/MAGG

As piscinas naturais de Pajuçara ficam em Maceió, cidade que, em 1839, retirou a Marechal Deodoro o estatuto de capital do estado, fruto da expansão do comércio marítimo que já se ia fazendo sentir. E é precisamente dentro de água que fica uma das atividades responsáveis pelo crescimento do turismo da região: os passeios de jangada.

Com a ajuda de um jangadeiro, que vai zingando (forma de remar que pressupõe o uso uma vara comprida) a embarcação, será levado pelas águas cristalinas, mas bem esverdeadas, até à barreira de coral, que fica "a cerca de dois quilómetros da costa", de acordo com o guia Alexandre Bonzão. É aqui que a animação se instala – e não estamos a falar apenas do festim de sargentinhos (ou castanheta-das-rochas), uma espécie de peixe que costuma habitar nas zonas de recife mais rasas e que aparentam não ter medo dos humanos.

Perto da barreira recifal, há mais jangadas atracadas, que chegam a ser 200 por dia, onde poderá levar a cabo uma sessão de comes e bebes. Isto porque, das caipirinhas de ciriguela a 22 reais (4€) a cinco lagostins por 150 reais (30€), há várias embarcações que disponibilizam estes serviços, distribuindo os pratos em bandejas de flutuantes de esferovite, sempre com música à mistura. Mas tenha o cuidado de não deixar lixo para trás, até porque o Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas anda pela zona a alertar para a importância da conservação ambiental.

Duas horas de passeio custam 60 reais por pessoa (cerca de 11€), mas tem de ter atenção aos dias em que o pretende concretizar. É que esta atividade só é realizada durante os períodos de lua cheia e lua nova, uma vez que, nestas alturas, o nível das marés é mais elevado, viabilizando a deslocação das embarcações.

2. Ver o sol a pôr-se sobre o rio São Francisco

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créditos: Divulgação

No sertão nordestino, em Olho D’água do Casado, há um símbolo de vida que, apesar de imponente, nem sempre é percebido como tal pelos que estão de fora. Estamos a falar do rio São Francisco – ou velho Chico, como é carinhosamente apelidado –, um curso de água de mais de 2800 quilómetros, que nasce em Minas Gerais e desagua no Atlântico, afigurando-se como uma fonte de sobrevivência para esta região.

Para muitos, é mais que um rio: "é o mar do Sertão", explica o guia António Lima. É que, mesmo quando os outros rios passam por fases em que a água escasseia, já que esta zona do interior é conhecida pelos períodos constantes de estiagem, este é aquele que está sempre lá, que nunca seca – e que, por isso, faz com que a população consiga sobreviver.

Chegar a esta zona, que é uma Unidade de Conservação Federal, não é propriamente fácil. A caatinga, um bioma exclusivamente brasileiro bastante típico do clima semiárido do nordeste, repleta de arbustos e mandacarus, os cactos da região, vai hiptonizá-lo, mas as "costelas de vaca" (os buracos que se formam no chão, diga-se) não o deixarão entrar ficar concentrado durante muito tempo.

Ainda assim, o percurso atribulado vale bem a pena, uma vez que aquilo que o espera é uma vista privilegiada para o horizonte, onde o sol se põe entre paredões rochosos dos Cânions Dourados, que delimitam uma fronteira tripla entre os estados de Alagoas, Sergipe e Bahia. E só pode ter esta experiência única (e mágica) se organizar a excursão através da Candeeiros Ecotur, uma agência de turismo fundada por Janaína Melo.

Há comida, bebida, mas o prato do dia é sempre a reflexão. Até porque o objetivo da Candeeiros Ecotur é o desenvolvimento turístico da região, valorizando a cultura e tradições da mesma. Isto fica patente com algumas músicas tipicamente sertanejas que poderá ouvir a ecoar pelo desfiladeiro, como "Asa Branca", de Luiz Gonzanga, que incide precisamente sobre a importância deste local.

Os preços vão dos 1600 reais (300€) para dois aos 3250 reais (609€) se for um grupo de 15. No caso de querer mais atrações musicais, acrescem alguns custos – e, no momento da reserva, terá de pagar 50% do valor total do passeio, com a restante quantia a ser paga no dia em que este se concretiza.

3. Passear pela lagoa de Jequiá e flutuar no rio Gelado

Jequiá da Praia
Rio Gelado, Jequiá da Praia. créditos: João Valadares/MAGG

A mais de 60 quilómetros da capital, mas ainda no litoral, é em Jequiá da Praia que vai encontrar a vegetação mais verde que alguma vez viu. O passeio organizado pela Ecoboat levá-lo-á a percorrer a lagoa, que dá nome ao município e que se constitui a terceira maior do estado, e fará com que aprecie a Mata Atlântica que predomina nesta região.

O percurso começa na lagoa, onde Alyson Cardoso, o fundador e guia turístico da empresa que faz estes passeios, conta parte da história deste município, levanta o véu sobre as táticas da pesca da região, que se assume como uma das principais fontes de rendimento dos respetivos habitantes, e não descura dois dedos de conversa sobre a gastronomia.

No entanto, é já dentro do rio Gelado, depois de mudar de embarcação, que poderá mergulhar nas profundezas da Mata Atlântica e onde poderá encontrar árvores centenárias e imponentes, como a sumaúma e o pau-brasil nativo, que tanto representa a cultura e a história deste país.

O passeio termina com a flutuação pelo rio Gelado. A corrente será a sua única bússola, já que é ela que o conduz durante os 900 metros deste percurso, que vai culminar no local em que começou: a lagoa, onde o rio desemboca. Mesmo com curvas e contracurvas, não é preciso nadar, até porque o colete insuflável mantê-lo-á à tona e a profundidade não é dramática.

Para evitar evitar multidões e garantir a preservação desta região, há apenas dois passeios por dia, um de manhã e outro à tarde, pelo que 50 pessoas é o máximo de visitantes que a Ecoboat permite diariamente. Esta atividade inclui ainda uma curta caminhada pela mata e almoço, custando um total de 120 reais por pessoa (cerca de 22€).

4. Ficar a saber mais sobre os peixes-boi

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créditos: Divulgação

Os peixes-boi estão em risco de extinção desde a era colonial, altura em que a caça a este mamífero era desmedida, fruto da utilização que lhe davam – isto é, desejavam-no pela carne, pele e gordura, "tal como as baleias", explica a guia e bióloga Flávia Rego, que tem dedicado os últimos 18 anos da sua vida a esta causa. Atualmente, os perigos são outros, entre os quais a degradação ambiental e a interação humana.

Mas o rio Tatuamunha, no município de Porto de Pedras, é um autêntico santuário para este animal. É aqui, graças à Associação Peixe-Boi e aos seus recintos de aclimatização, que os peixes-boi prosperam, antes de estarem aptos a voltar para a natureza por conta própria.

No total, desde 2008, as ações desta associação têm sido um sucesso, com a libertação de quase 50 animais, dos quais nasceram 17 filhotes, de acordo com Flávia Rego. Além de ajudar este mamífero, a associação atua ainda noutras frentes, que vão da educação da população ao desenvolvimento de políticas públicas de conservação, turismo sustentável e proteção do peixe-boi.

Os passeios, que duram cerca de uma hora e distribuídos ao longo do dia, são feitos através de um barco a remo. Há lotação máxima, que se fixa entre as 12 e as 15 pessoas por embarcação, com o custo de 100 reais (cerca de 18€) por cada uma delas, a partir dos 7 anos.

5. Visitar o bairro histórico de Jaraguá

Bairro histórico de Jaraguá
Fabrícia Barreto, guia turística, com uma fotografia antiga do ex-consulado provincial, que é atualmente o Museu da Imagem e do Som de Alagoas. créditos: João Valadares/MAGG

Antes de ser um bairro, Jaraguá era um vila. E antes da povoação de Maceió, já lá estava ele, vivo e de boa saúde, a servir de porta às trocas comerciais. Isto porque é aqui que está localizado o porto da cidade, neste que é o único bairro tombado da capital de Alagoas, assim classificado e protegido há quase quatro décadas.

Aqui, há muitas história para contar e grande parte delas ainda subsiste, graças aos edifícios históricos, que servem de autênticos lembretes daquilo que este bairro já foi (e do que está a tentar voltar a ser). É que, atualmente, há incentivos fiscais para aqueles que queiram mudar-se para lá – seja para morar ou para abrir as portas a um negócio.

O bairro teve os seus casarões e armazéns restaurados e reformados na década de 90 e, atualmente, esses locais abrigam bares e restaurantes. Aliás, quando lá estiver, até pode passar pela fábrica da Hop Bros e beber um "chope" (uma cerveja) desta que é uma marca de cerveja artesanal alagoana, que conta já com inúmeras distinções no seu repertório.

No entanto, a estes tempos de modernização antecederam-se dias mais cinzentos, pelos quais fomos passeando. Até 1967, esta zona era conhecida pela prostituição que lá estava instalada, vinda com a chegada dos portugueses – e que fica patente em locais como a rua da Rapariga Desconhecida. A viagem ao passado continua pelos antigos trapiches, os armazéns onde o açúcar era armazenado, pela "casa de engorda", onde os escravos ficavam para serem alimentados e seguirem para as fazendas, e até pela Igreja Mãe do Povo, que, em tempos, começou por ser uma capela construída por um português.

As excursões são organizadas por Fabrícia Barreto, fundadora do projeto Pé na Rua Maceió. Vestida a rigor, com uma caracterização que visa surtir efeito nas recordações deste bairro histórico, é com esta guia que pode aprender estas (e outras) curiosidades. Isto tudo por 250 reais (cerca de 46€) por pessoa, com grupos que podem ir até aos 50 integrantes.

6. Mais um passeio de jangada, desta vez na praia do Patacho

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créditos: Divulgação

A praia do Patacho, em Porto de Pedras, fica a duas horas de Maceió, mas os seus encantos assemelham-se aos da praia de Pajuçara. Aqui, ainda no litoral, mas mais a norte da capital alagoana, também há piscinas naturais cristalinas e recifes a perder de vista, não fosse esta a "maior barreira de coral da América Latina", mas explorar estas águas não é assim tão fácil.

Só depois da pandemia é que esta zona viu a atividade turística a ganhar expressão, com o aumento das pousadas e empreendimentos turísticos, que já vão pintando a paisagem de forma menos tímida. Mas antes que o turismo deixe as suas marcas nesta região, Luciano Caribé, presidente do Conselho de Turismo de Porto de Pedras, reitera que está em marcha um plano que se foca no abrandamento da especulação imobiliária e na sustentabilidade.

Estas regras, que tendem a ser cada vez mais rigorosas, também se aplicam aos passeios de jangada, uma vez que estamos a falar de uma zona que pertence à Área de Protecção Ambiental Costa dos Corais, a maior unidade de conservação federal marinha costeira do país. Por isso é que há apenas 60 jangadas aptas para circularem perto dos corais e, diariamente, o privilégio destes passeios é concedido apenas a 300 pessoas.

O controlo é feito por pulseiras, com uma taxa simbólica de 4 reais (0,75 cêntimos), distribuídas aquando da compra do passeio, que tem um custo de 80 reais (cerca de 15€) por pessoa e 300 (cerca de 56€) por casal. Além disso, durante as quase três horas de viagem, é proibida a venda de comida e bebida nas piscinas naturais – estamos a perceber que a distância que vai daqui a Pajuçara é mais que física, certo?

7. Descobrir as artes da Ilha do Ferro e de Pontal da Barra

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créditos: Divulgação

No mapa, a Ilha do Ferro e o bairro de Pontal da Barra não são localidades próximas uma da outra. A primeira pressupõe uma viagem de longas horas desde Maceió e a segunda não fica a mais do que uns minutos da capital, mas, pontos geográficos à parte, há algo que as une: os diferentes géneros de arte pelos quais são conhecidas. Mas vamos por partes.

A Ilha do Ferro fica nas margens do velho Chico, onde a o pescado e o marisco, nomeadamente a apanha de pitu, semelhante ao lagostim, são modos de vida. Este é o local a que pouco mais de 500 pessoas chamam casa. E ainda que seja diminuto em termos populacionais, é grande no que diz respeito à oferta de artesanato, já que cada esquina esconde ateliês e oficinas de artesões – que, na verdade, nada mais são do que as suas próprias casas.

É neste vilarejo que o artesanato em madeira ganha vida, assim como o bordado Boa Noite, identificado como Património Cultural Regional. Foi no ateliê Boca do Vento, que começou por ser um negócio de Fernando Rodrigues, uma figura icónica da Ilha do Ferro, que esta prática ganhou pujança e cujo legado é mantido, atualmente, por Rejânia Lima, a filha, e o respetivo marido, Fernando Rodrigues.

Os objetos decorativos de madeira, que vão das cadeiras aos bancos, passando pelos cabides, são da responsabilidade de Fernando, que segue as pegadas do sogro, que já morreu. E não é o único, uma vez que de Aberaldo Lima a Zé Crente, passando por Ginaldo, todos tiveram este artesão como referência. Rejânia fica aos comandos do bordado Boa Noite, tendo sido a responsável por, em conjunto com a mãe, ter criado uma cooperativa de bordadeiras em 1989, a Art-Ilha, que permanece intacta até hoje.

Em Pontal da Barra também o bordado assume importância, ainda que estejamos a falar de outra técnica: o bordado filé. Considerado Património Imaterial de Alagoas e a única Indicação Geográfica de Artesanato do estado, é uma arte de herança portuguesa, trazida durante o período colonial para Marechal Deodoro, a antiga capital, e rumando até à nova, anos depois.

Há uns quantos milhares de bordadeiras qualificadas como tal, sendo o registo uma medida que surgiu para fazer com que esta prática, passada de geração em geração, não se perdesse na espuma dos dias, de acordo com Petrúcia Lopes, presidente do Instituto do Bordado Filé. E é também por isso que, atualmente, em Pontal da Barra, vamos encontrando, a cada passo que damos, muitas lojas que nos fazem querer gastar todas as poupanças nestas peças, que são únicas.

8. Comer ostras na Praia do Gunga, Palatéia

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créditos: João Valadares/MAGG

Apesar das 17 lagoas que o território alagoano comporta, as maiores são as de Manguaba, Mundaú e a do Roteiro. É nesta última, que ganhou o nome por, em tempos, ter sido a rota traçado pelos padres jesuítas para evangelizar os indígenas, que está localizada a Palatéia, uma reserva ecológica de mata atlântica, mangue negro e vermelho, um ecossistema costeiro de transição entre os biomas terrestre e marinho.

Mas esta zona constitui-se, simultaneamente, como o local onde se sedia a maior produção de ostras do estado. Pode explorá-la a bordo de um catamarã, que o levará até à praia do Gunga – e não se espante se, durante o percurso, for vendo alguns barcos presos em bancos de areia, algo bastante comum. Se acabar por parar num deles, é aqui que alguns mariscadores vêm ao seu encontro com ostras bem fresquinhas.

Esta iguaria é vendida às porções, normalmente composta por 12 a 15 unidades, com um custo de cerca de 50 reais (pouco mais de 9€). No nosso caso, deliciámo-nos com este fruto do mar apanhado por Jefferson Evaristo, que o vendia ao natural ou até grelhado na brasa, com uma pitada de cominhos e umas gotas de lima – mas há muitos mais vendedores, uma vez que a maioria das famílias deste povoado se dedica a este negócio.

Para aqui chegar e poder ter esta experiência, poderá fazê-lo através do aluguer de uma embarcação com a empresa Soluções Náuticas. Com um roteiro que dura o dia todo, com a saída do porto de manhã e o regresso ao pôr do sol, este percurso tem um custo de cerca de 3500 reais (650€).

*A MAGG esteve em Alagoas, no Brasil, a convite da Embratur