Para a contar a história do novo hostel de Lisboa é preciso recuar a 2013, quando Rita Marques fez uma viagem pela Ásia e percebeu que havia uma coisa que faltava a Portugal: uma agência de viagens dedicada ao turismo solidário. Através do LinkedIn conheceu Diogo Areosa, juntos começaram a aventura de criar uma agência onde ir de férias significa mudar o mundo.
Foi assim que nasceu a ImpacTrip, uma agência onde é possível conhecer Portugal ao mesmo tempo que se pratica mergulho e limpa o Oceano Atlântico, ou se faz um passeio guiado por Lisboa com um ex sem-abrigo. Também é possível ajudar a resgatar animais abandonados, plantar árvores e combater a fome e o desperdício alimentar fazendo recolhas de excedentes e entregando-os a quem precisa.
"O projeto ganhou uma dimensão tal que já temos voluntários connosco o ano inteiro", explica à MAGG Rita Marques. "Só que sentíamos que tínhamos pouca oportunidade de estar com eles."
E como resolver isso? Criando um hostel 100% sustentável em Lisboa. Desde segunda-feira, 23 de abril, que a cidade tem um novo espaço de alojamento. Falamos da Impact House, um hostel situado na zona da Estrela que tem um total de 42 camas e afirma-se com o mais sustentável de Portugal.
Sejam bem-vindos ao hostel onde não há desperdício
Começa logo pelo sítio onde estão localizados. "Este edifício na Estrela pertence a uma organização social, portanto em vez de pagarmos renda a uma empresa, pagamos a uma organização social."
No início o espaço foi pensado apenas para os voluntários da ImpacTrip, mas depressa perceberam que podia ser muito mais do que isso. "Não tinha esta questão da sustentabilidade que é aquilo que de facto nos apaixona. E foi assim que nasceu a Impact House, aquele que vai ser o hostel mais sustentável de Portugal."
E no que é que consiste essa sustentabilidade? Além do básico — luzes LED, painéis solares —, eles vão muito mais além. Todas as emissões de carbono feitas pelo hostel são compensadas através de um sistema de carbono aprovado pelas Nações Unidas. Além disso, trabalham em economia circular.
"Temos um sistema de comida e de lixo quase fechados. Funciona assim: compramos os nossos alimentos a granel para minimizar as embalagens, e em produtores locais (minimizando assim as emissões de carbono). A comida que sobra é entregue à Refood, e a comida não processada que se estraga vai para um sistema de compostagem."
Terminou? Não, nada disso. Essa compostagem serve para criar a terra que vai alimentar o jardim vertical do hostel, onde plantam alimentos como alfaces, alecrim, órgãos ou hortelã. Quando estão prontos, estão de volta ao prato. "Fecha-se assim o sistema do desperdício alimentar."
Outro dos grandes problemas da atualidade é o plástico. A pensar nisso, têm uma máquina que tritura o plástico, outra que transforma esses pedaços muito pequenos em filamentos e outra ainda que fabrica novos produtos. Esta última é uma impressora 3D. Mais uma curiosidade: a máquina trituradora de plástico é movida por uma bicicleta, por isso todos os hóspedes podem contribuir pedalando um bocadinho.
Mais uma vez, fecha-se o círculo — estes novos produtos, que podem ser copos ou pratos, vão servir para assegurar o funcionamento do hostel. Neste momento a impressora 3D está encomendada, e chegará brevemente ao espaço.
"Não criámos o hostel e depois pensámos nos projetos de sustentabilidade. As coisas foram surgindo em torno dos projetos de sustentabilidade."
E há mais. Além dos móveis que foram reaproveitados, eles têm também caixas de doações. Não há maior desperdício num hostel do que a quantidade de embalagens de produtos de higiene que ficam esquecidas pelos hóspedes. Aqui esses produtos não vão para o lixo, bem pelo contrário: são entregues a associações que precisam (muito) deles.
"Além disso, e aproveitando o nosso terraço com 72 metros quadrados, vamos também ter uma série de eventos relacionados com a sustentabilidade, como workshops de recycling ou de zero waste."
Vai haver também ioga todas as manhãs, sendo que uma vez por semana essa aula é gratuita para os moradores locais. Mais: os parceiros sociais da ImpacTrip também vão poder usar o amplo terraço para realizarem eventos e promoverem a sustentabilidade.
"Acho que não falei de metade dos nossos projetos, mas penso que já é possível ter uma ideia do que pretendemos fazer."
O que é que o hostel tem
Num edifício de três andares, a Impact House ocupa o primeiro andar e segundo esquerdo. Com um total de nove quartos, quatro são privados e cinco são dormitórios. Há ainda quatro casas de banho, uma cozinha partilhada e uma cozinha industrial para o espaço produzir refeições — eles servem tudo, desde o pequeno-almoço até ao jantar. "Nesta primeira fase está só aberto aos clientes do hostel."
Há mais. O hostel também tem uma sala de estar e uma loja — sustentável, claro. Com produtos relacionados com a sustentabilidade que não se encontram facilmente noutros locais e dos parceiros sociais. "Temos coisas muito interessantes de instituições à venda na nossa loja."
Os preços começam nos 15€ nos dormitórios e 30€ nos quartos privados.
E vale sempre recordar o que é a ImpacTrip
Praticar mergulho e ao mesmo tempo limpar o Oceano Atlântico. Fazer um passeio guiado por Lisboa com um ex sem-abrigo, ajudar a resgatar animais abandonados, plantar árvores e combater a fome e o desperdício alimentar fazendo recolhas de excedentes e entregando-os a quem precisa. Não há necessidades inventadas pela agência, são as próprias instituições e parceiros sociais que lhes dizem onde é que é preciso ajudar. Neste momento são mais de 300.
Os voluntários, portugueses ou não, contribuem com o seu tempo para ajudar. No ano passado foram 17 mil horas de voluntariado levadas a cabo por pessoas de 52 nacionalidades — o público-alvo ainda continua a ser maioritariamente estrangeiro.
"Estes jovens ficam connosco entre uma a 12 semanas, e fazem voluntariado entre três a cinco horas por dia durante a semana. No tempo livre e aos fins de semana, passeiam, viajam, aprendem a língua".
Então e como é que isto funciona? É fácil. Só tem de tomar três decisões: o tipo de experiência que procura (mergulho; praia; cidade; natureza), a localização (um ou mais locais que pretende conhecer) e a atividade de voluntariado (pode ir desde o combate à pobreza até ao apoio a pessoas com deficiência). O programa de uma semana custa em média 350€ e inclui o alojamento em regime de pensão completa, seguros e toda a coordenação.