Situada num vale verdejante, entre a Serra da Padrela e a Serra do Marão, na região do Alto Tâmega, Vila Pouca de Aguiar é um paraíso de boa comida, História, melhores paisagens e gente autêntica, à espera de ser redescoberto. A MAGG partiu em direção a Trás-os-Montes para três dias de comunhão com a Natureza, descobertas e aprendizagem.
Durante a nossa visita a Vila Pouca de Aguiar estivemos acompanhados por uma transmontana de gema e coração, Ângela Teixeira, que colabora com a autarquia na divulgação da região. A aposta da comunicação do município como destino de natureza e sustentável reflete-se na variedade de oferta de experiências ao ar livre, desde os vários percursos e trilhos para os amantes de caminhadas e passeios de bicicleta, até ao Caminho Português Interior de Santiago, que atravessa a região.
Uma das melhores formas de conhecer esta e qualquer terra é mesmo estar acompanhado por locais mas, à falta de um guia, nada como dar um salto à Loja Interativa de Turismo, em Pedras Salgadas. Se tiver sorte como nós, vai conseguir apanhar lá Laura Saraiva, uma apaixonada da terra, que lhe dará não só toda a informação que precisa, mas também dicas detalhadas sobre o que é mais importante visitar.
O que visitar
Parque Termal de Pedras Salgadas
Com mais de um século de história, este imponente parque nasceu graças à riqueza e singularidade das suas águas, naturalmente gaseificadas, oriundas de seis fontes (D. Fernando, D. Maria Pia, Penedo e Grande Alcalina, Pedras Salgadas e Preciosa), e que ainda hoje ali existem, protegidas por imponentes edifícios, obras de arquitetura impressionantes do final do século XIX. Mesmo que não fique alojado no Pedras Salgadas Spa & Nature Park (com as suas eco houses e as muito instagramáveis tree houses), é imprescindível passar algumas horas neste parque, que nos seus tempos áureos, chegou a ter seis hotéis e a receber realeza, burguesia e outros não tão abastados mas igualmente sequiosos das propriedades curativas destas águas.
Passear pelos 20 hectares da propriedade, ver a grandiosidade dos edifícios como o do Casino, construído em 1910 mas que nunca chegou a ser sala de jogos e apenas recebeu espectáculos, o Balneário (onde agora funciona o incrível spa termal, que a MAGG teve oportunidade de experimentar) e a Casa de Chá (restaurante do hotel e onde é possível almoçar ou jantar, com reserva prévia) é obrigatório.
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Provar a água naturalmente gaseificada, diretamente da Fonte Pedras Salgadas (a única aberta ao público) é obrigatório. E ainda que o sabor seja peculiar (o travo a ferro está muito presente, embora depois na fábrica do Super Bock Group, onde se procede ao engarrafamento, esse sabor seja retirado através de tratamento), é essencial para perceber o porquê destas águas, cujas propriedades curativas e origens místicas remontam a tempos imemoriais, continuarem a ser um património único do País (e que deve ser conhecido, respeitado e protegido).
Para ficar a conhecer a história não só do parque como também das termas, e perceber como evoluiu a marca Pedras Salgadas ao longo de mais um século, a visita ao Pedras Experience é imprescindível. O museu interativo tem sete salas e reúne um espólio impressionante não só da marca, mas também de equipamento e mobiliário que recria o ambiente vivido naquela estância termal no final do século XIX.
O Pedras Experience está aberto de quarta-feira a domingo, das 10 horas às 13 horas e das 14 horas às 18h30. O preço dos bilhetes começa nos 4€ (crianças e maiores de 65 anos). Os adultos pagam 6€ e as crianças com menos de 3 anos têm entrada gratuita. Os hóspedes do Pedras Salgadas Park ou do Hotel Vidago Palace também têm entrada reduzida (4€) mediante apresentação de comprovativo. Saiba mais aqui.
Tresminas - C0mplexo Mineiro do Ouro Romano
Gostos não se discutem mas esta experiência, para nós, foi a mais incrível da nossa passagem por Vila Pouca de Aguiar. Já tínhamos visitado grutas naturais mas não feitas pelo homem, muito menos com 2000 anos. Na freguesia de Tresminas existe, mesmo debaixo dos nossos pés, uma complexa teia de antigas minas romanas de onde, há 20 séculos, foram extraídos 24 toneladas de ouro ao longo de 200 anos. Depois os romanos abalaram da região, deixando um verdadeiro rendilhado subterrâneo de galerias que, atualmente, são de acesso interdito ou estão cheias de água. Das sete conhecidas, apenas uma é visitável.
Com a nossa guia, Letícia Ferreira, fizemos o Trilho da Corta da Ribeirinha, um percurso com cerca de 1,5 quilómetros até chegarmos à boca da corta (nome dado aos túneis de acesso às minas), para depois percorrermos a galeria da mina, que fica a 45 metros de profundidade. que depois percorremos com a ajuda de lanternas e capacetes. Para visitar o complexo mineiro é sempre necessário fazer reserva prévia e são aceites grupos até 20 pessoas.
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Depois da parte prática, nada como ver explicado como tudo aconteceu, no Centro Interpretativo de Tresminas. Lá, é possível entender, numa pequena mas muito interessante exposição, como a chegada dos romanos à região, no século I depois de Cristo, transformou por completo não só a paisagem como também impulsionou o desenvolvimento social e económico desta zona de Trás-os-Montes. A exploração de minério terminaria naquela altura em Tresminas, mas iria durar até ao final do século XX noutra zona do concelho, em Jales.
Centro Interpretativo Mineiro de Jales
"Quando a mina fechou, era domingo todos os dias". A frase é dita com desalento e saudade por Carmen Silva, uma das funcionárias e guia do Centro Interpretativo Mineiro de Jales. Era criança ainda quando os mineiros foram uma derradeira vez trabalhar naquela que foi a última mina de exploração de ouro a funcionar em Portugal. Encerrou em 1992 e, agora, restam a memórias dos que por lá trabalharam (e que podem ser ouvidas numa impressionante reportagem, que é emitida no Centro Interpretativo).
Neste museu encontra-se uma réplica em tamanho real de uma galeria subterrânea, bem como os objetos de trabalho e do dia a dia das várias profissões que faziam a mina funcionar, desde o mineiro ao amostrador. No total, eram 16 pisos, que iam até 630 metros de profundide e que foram, entre 1933 e 1992, força motriz da economia da região, dando trabalho e sustento a centenas de famílias.
Além da exposição, vale a pena visitar as estruturas que existiam à volta da mina e que sobreviveram ao abandono e à remodelação, uma vez que muitos imóveis foram comprados para habitação. Desde o edifício onde ficavam alojados os mineiros solteiros até ao antigo bairro onde viviam os trabalhadores com as famílias.
Cubas (a aldeia onde só vivem duas pessoas)
Francisco e Livração são os guardiões da capela de Santa Bárbara. Durante o verão, a população de Cubas aumenta substancialmente mas, durante o resto do ano, o casal é dono do sítio. Esta pequena aldeia da freguesia de Valoura, situada no sopé da montanha, fascina não só pelo silêncio mas também pela harmonia da paisagem. Há cultivo agrícola, mas enquadrado na flora natural desta região. O ar que se respira é diferente, mais aromático, mais húmido, pouco condizente com outras paisagens, dominadas pelo pinheiro ou pela praga dos eucaliptos.
Os produtos da terra e um outro ritmo de vida fazem com que o casal de octogenários suba e desça as encostas todos os dias, passando o tempo a cuidar do que cultivam, tendo uma genica e energia de fazer inveja a pessoas com metade da idade. Se tiverem sorte e forem de confiança, pode ser que lhes abram a porta da capela.
Castelo de Aguiar de Pena
Imagine que está a visitar Vila Pouca de Aguiar com um grupo heterogéneo. Uns querem tirar fotos para o Instagram, os outros são nerds de História e também há os maluquinhos do fitness. Visitar este castelo medieval cumpre essas funções e deixa toda a gente satisfeita.
Um dos pontos históricos mais importantes da região turística do Alto Tâmega, o Castelo de Aguiar de Pena foi inicialmente edificado há cerca de 1000 anos. Os primeiros registos documentados da existência de uma fortaleza naquela zona remontam a século IX / X. Esteve no centro de disputas e batalhas e chegou mesmo a estar ao abandono. Felizmente, a edificação foi preservada sem grandes alterações ao longo dos séculos, tornando-o um dos mais bonitos castelos medievais do País. Subir à torre de menagem proporciona uma vista impressionante, embora seja precisa uma certa energia e perícia para lá chegar. Mas vale bem a pena. O acesso ao castelo é livre.
Lagoa do Alvão
É um parque de lazer, zona de de descanso e observatório de fauna mas também um empreendimento turístico. O Alvão Village & Camping é uma verdadeira aldeia, com as suas típicas casas castrejas onde, no verão, e com a ajuda da piscina, se passam umas férias de sonho que não vão deixar saudades da confusão da praia. Mesmo que ali não fique alojado, vale a pena fazer uma visita, uma vez que existe uma loja com artesanato e produtos locais.
No tempo mais frio, vale a pena visitar a lagoa (também conhecida como Barragem da Falperra), que protege habitats ameaçados e proporciona um momento de relaxamento e paz durante um passeio de bicicleta ou uma caminhada. Se estiver sol e temperatura convidativa, nada como um piquenique, uma vez que o parque dispõe de infraestruturas para o efeito. Ah, e há um baloiço panorâmico com uma vista linda sobre a lagoa.
Onde comer
Nascente do Corgo
Situado no centro da vila, este negócio de família serve de ponto de encontro, durante a semana e também ao fim de semana. As terças-feiras são o melhor dia para visitar o Nascente do Corgo, uma vez que é dia de feijoada à transmontana. Visitámos o restaurante gerido desde 1982 por João e Marília Pinto a uma segunda-feira, mas nem por isso ficámos insatisfeitos.
Comemos uma deliciosa omelete com cogumelos da região, folhado com queijo e alheira, acompanhado com tomate cherry, também local e, claro, o imprescindível cozido à transmontana (10€), com legumes da freguesia de Cidadelha. Imperdível também para os mais gulosos é o bolo de bolacha, uma das especialidades da casa, mas numa versão mais rica, com doce de ovos e natas.
Casa de Chá - Restaurante
As especialidades criadas pelo chef Vítor Matos compõem o menu do encantador restaurante do Pedras Salgadas Spa & Nature Park. Embora seja o restaurante de apoio do hotel (onde também é servido o pequeno-almoço aos hóspedes), é possível jantar e almoçar mediamente marcação prévia.
Durante a nossa estadia no Pedras Salgadas Spa & Nature Park, tivemos a oportunidade de provar a alheira do Barroso (grelos, cogumelos e ovos escalfado a 62ºC), o lombo de bacalhau confitado em azeite transmontano com migas de couve, feijão manteiga e enchidos e terminámos a refeição com um imprescindível Pudim de abade de Priscos, com maracujá e tangerina. Bebemos ainda um incrível vinho branco Quinta de Arcossó, um produto da região.
A Tasca da Aldeia
Se vai à procura de um sítio fancy com vinho a copo, guardanapos de pano e ementa em inglês (ou ementa, sequer), A Tasca da Aldeia, na aldeia de Tinhela de Cima, não é mesmo o sítio indicado. Se procura uma experiência autêntica, é ao único café desta aldeia com apenas 60 pessoas que se deve dirigir.
Em 2021, Cristina e Luís Adão pegaram nos dois filhos, Mathieu, de 20 anos e Nicholas, de 13, e trocaram o sul de França por Tinhela de Cima. Após a mãe ter morrido, Cristina decidiu assumir a gestão da tasca, o único estabelecimento deste género na freguesia, ponto de encontro da população e também local para uma refeição, um copo ou um petisco.
Quando regressou, a tasca era só taberna. Mas rapidamente o casal pôs mãos à obra, começando a cozinhar, primeiro a pedido dos locais depois, graças ao passa palavra (e ao facto de a região ser muito procurada por amantes dos passeios de bicicleta e caminhadas), por turistas portugueses e estrangeiros. Depois de obras de ampliação e renovação do espaço, a taberna reabriu em abril de 2022. Maior, mais acolhedora, e com atividades para dinamizar a aldeia.
Para desfrutar de uma refeição n'A Tasca da Aldeia convém ligar primeiro, um dia antes ou na manhã do próprio dia (259 433 023). Mas, garante Cristina, se um forasteiro lhe aparecer há porta, "há sempre uns petiscos frios e quentes". Como quando 400 ciclistas surgiram sem aviso e a família conseguiu, como por milagre, improvisar "sandes de pão de ló, fiambre e queijo" para todos.
A MAGG provou uma aromática e saborosa chanfana de cabra brava de Cevivas, freguesia de Vila Pouca de Aguiar, e ainda um delicioso bacalhau no forno com puré (feito com batatinhas locais). Os preços são calculados conforme o prato que for pedido mas, no dia a dia, quem por lá almoçar paga a módica quantia de 7€. Sim, sete euros.
Costa do Sol
Situado no Hotel Aguiar da Pena, este restaurante com 42 anos 'o' sítio onde ir para comer a famosa carne maronesa, Assim que entramos no Costa do Sol, sabemos que vamos comer bem. O certificado está à vista, passado pela Cooperativa Agrícola de Vila Real, garante-nos que o restaurante é cliente de carne maronesa de Denominação de Origem Protegida. E é exatamente esta carne de bovino que provamos, depois de umas entradas, que incluíram um pratinho de presunto (6,50€) e alheira assada (5,50€). A vitela maronesa é a estrela da casa e as postas suculentas de carne grelhada (18,80€) não desiludem.
Acompanhada de batatas fritas às rodelas, sequinhas e crocantes, e de couve salteada, é a forma perfeita (porque a mais simples) de provar esta iguaria típica da região. Ficámos com muita curiosidade para provar os ovos mexidos, outra das especialidades da casa, que são servidos com moura (um género de chouriço de sangue), simples ou com tomate. O bacalhau à casa (22€) com cebolada e batatas fritas, também é um dos favoritos dos clientes habituais do Costa do Sol. Acompanhámos a refeição com tinto Head Rock Reserva 2015, também da região. Uma visita ao Costa do Sol não pode terminar sem a sobremesa estrela da casa, a tarte de coco.
Onde dormir
Pedras Salgadas Spa & Nature Park
Ir até Pedras Salgadas e não ficar numa das eco houses ou tree houses é quase pecado. Este projeto, criado pelo arquiteto Luís Rebelo de Andrade, tem por objetivo fundir as unidades de alojamento na natureza, tornando-as mais um elemento do Parque. As eco houses, 16 no total, são ideais para uma escapadinha em família, uma vez que dispõem de dois quartos sala, kitchenette, casa de banho, hall e deck (com as imprescindíveis cadeiras para beber um café de manhã e descansar ao final da tarde). A ocupação limite da maioria das eco houses é de quatro pessoas, mas existem duas eco houses Privilege, com capacidade para seis pessoas (havendo a possibilidade de adicionar duas camas extra).
A experiência de dormir numa das incríveis casas da árvore é mais adequada para casais, não só pelo romantismo destas construções e da vista que proporcionam (duas janelas enormes, uma para o parque, outra para o céu), mas também pela dimensão mais reduzida. As tree houses têm uma casa de banho dividida em duas partes, uma kitchenette, uma cama de casal e um sofá.
De acordo com simulação no site de reservas, os preços para uma noite numa das eco houses começam nos 230€ (simulação feita para o fim de semana de 30 de setembro e 1 de outubro). Para uma noite numa casa na árvore, os valores começam nos 340€.
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A melhor forma de complementar a estadia no Pedras Salgadas Spa & Nature Park é passar pelo famoso Balneário, onde fica o spa. Além de vários programas termais, que podem ser consultados no site do parque (desde controlo de peso a programas anti-stress) e tratamentos de bem-estar, é possível desfrutar de uma experiência de relaxamento com água mineral natural.
A MAGG teve a oportunidade de experimentar um duche de massagem total (40€), feito com água proveniente da fonte do parque, e pôde comprovar as propriedades relaxantes do produto-estrela da região. Os hóspedes têm acesso ao circuito relax (piscina, sauna e banho turco). Para quem não estiver alojado, o custo é de 20€ (2 horas).
Casa Fontes
Fora do Parque de Pedras Salgadas, mas no centro da localidade, a Casa Fontes faz parte da história desta zona. Há 53 anos nas mãos da família Fontes, mesmo antes de estes serem os proprietários, já este amoroso edifício com fachada de pedra era alojamento para os que vinham procura cura para maleitas nas águas gaseificadas.
Classificado como bike hotel (muito procurado pelos amantes de duas rodas), a Casa Fontes tem uma respeitável classificação de 9,3 pontos em 10 na plataforma Booking. Além de 12 quartos acolhedores, João Fontes, que está agora à frente deste alojamento, faz questão de adequar as experiências dos hóspedes às estações do ano. Quando o tempo esfria, seja no pátio seja na remodelada sala com lareira, há (a pedido) cozido à portuguesa no pote (feito em fogo vivo), cabrito, arroz de míscaros ou sopa de mel. O preço por quarto duplo, de acordo com simulação feita no site, começa nos 55€.
Como chegar a Vila Pouca de Aguiar
Para ficar a conhecer a fundo a região, é indispensável o carro. Há sempre a opção de se deslocar de transportes públicos até Vila Real ou Bragança e, depois, alugar uma viatura (existem várias agências como a Europcar, Sixt e Guerin). A Rede de Expressos tem autocarros diários de Lisboa e do Porto para Vila Pouca de Aguiar com preços a partir de 9,99€. A Flixbus tem autocarros diários do Porto e de Lisboa para Vila Real, que fica a 30 quilómetros de Vila Pouca de Aguiar, com preços a partir de 3,49€.
*A MAGG visitou Vila Pouca de Aguiar a convite da autarquia