Pelo menos um metro de distância é a medida que a DGS recomenda de distanciamento social para evitar a contaminação com COVID-19. Mas isto é se estivermos na fila supermercado, a caminhar para a casa de alguém a quem se presta serviços ou mesmo no trabalho.

E para quem sai de casa para correr, mesmo que em espaços com poucas pessoas e ao ar livre? Aqui o cenário pode ser outro porque o ar move-se de forma diferente quando corremos ou temos um passo mais acelerado. Pelo menos é o que indica um estudo publicado pela "Urban Physics and Wind Engineering".

A investigação não analisa especificamente as partículas de COVID-19 ou que as mesmas se transmitem pelas gotículas respiratórias, nem prova que há um maior risco de infeção se estiver atrás de um corredor ofegante. Contudo, demonstra que quando caminhamos ou corremos o ar move-se de forma diferente.

Por isso, nestes casos, a melhor forma de manter a distância social adequada é evitar correntes de ar que seguem um corpo em movimento. Veja um pequeno vídeo que explica esta teoria..

Então, qual a medida de segurança em corrida revelada no estudo? "A distância social equivalente a uma caminhada rápida é de cerca de 9,1 metros", revela a pesquisa liderada por Bert Blocken, professor de engenharia civil na Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda, e na KU Leuven, na Bélgica.

Para chegar a este resultado, os investigadores calcularam a distância social equivalente aerodinamicamente necessária durante o exercício, ou seja, que garanta a mesma fraca exposição a partículas virais do que se as pessoas estivessem a um metro de distância em pé ou sentadas.

Para isso usaram dois modelos: um que indica o caminho de gotículas respiratórias de vários tamanhos, de acordo com dados da epidemia de SARS em 2003, e outro que calculava o fluxo de ar em redor e atrás de um corredor magro de 1,80 metros que se movesse a cerca de 6,40 minutos por milha ou caminhasse a duas milhas e meia por hora.

Foi então através dos cálculos que descobriram que a maioria das gotículas virais girava diretamente no ar e seguia o corredor. Isto significa que continuava a deslizar na corrente de ar durante mais tempo, fazendo com que a distância social em movimento exigisse um maior afastamento — de pelo menos 9,1 metros. Já para uma caminhada rápida, os cálculos indicaram que seriam necessários 4,6 metros.

Por isso, Blocken deixa algumas recomendações para quem corre ou caminha a um passo rápido: quando circula junto a outras pessoas não deve oscilar muito na trajetória do percurso, nem afastar-se bruscamente depois de uma ultra passagem. "Seja gentil e espere um pouco antes de ir para a frente de alguém", diz o investigador.

Já para quem se depara com um destes desportistas, deve afastar-se até que deixe de o ver, de forma a deixá-lo fora da trajétoria de partículas virais que são arrastadas na corrente de ar, de acordo com Blocken.

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Contudo, deve ter presente que o estudo tem algumas limitações, como o facto de a analise ter como base a altura de um atleta que não corresponde a todos os casos, bem como o estudo de grandes gotículas respiratórias e não outras mais pequenas que permanecem no ar durante mais tempo. A juntar a isto, também não colocou em hipótese se o corredor usa ou não máscara e as variações do vento.

"Acima de tudo, não considerou se as gotículas respiratórias do corredor imaginário continham coronavírus e, portanto, não pode dizer-nos se correr ou andar atrás de alguém aumenta o risco de ser exposto a germes perigosos, apenas aumenta o risco de estar exposto à respiração de outras pessoas", de acordo com o jornal "The New York Times". Blocken já avançou que vai desenvolver ainda um estudo complementar de distanciamento social equivalente para ciclistas.

"O senso comum e este estudo sugerem que, se alguém está a caminhar ou a correr, precisamos dar mais espaço à nossa volta", conclui Linsey Marr, professora da Virginia Tech, ao mesmo jornal.