O ponto 2 do Artigo 4.º do Decreto n.º 2-A/2020, que estabelece as regras para o estado de emergência em Portugal, é claro. Não é proibido sair à rua para "efeitos de atividade física", ainda que algumas regras devam ser cumpridas: estas deslocações devem ser de "curta duração" e nunca realizadas de forma "coletiva" — ou seja, com mais de duas pessoas juntas.

A corrida poderá ser, em muitos casos, o único momento em que portugueses têm a oportunidade para, em período de isolamento, sair de casa e libertar alguma energia acumulada. Ainda por cima, o tempo não está a ajudar. A primavera cumpriu o seu timing e chegou cheia de sol — o que poderá originar mais problemas: potenciam-se os os aglomerados de pessoas que, sem querer, recorrem aos mesmos locais para uma corrida. Em França, tal como em Itália, as restrições às corridas foram mais severas: só podem ser feitas de forma solitária e nas imediações das casas.

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Serão estas medidas mais eficazes? Em que circunstâncias é que é seguro correr na rua? E o que é que são consideradas deslocações "de curta duração"? Meia hora? Uma hora? José Carlos Almeida Nunes, especialista em Medicina Interna, ajuda-nos a encontrar as respostas.

Falemos primeiro da segurança. De acordo com o médico, o mais importante é correr num "local próximo de casa, onde haja pouca gente e onde se possa manter sempre uma distância de segurança superior a dois metros."

Esta questão é particularmente importante: "Quando estamos a correr,  a nossa ventilação, a expiração e inspiração, são mais intensas. Por isso, a propagação de vapor, e potencialmente do vírus, é superior. A barreira superior a dois metros é muito importante, até para protegermos quem está à nossa volta."

Por isso, a par do cuidado em não levar as mãos à cara, sugere também corridas em alturas do dia em que há menor número possível de gente na rua. Esta medida protege-nos a nós e aos outros, considerando que há pessoas que continuam a trabalhar fora de casa, sejam as autoridades, os funcionários dos supermercados, farmácias ou restaurantes com take away, sem esquecer a parte da população que se tem de deslocar para utilizar estes serviços.

José Carlos Almeida Nunes vê com bons olhos as medidas implementadas por Itália e por França e chama a atenção para a possibilidade de se correr em duplas. "Uma coisa é irmos correr com a pessoa com quem coabitamos, a quem estamos constantemente expostos. Outra coisa é ligar ao vizinho para dar uma corrida. Com isso já não concordo, de forma nenhuma."

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Sobre aquilo que se consideram distâncias curtas, o médico diz que não se deve estar mais de meia hora fora de casa, sublinhando que este é o tempo máximo que se deve despender para a atividade física fora de portas. É preciso entender: neste momento, as corridas não servem para obter resultados físicos. "Não vamos treinar. Vamos correr ludicamente. Não é para manter a forma, é para espairecer e esticar os músculos. Temos de ter paciência: vamos todos perder a forma."

Quanto à roupa utilizada, Almeida Nunes diz que é "indiferente" e refere que não é necessária a utilização de máscara ou luvas. Agora, ao chegar a casa, a história já é outra: os sapatos devem ficar do lado de fora da porta durante uma noite ou dia inteiros, porque se sabe "que o vírus é capaz de sobreviver em superfícies muitas horas". A roupa deve ir imediatamente para lavar e a pessoa deve seguir diretamente para o banho.

Portanto, respondendo à questão inicial. Almeida Nunes defende que as pessoas possam correr na rua por uma questão de saúde mental. Mas não é de qualquer forma. Todas as precauções indicadas têm de ser seguidas, para que esta atividade seja segura — para quem corre e para quem está à volta.