Com base no caso de 128 passageiros, sem máscara, transportados em dois autocarros num percurso de 50 minutos para um evento em Ningbo, na China, a 19 de janeiro, os investigadores de centros chineses de controlo das doenças concluíram que "em ambientes fechados onde o ar recircula, a SARS-CoV-2 é uma doença altamente transmissível”.
Esta foi a conclusão do estudo publicado esta terça-feira, 1 de setembro, na revista médica norte-americana JAMA Internal Medicine. A investigação, que pretendia responder à pergunta "a transmissão aérea da síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2) é um meio potencial de disseminação da COVID-19?", vem reforçar o que já se pensava depois de, em janeiro, ser conhecido o caso de um passageiro infetado e assintomático que contagiou um terço do autocarro mal ventilado durante um trajeto inferior a uma hora.
O estudo reforça ainda a tese de que o vírus se transmite pelo ar que cada um expira e inspira, e até pelas microgotículas libertadas pela fala, ao invés das grandes gotículas expelidas por espirros e tosse, ao contrário que várias autoridades sanitárias no mundo afirmaram.
No recente caso estudado uma pessoa de 60 anos, que terá sido o caso inicial de COVID-19, tendo tido contactos anteriores com pessoas de Wuhan, onde a epidemia começou, viajou entre dois passageiros no autocarro dois, no qual 23 dos 68 passageiros ficaram contaminados. Já no autocarro um, não houve nenhum infetado.
O que é que estes números comprovam? Que se o vírus se transmitisse apenas em gotículas de grande dimensão, o círculo de transmissão teria sido menor, pois geralmente caem dentro de um perímetro de um a dois metros. A investigação permite assim perceber que o sistema de climatização do autocarro fez recircular o ar dentro do veículo, contribuindo, provavelmente, para a propagação do vírus.
Além disso, o facto de a pessoa de 60 anos, sendo assintomática, não ter tossido durante a viagem, ou seja, libertado partículas, reforça a conclusão do estudo.