Desde que foi anunciado pelo governo que as creches iriam abrir portas a 18 de maio, embora ainda com opção de apoio à família, muito se tem falado sobre as medidas de segurança que estas instituições terão de implementar. Mas apesar dos esforços da Direção-Geral da Saúde (DGS) em encontrar alternativas para este regresso ser feito com todo o cuidado, os educadores de infância estão preocupados.

Este domingo, 10 de maio, a Associação de Profissionais de Educação de Infância (APEI) divulgou um comunicado onde se manifesta muito preocupada com o iminente regresso às creches, e vai mais longe. Para esta entidade, as recomendações já divulgadas pela DGS são “profundamente desadequadas”.

“Manter uma distância física de dois metros entre cada criança e impedir que possam interagir entre si, evitar o toque em superfícies, dispor mesas em linha ou crianças colocadas de costas umas para as outras, evitar a partilha de brinquedos e outros objectos, ter adultos de referência (educadoras e auxiliares), com os quais as crianças mantêm vínculos profundos, a usar máscaras, são medidas reveladoras de um desconhecimento sobre a realidade do trabalho educativo em creche e sobre o desenvolvimento das crianças com menos de 3 anos”, alerta a associação no comunicado.

Educadores contra reabertura das creches. “São lugares de afetos. É impossível existir distanciamento social"
Educadores contra reabertura das creches. “São lugares de afetos. É impossível existir distanciamento social"
Ver artigo

A APEI reforça também que considera as medidas "profundamente perturbadoras" e "uma violência contra as crianças”. "Pegar ao colo, olhar nos olhos e deixar que a criança crie empatia através da expressão facial, falar perto da sua cara e acariciar o seu rosto são afectos que constroem e cimentam as interacções e o vínculo entre criança e educador/cuidador. Impedir estas manifestações de afecto ou artificializá-las, com máscaras e distância física, é violentar a relação”, avisa a associação no documento.

Apesar de não oferecer soluções concretas, a APEI já divulgou estar disponível para trabalhar junto do governo ou outras entidades para chegar a um melhor cenário. A associação também alertou que não se deve olhar para as creches como"depósitos de crianças", e acredita que o regresso a estas instituições só acontece devido à necessidade de os pais voltarem ao trabalho — mas avisa que tal não é feito no melhor interesse das crianças.

"O regresso das crianças às instituições de educação de infância (creches), apenas é equacionado na necessidade de libertar os respetivos pais para o regresso ao trabalho presencial, para uma retoma progressiva da atividade económica (argumento ao qual a APEI também é, obviamente, sensível) pois, do ponto de vista exclusivo dos interesses da criança, esse regresso não deveria, de todo, acontecer".

De acordo com o plano de desconfinamento proposto pelo governo português, as creches reabrem já dia 18 de maio, ainda com opção de apoio à família, e 1 de junho marca a abertura das restantes creches, pré-escolar e ATL.