Kathleen Folbigg, considerada a “pior assassina em série da Austrália”, foi perdoada depois de estar 20 anos presa pela morte dos quatro filhos — Sarah, Laura, Patrick e Caleb — no espaço de uma década. Este pode ser um dos erros judiciais mais graves do país.
Michael Daley, o procurador-geral de Nova Gales do Sul, ordenou que a mulher fosse libertada devido às conclusões preliminares de um inquérito em que encontrou “dúvidas razoáveis” no que toca à sua culpa nas mortes dos quatro filhos. Numa conferência de imprensa que aconteceu esta segunda-feira, 5 de junho, Michael Daley contou que falou com o governador e recomendou um perdão condicional, que foi concedido de seguida. A mulher foi libertada do Centro Correcional de Clarence no mesmo dia, revela a CNN Portugal.
“Esta foi uma provação terrível para todos os envolvidos e espero que as nossas ações de hoje possam pôr um ponto final neste assunto com 20 anos”, disse Daley, acrescentando que “será um dia difícil” para Craig Folbigg, o pai das crianças, que colaborou com a polícia para construir um caso contra a mulher.
Enquanto em 2019 um inquérito concluiu que não havia dúvidas razoáveis de que Kathleen Folbigg tinha cometido os crimes, em 2022 foi aberto um novo inquérito depois de surgirem provas científicas que forneciam uma explicação genética para a morte das crianças.
Foi Carola García Vinuesa, uma imunologista espanhola, que descobriu que uma malformação congénita poderia explicar a morte dos bebés e, em conjunto com mais dois elementos, listaram todas as possíveis causas das mortes das crianças e 400 genes, desde doenças cardiovasculares até epilepsia.
A partir daí, e através de saliva da mãe e de dados dos bebés, descobriram que Caleb, que viveu 19 dias, tinha uma laringomalácia, uma doença que não o permitia engolir e respirar ao mesmo tempo, e Patrick morreu aos 8 meses com um ataque epilético. A Sarah, que morreu com 10 meses, e Laura, que morreu aos 18 meses, também foram identificadas infeções respiratórias poucos dias antes de morrerem, conforme escreve o “Público”.
Com estas descobertas, a imunologista pediu a revisão do caso e, como lhe foi negado, reuniu um grupo de 27 especialistas mundiais, que publicaram um estudo sobre o tema em 2021, na Universidade de Oxford. O caso ganhou visibilidade e 150 cientistas pediram a absolvição de Kathleen Folbigg ao governador de Nova Gales do Sul através de uma carta.
Kathleen Folbigg, agora com 55 anos, foi presa em 2003 pela morte dos quatro filhos bebés numa década, a partir de 1989, tendo sido acusada de três homicídios e um homicídio involuntário. Nos quatro casos, foi a mulher quem encontrou os corpos e, apesar de não haver provas físicas de que tivesse sido ela a causar as mortes, o júri baseou-se no argumento de acusação de que as probabilidades de quatro bebés de uma família morrerem de causas naturais antes dos dois anos de idade eram comparadas a porcos a voar.
Além disso, algumas passagens do diário de Kathleen Folbigg foram interpretadas de forma isolada como confissões de culpa.