Porquê falar agora? Na primeira entrevista concedida por Alec Baldwin após ter matado, de forma acidental durante as filmagens de "Rust", a diretora de fotografia Halyna Hutchins, o ator justifica-se com o longo processo de investigações.
"A investigação criminal que decorre pode demorar um pouco. Há ainda várias ações de litígio a decorrer, assim como algumas ideias erradas [sobre o que aconteceu]. O departamento de investigações ainda não emitiu o relatório que deverá ter seguimento por parte do procurador. Sinto que não posso esperar que esse processo chegue ao fim", explica Baldwin, em declarações exclusivas a George Stephanopoulos, do programa "Good Morning America", da ABC.
"Não estou a dizer que quero que as entidades em questão acelerem o processo para meu benefício, porque isso seria ridículo. Elas farão o que tem de ser feito." O ator, diz, quer apenas contar a sua versão dos factos, ressalvando, no entanto, que não é uma vítima.
"Há uma coisa que quero dizer e que quero que fique clara ao longo desta conversa: não sou uma vítima nem quero pintar-me como tal. Há duas vítimas desta tragédia", referindo-se não só a Halyna Hutchins, que estava de frente para Baldwin quando a arma foi disparada, e o realizador Joel Souza que saiu ferido.
Quando a arma foi disparada, recorda Baldwin, estavam a decorrer sessões de ensaios e de marcação de cena. Halyna Hutchins foi quem deu indicações ao ator sobre como disparar para a câmara quando aquela cena em particular começasse a ser filmada.
"Ela estava ao lado da câmara, a olhar para o monitor e a guiar-me sobre como segurar a arma num ângulo específico. Mas a arma, que me disseram ser fria [ou seja, sem munições reais no interior] não deveria ter sido disparada naquele ângulo, porque estava a segurá-la imediatamente abaixo da axila, que é um ângulo que não se filma. Quando dizem que temos uma arma fria nas mãos, o que estão a dizer ao estúdio inteiro é que podemos relaxar, porque a arma está vazia", explica.
"Toda a gente ficou em choque. Era suposto a arma estar vazia"
Foi durante esse momento que a diretora de fotografia, Hutchins, lhe terá dito para puxar o martelo [o mecanismo traseiro da arma que, se puxado antes de se premir o gatilho, faz com que o gatilho responda de forma mais rápida]. "Puxei o martelo o mais para trás que consegui sem disparar a arma. Não premi o gatilho. Assim que soltei o martelo, a arma disparou", diz Baldwin.
O que se seguiu, foi o caos total. "Toda a gente ficou em choque. Era suposto a arma estar vazia e foi-me dito isso mesmo. Ela [Hutchins] caiu, e pensei: 'Será que desmaiou?'. Só me apercebi de que a arma poderia ter tido munição verdadeira cerca de 45 minutos ou uma hora depois do disparo."
A notícia da morte da diretora de fotografia foi comunicada a Alec Baldwin já depois de ter prestado declarações às autoridades. A fotografia, amplamente divulgada nos vários órgãos de comunicação social, mostrando o ator visivelmente abalado enquanto falava com alguém ao telefone, foi captada nos minutos após saber da morte da colega.
Desde o incidente, as autoridades revelaram que tanto Baldwin como a armeira, Hannah Gutierrez e o assistente Dave Hall estavam a ser investigados. Quando questionado sobre se, em algum momento, o comportamento de Gutierrez lhe levantou alguma suspeita, o ator foi assertivo, dizendo que não.
"Assumi que ela era capaz de fazer aquele trabalho porque estava ali e tinha sido contratada para esse efeito", explicou, negando, porém, as alegações levantadas pelo advogado da armeira, que deixou no ar a hipótese de o incidente se ter tratado de um ato de sabotagem.
"Essa acusação é muito grave de se fazer. Alegar que alguém entrou nos estúdios e fez algo? Com que objetivo? Para atacar quem? E para descredibilizar quem? É bastante provável que tudo isto tenha sido um acidente", assegura o ator.
"Alguém é responsável pelo que aconteceu, mas sei que não sou eu"
Após a tragédia, Alec Baldwin já esteve tanto com Matthew Hutchins, marido de Halyna, como com o filho de ambos que tem, atualmente, apenas 9 anos.
"Foram tão amáveis quanto lhes era possível ser. Ele [Matthew] disse-me: 'Bom, parece que tu e eu vamos ter de passar por isto juntos'", recorda o ator. Visivelmente emocionante, Baldwin recorda a conversa que teve com a criança.
"Esta criança já não tem mãe e não há nada que possa fazer para a trazer de volta. Disse-lhe que não sabia o que dizer, ou como demonstrar-lhe o quão lamentava, mas que iria fazer tudo para cooperar [com as investigações]." O ator, no entanto, prevê que o marido de Halyna instaure um processo judicial pela morte da mulher. "Como é que isso não poderia acontecer? A sua mulher foi morta. Alguma coisa aconteceu e isso resultou na morte da sua mulher", sublinha o ator.
"Alguém é responsável pelo que aconteceu, não consigo dizer quem, mas sei que não sou eu", assegurou Baldwin que, por diversas vezes durante a entrevista, garantiu não ter disparado aquela arma.
Questionado sobre se isto poderá ditar o fim da sua carreira, Baldwin assume isso como provável. "Tudo o que tenho agora é a minha família e não poderia querer saber menos da minha carreira neste momento". Mas não sente culpa. "Se sentisse culpa ou algum tipo de responsabilidade, mais valia matar-me."