Thomas Randele, um simples pai de Lynnfield, Massachusetts, morreu em 2021 com cancro do pulmão. Esta notícia, por si só, de um homem alegadamente comum, não seria algo que viesse a chocar o mundo, mas a descoberta de um dos maiores segredos da sua vida tornou-o num caso de investigação.

Isto porque, dois meses antes de morrer, Thomas chamou a filha, Ashley, 38 anos, e fez uma confissão surpreendente: era um fugitivo, e tinha-o sido durante mais de cinco décadas. Quando tinha 20 anos, na década de 60, Thomas roubou 215 mil dólares, o equivalente a 1,7 milhões de dólares nos dias de hoje (1,564 milhões de euros), de um banco do Ohio e, quando fugiu, até o próprio nome mudou. Thomas Randele era, na verdade, Theodore Conrad. 

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Numa conversa recente com a CNN, Ashley contou que o pai lhe implorou para não investigar o caso, mas a curiosidade foi mais forte do que ela. Quando pesquisou “Ted Conrad desaparecido”, centenas de artigos sobre o roubo apareceram, e o passado de um pai que não conhecia começou a ser explorado.

Na cidade onde morava com a família, no Massachusetts, Thomas Randele era um simples vendedor de automóveis e um profissional de golfe que fazia doações a instituições, mas em Cleveland, no Ohio, ele era Ted Conrad, o homem que realizou um dos maiores assaltos da história do estado norte-americano, inspirado no seu filme favorito, “O Grande Mestre do Crime”, de 1968. 

E não só se inspirou como o próprio assalto pareceu saído de um filme. Como relata a CNN, foi no dia 11 julho de 1969, sexta-feira antes do aniversário de Thomas Randele, que o roubo aconteceu. Nesse dia, Ted Conrad apareceu no Society National Bank, em Cleveland, para trabalhar e, durante a sua pausa, comprou um maço de cigarros e uma garrafa de uísque para celebrar mais um ano de vida. No final do dia, como quem não queria a coisa, entrou no cofre do banco, guardou os 215 mil dólares num saco de papel e saiu do trabalho.

Só na segunda-feira seguinte é que o banco soube do assalto, e a cara do jovem de 20 anos foi estampada em cartazes e transmitida em vários episódios de "America's Most Wanted" e "Unsolved Mysteries", assim como tinha atrás dele vários militares que tinham como missão de vida capturá-lo. No entanto, o caso acabou por desmoronar, pois não existiam vestígios do culpado. Na semana seguinte, o voo espacial Apollo 11 fez aterrar os primeiros humanos na Lua, pelo que esta missão histórica acabou por ocupar todos os jornais.

Assim, mesmo com várias pessoas atrás dele ao longo das mais de cinco décadas, o antigo Ted Conrad começou a construir uma nova vida como Thomas Randele, em Massachusetts, e Ashley confessou à CNN que acreditava que o pai gostava tanto do filme de 1968 que escolheu o seu novo nome em homenagem à personagem principal. 

Apesar de não viver propriamente escondido, pois levava a filha diariamente à escola e acompanhava-a nas visitas de estudo, os mais pequenos detalhes começaram a fazer sentido para Ashley, depois de descobrir o passado do pai. Quando era mais novo, pelas fotografias, Thomas não usava barba, mas desde que se lembra do pai que Ashley o via com a barba por fazer e nunca tirava o chapéu em público, agora pensando que poderia ser para esconder a cara.

Thomas também nunca quis sair do país, mesmo com a filha e com a mulher a pedir várias vezes, alegando que não era fã de viagens ao estrangeiro. "Ele dizia sempre que havia tantas coisas interessantes para ver nos Estados Unidos que não precisava de sair do país", disse Ashley à CNN.

Em março de 2021, quando Thomas decidiu contar o seu passado, a filha contou à mãe, Kathy, o que se passava, e juntas decidiram não partilhar o seu segredo com as autoridades, pois a última coisa que queriam era ver Thomas de 71 anos a ser levado para a prisão. "Na altura, não consegui ficar zangado com ele, porque me pareceu injusto. Estava a tentar obter dele o máximo de informação possível, só porque queremos saber... Consegui ficar zangada depois de ele ter morrido”, disse Ashley à CNN.

Dois meses depois, em maio, Thomas Randele acabou por morrer. As duas fizeram um pacto e decidiram fazer um ano de luto pelo homem que perderam, decidindo notificar a polícia em junho de 2022. No entanto, as autoridades anteciparam-se.

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Em novembro de 2021, as autoridades apareceram à porta de casa da família Randele, garantindo que as duas não iriam enfrentar quaisquer acusações. Explicaram que, depois de Thomas ter morrido com cancro no pulmão, o seu obituário tinha sido enviado para um repórter criminal no Ohio, com uma nota a explicar que o corpo poderia pertencer a Conrad, o que acabou por ser confirmado. Entre os militares presentes estava um com o nome de Elliot, cujo pai, John Elliott, tinha passado grande parte da sua carreira de polícia à procura de Conrad.

Ashley Randele, depois de descobrir o passado do pai, decidiu juntar-se ao podcast "Smoke Screen: My Fugitive Dad", onde são relatadas algumas investigações sobre casos parecidos ao dela. A sua temporada estreia esta segunda-feira, 4 de dezembro, e Ashley irá discutir a luta que foi cuidar de um pai moribundo enquanto se sente confusa com as mentiras que, involuntariamente, viveram consigo toda a sua vida. Ao pensar que o assalto seria mais do que uma paixão por um filme, Ashley acabou por encontrar alguns antigos amigos e namoradas do pai, que partilharam histórias sobre ele e a ajudaram a preencher algumas lacunas da sua juventude.