O professor Alberto Veronesi, da região de Lisboa, está revoltado com o facto de os docentes continuarem a ser requisitados para irem às escolas, num momento em que o País está em estado de alerta e as aulas suspensas. O docente escreveu um texto num blogue de professores em que mostra a sua indignação e diz mesmo que os os professores ao irem às escolas tornam-se em "assassinos silenciosos" e vítimas uns dos outros.
“Ficam suspensas as atividades letivas e não letivas e formativas com presença de estudantes (...)” É o primeiro ponto do artigo 9.º do Decreto-Lei n-º 10/A/2020, publicado no Diário da Republica a 13 de março, que “estabelece medidas excepcionais e temporárias à situação epidemiológica do novo Coranavírus”.
No decreto-lei fala-se no afastamento dos alunos das escolas. Mas e os professores? Segundo o professor Alberto Veronesi há uma "brecha"neste decreto-lei — nomeadamente, na frase “ficam suspensas as atividades letivas e não lectivas com a presença de estudantes” — que tem feito com que “vários diretores se considerem no direito de pedirem a presença dos professores nas escolas", escreveu este domingo, 15 de março, numa publicação do blogue de professores “VozProf”,
Neste texto, apesar de identificar uma "esperança" num dos pontos do comunicado do Ministério da Educação (que prevê reuniões à distância sempre que possível), Alberto Veronesi lança várias questões, pondo em causa as descritas incluídas no decreto, que não salvaguardam a segurança dos professores e de todos aqueles com quem eles vierem a contactar: “Perante o pedido de quarentena do Governo, fará sentido os mais de 100 mil professores, fazerem as suas deslocações diárias para os milhares de escolas por esse país fora?”, questiona Alberto Veronesi.
“Será que é assim tão necessário ter os professores nas escolas, sem computadores, sem internet, sem condições de higiene, sem espaços próprios e que evitem o contacto entre si? Será que cada um de nós não estará comprometido ao máximo para auxiliar os seus alunos a partir de casa, onde ao mesmo tempo podemos olhar pelos nossos filhos?”
Lança ainda perguntas que procuram nomear responsáveis: “E se formos convocados e ficarmos infetados, quem será o responsável? Estando infetados, infetamos mais uns quantos, no local de trabalho e depois ao chegar a casa!", questiona. "Os diretores querem mesmo responsabilizar-se por esta situação?
Percebamos de uma vez por todas é uma situação inédita para todos nós, temos que adaptar tudo, o paradigma de vida muda, veremos se de forma transitória se para todo o sempre!", reforça mais à frente.
Fazendo referência à escassez de ventiladores, o problema, considera, "pode até não ser o vírus em si, no sentido em que a letalidade", mas antes "na falta de meios para o combater em momento de pico."
No final, o Alberto Veronesi deixa um apelo ao Ministério da Educação, para que este "venha a público esclarecer esta situação, mas lembre-se de uma coisa aqueles que forem obrigados a ir trabalhar podem ser possíveis assassinos silenciosos e nós vítimas deles e vice-versa!"
A vida humana, remata, é prioritária. "Tudo o resto é acessório, não há um eu, há um nós!"