Durante 16 anos esta mulher foi agredida, atropelada, insultada e exposta nas redes sociais pelo companheiro com quem vive desde 2004. Foram precisas múltiplas agressões para que o agressor, de 38 anos, fosse detido e tal só aconteceu em fevereiro deste ano. Depois de ter sido posto em prisão preventiva, está agora a ser julgado no Tribunal de S. João Novo, no Porto, por violência doméstica contra a mulher e o filho, agora com 16 anos.
O casal começou a namorar e a viver junto no Porto em 2004, altura em que o filho nasceu. Foi desde então que o agressor passou a maltratar a mulher de forma contínua e sistemática, segundo a acusação da secção especializada em violência doméstica do Ministério Público (MP) do Porto, citado pelo "Jornal de Notícias". A vítima foi atropelada, insultada, posta fora de casa e obrigada a dormir na rua e ainda se viu exposta na internet quando o agressor, técnico de informática, publicou fotografias dos hematomas que lhe tinha causado. Na legenda da fotografia que partilhou com os amigos, a frase: "É assim que se trata as putas das mulheres."
"Por várias vezes, o arguido e a sua mãe a puseram fora de casa, ficando a mesma a dormir na rua", lê-se na acusação citada pela mesma publicação. Quando o filho tinha apenas dois meses, o agressor atropelou a companheira com o carro, embatendo com violência nas pernas. A vítima não foi ao hospital, a pedido da sogra que, sabe-se agora, terá sido uma das catalisadoras de uma nova agressão.
É que quando os três regressam de um almoço de família, a sogra conduzia o automóvel em que todos seguiam e a mulher terá dado indicações sobre qual seria o melhor trajeto a seguirem para chegarem a casa. A sogra respondeu que a mulher seria violentamente espancada pelo marido se ousasse sugerir como deveria conduzir. Quando chegaram a casa, o companheiro agrediu-a uma e outra vez. E permaneceu em liberdade.
Em 2013, a mulher voltou ao hospital depois o marido a ter espancado num parque de campismo em Vila do Conde, local onde a família passara férias. Em 2015, voltou ao hospital devido a uma nova agressão e foi aberto um novo inquérito. Em nenhum deles a vítima prestou declarações por medo.
Em agosto de 2019, a mulher tentou pôr termo à vida. "Para o efeito, após ter ingerido medicação com bebidas alcoólicas, a ofendida colocou um lenço à volta do pescoço e tentou enforcar-se, tendo sido o filho que a impediu de amarrar o lenço ao teto", diz a acusação. Em junho voltou a ser agredida pelo marido depois de este pegar num martelo e destruir a aliança de casamento.
Foi o filho que alertou a Polícia de Segurança Pública. A mulher foi internada e o marido detido e impedido de se aproximar dela, embora continuasse a viver na casa da família. Em fevereiro deste ano, após uma nova agressão, o agressor foi finalmente detido e está agora a ser julgado.