Em setembro de 2014, dois meses após a trágica morte do filho, André Sousa Bessa, vítima de um acidente, Judite Sousa regressava ao trabalho. E o regresso acontecia com uma entrevista a Cristiano Ronaldo, gravada em casa do craque, em Madrid, Espanha. Agora, no livro de memórias "Pedaços de Vida", que chegou esta segunda-feira, 23 de janeiro, às livrarias, Judite Sousa revela detalhes sobre como aconteceu essa entrevista.

Judite sousa
Judite sousa créditos: Penguin Random House

"Pedi a entrevista ao seu empresário Jorge Mendes, numa festa de aniversário, no Algarve, em que coincidimos. No exato momento em que falei com o Jorge Mendes, à minha frente, ele ligou para Ronaldo e pediu-lhe a entrevista. O Cristiano disse imediatamente que sim", relembra a jornalista, referindo-se ao então agente do futebolista. Judite conta que fez a entrevista "muito fragilizada".

"Era ainda muito nova. Estava com 53 anos e ou trabalhava, ou ficaria de baixa médica. Acontece que, na altura, nenhum médico me disse com frontalidade que eu teria de parar um ou dois anos para fazer o luto do meu filho. E foi nessas circunstâncias que regressei ao trabalho em setembro", conta. Recorde aqui e aqui a entrevista.

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Além de referir que Marcelo Rebelo de Sousa, então comentador do "Jornal das 8" aos domingos, lhe ter pedido para regressar antes ("chegou a definir o dia 15 de agosto de 2014"), Judite Sousa conta que, num jantar com amigos, foi criticada de forma velada por dois colegas. Um disse-lhe que deveria ter voltado ao trabalho com Marcelo Rebelo de Sousa.

"Mas como é possível pensar que eu agi mal, se voltei com uma entrevista ao melhor jogador do mundo!?", terá questionado. Depois, a jornalista conta que, no mesmo jantar, uma colega lhe terá dito: "Sabes, eu tinha pedido ao Jorge Mendes uma entrevista ao Ronaldo". Judite e o pai do filho, que a tinha convidado para aquele jantar, abandonaram o local.

Os media e a classe jornalística são os dois grandes alvos de Judite Sousa em "Pedaços de Vida", aos quais dirige duras críticas. "Aquilo que eu sinto desde o dia 29 de junho de 2014 é uma total ausência de empatia da classe jornalística para com a minha perda. Não da opinião pública. Não dos espectadores. Não dos Portugueses. Mas da minha classe profissional, sim", escreve. Numa outra parte do livro, insinua que foi criada uma rede de perfis falsos para a "atingirem e destroçarem emocionalmente", aquando da sua saída da CNN Portugal, em agosto de 2022.

"Foi escrito nas redes sociais que eu ´consumia as mesmas substâncias' que o meu filho. Tudo serviu para me atingirem e destroçarem emocionalmente. Literalmente tudo. Quem em fez isto? Segmentos do sistema mediático de Lisboa, uns infiltrados na redações das televisões, de jornais e de revistas com extensões às redes sociais onde abundam os perfis falsos", argumenta a jornalista.