Sem entrevistas, comentários públicos ou redes sociais, Marta Cardoso tem optado por resguardar a vida pessoal ao máximo, desde a exposição mediática que sofreu depois de participar na primeira edição do “Big Brother”.
Às cegas e sem saber o que a esperava, a 3 de setembro de 2000, decidiu entrar na casa mais vigiada do País. Agora, mais de duas décadas depois, aceitou ser entrevistada por Maria Cerqueira Gomes, no programa “Conta-me”, da TVI. Emitido este sábado, 12 de fevereiro.
Aceitou reviver a experiência do "Big Brother" e o amor que conheceu lá dentro, falou da própria família e até do que a leva a não ter redes sociais, mas aproveitou o momento para deixar um recado à televisão nacional, face ao preconceito que os concorrentes sentem quando abandonam reality shows: "Se a própria televisão é preconceituosa, não se pode pedir às pessoas que tenham outra perspetiva". Mas já lá vamos.
"Fui para o Big Brother à procura de paz e tropeço no Marco"
Entre ondulações debaixo dos lençóis, agressões físicas e polémicas, Marta Cardoso garante nunca se ter arrependido de entrar no primeiro “Big Brother”, mas diz que, ainda que não seja adepta de tentar prever o dia de amanhã, desconfia de que não voltaria a entrar num programa do género. Não pela experiência pessoal, mas pelas repercussões que a decisão tem cá fora. "Eu não tinha noção do que estava prestes a acontecer".
"Tenho dúvidas de que me inscrevesse no 'Big Brother' 2 ou 3, porque agora tenho noção do impacto que tem cá fora. Nunca me passou pela cabeça que [os meus pais] fossem arrastados para uma brincadeira que era só minha. Para mim, era só mais uma aventura, era muito aquela ideia de férias loucas", explica.
Ainda assim, conheceu um homem que mudou o rumo da sua vida: Marco Borges, também concorrente da primeira edição do "Big Brother". Entre conversas intímas, piropos e aproximações, relembra como é que se apercebeu de que era amor. E, garante: tudo se resumiu ao perfume.
Quando o nível do perfume começou a descer e a necessidade de se arranjar e perfumar começou a aumentar, mais precisamente."É complicado. Numa casa como esta não tens noção de nada, mas senti [que me estava a apaixonar], quando comecei a sentir a necessidade de me perfumar de manhã", conta.
Isto, dentro da casa, claro. Cá fora, percebeu que era mesmo amor quando decidiu que era uma boa altura para engravidar, revela.
"Dentro da casa, o que estava a viver era uma paixão. Por isso, não valia a pena pôr a carroça à frente dos bois e vir a correr atrás dele quando saiu. O facto de eu estar apaixonada pelo Marco não invalidava o meu objetivo de levar o meu jogo ao limite", diz. "Quando o Marco sai, eu decidi ficar. Nunca me passou pela cabeça sair a correr atrás dele. Esse mês e meio sem ele, permitiu-me perceber o que estava a sentir. Depois saí e fui viver a paixão".
"Não o deixava à porta da escola, para não saberem que ele era meu filho"
"Ele sempre quis ser pai, eu sempre quis ser mãe muito jovem e pensei: ‘Tenho as condições ótimas, já que a perfeitas nunca vão existir, com a pessoa que está ao meu lado e que eu adoro'. Deixei de tomar a pílula e, no mês seguinte, pumba, toma lá, engravidei". O casal tem um filho em comum, Marco, de 20 anos, mas a relação terminou quando este teria apenas 7 anos.
Ainda assim, Marta Cardoso explica que teve de mudar certos hábitos para que o próprio filho pudesse ter uma vida normal, sem repercussões da exposição mediática dos pais.
"Não o deixava à porta da escola, para não saberem que ele era meu filho. Para o proteger. Evitava ir às reuniões da escola, preferia por telefone. Para não me ter de cruzar com ele nos corredores", conta. "As minhas decisões não têm de fazer eco nos outros e em quem não se identifica com elas. Tenho de conseguir que o meu sonho não seja o pesadelo de ninguém".
Marta Cardoso confirma que já recebeu ameaças digitais, contra si e contra a própria família, mas garante que esse não é o verdadeiro motivo pelo qual não tem redes sociais.
"As redes sociais deixaram de fazer sentido na minha vida muito rapidamente. Quando fui ameaçada, não foi a ameaça em si, nunca achei que eram ameaças reais, nunca senti medo de sair à rua. Foi só o que eu precisava para ter a certeza de que aquilo já não era para mim", explica.
"Aquilo não é mais do que uma montra, onde abres as portas e janelas de tua casa para que pessoas se sintam confortáveis a entrar. E isto fazia sentido se eu estivesse disponível para o fazer, como fazia quando entrei para o 'Big Brother'. Aí, eu sabia que estava a ser vista e as pessoas tinham legitimidade para o fazer. Mas eu tenho legitimidade para dizer ‘já chega’”.
"Eu não tenho nada para partilhar, a minha vida é um tédio, não tenho nada para ensinar a ninguém, nem sou ninguém para o fazer. Não sou uma referência, nem quero ser, até porque eu tropeço todos os dias. Eu não sou essa pessoa. Não quero essa responsabilidade em cima de mim, quero paz na minha vida".
Hoje, não tem redes sociais, mas continua a trabalhar em televisão, depois de se ter afastado quando terminou a edição do"Big Brother 2020". Ainda assim, conta que, desde que participou, nunca conseguiu olhar para o programa como espectadora e tem dificuldade em compreender o preconceito de que os concorrentes são alvo.
"No Brasil são estrelas, porque a televisão que emite o reality show os trata como estrelas"
"Como não tenho esse preconceito, é-me difícil compreendê-lo. Mas sinto-o. E acho que como em qualquer sociedade as coisas têm um processo. Não consegues mudar a mentalidade das pessoas de um dia para o outro, em qualquer temática. Mas não sei de onde vem: se das pessoas ou do próprio meio. E é isso que é difícil discernir", começa por dizer.
"No Brasil [os concorrentes] são estrelas, porque a televisão que emite o reality show os trata como estrelas. E isso passa para o público. Agora, se os próprios meios – a televisão, as revistas, os jornais ou a rádio – são preconceituosos, então só servem para aquilo: para se expor, para dar audiências e depois ‘adeus, vai andado’".
"Se a própria televisão é preconceituosa, não se pode pedir às pessoas que tenham outra perspetiva". Mas frisa que não compreende a origem dos estereótipos. "Se eu trabalho em televisão e sinto tanto apoio e carinho das pessoas, então onde é que está esse preconceito?".
Ainda assim, Marta Cardoso remata a entrevista com a certeza de que hoje trabalha em televisão, mas amanhã "logo se vê".
"As pessoas perguntam-me ‘estás de voltas aos reality shows’ e não, não estou. Estou de volta a este reality show. Estou-me a divertir e agora faz-me todo o sentido estar aqui. Mas se amanhã começar a sentir que este já não é o meu lugar, agradeço a todos, despeco-me e vou à minha vida. Se eu poder viver cem vidas dentro desta vida, não digo que não a um", conclui.