Enquanto fazíamos tempo para que chegasse a hora marcada, olhávamos para o Largo do Picadeiro, junto ao Teatro São Luiz, em Lisboa, e pensávamos sobre como seriam as andanças daquele mesmo sítio uns século antes. Pensávamos no imaginário dos livros do Eça, nas roupas, nas tertúlias, nos bailes e quase que conseguíamos ouvir as tipoias (meio de transporte da época) a passar.
Assim que cruzámos as portas do Meat Me, o novo restaurante do Chiado, percebemos que não íamos, em parte, sair do universo em que estávamos a pensar instantes antes, ainda que das colunas saísse um tema de Miles Davis. O facto de termos seguido diretamente para o bar ajudou. É uma espécie de Ramalhete. Ali há veludos, peles, lareiras, livros, paredes de tons mais escuros, um bar corrido, em madeira e com cadeiras altas, tudo elementos que davam o ar dos Ladies and Gentleman’s Clubs ingleses.
A ideia era precisamente essa, explicou-nos de seguida Margarida Pereira, do grupo Sea Me, aquele que detém este espaço. Homenagear o Chiado antigo, mas dar-lhe, em simultâneo, mais mundo, num sítio sofisticado, mas igualmente relaxado, era aquilo que se planeava para o Meat Me. Mas, antes de especificarmos detalhes do bar, vamos sair da mezzanine, descer um andar e seguir para a sala de refeições, onde lhe apresentamos a rainha desta casa — a carne.
Do Chuleton ao bife Wellington. Se gosta de carne, faça já reserva
Muito importante. O Meat Me é um parceiro oficial do espanhol El Capricho, aquele que já foi considerado um dos melhores restaurantes do mundo para provar carnes maturadas — em grande parte pela sua técnica “irrepreensível de assar”, como o próprio Meat Me frisa numa das páginas da sua carta.
Aqui por Lisboa é o chef Tomás Pires, 32 anos — já passou pelo The Oitavos, Tavares e Grupo Olivier — e a sua equipa que tratam de tudo. A carta está dividida por animais, desde a vaca, ao porco ou às aves, que podem seguir para a parrilla, para a robata ou para o forno, todos aquecidos a carvão. Os clientes podem ir até ao balcão para analisarem e escolherem o produto, sendo que há uma descrição que inclui a raça e origem do animal. A peça é preparada e, antes de ser cozinhada, é levada à mesa do cliente, para lhe ser exposta, juntamente com a indicação do preço.
Vamos a pormenores. No capítulo dos bovinos, há chuleton de vaca (125€/kg) ou de boi (235€/kg) El Capricho. Há lombo (27€, 250g), beijinho (17€, 200g) ou ainda vazia com osso Wagnyu, uma vaca de origem japonesa criada no Chile (125€). Dentro dos clássicos, pode provar o bife Wellington (25€) ou a aba de novilho à colher (16,5€). Já nos suínos, não deixe de experimentar a tomahawk de porco preto de Montaraz (35€) e, nas aves, as pernas, peitos e asa de codorniz (12,5€). Para quem já está a pensar no amigo que não come carne, aqui há solução, seja pelo polvo barbecue (22€) ou pelo atum chimichurri (24€).
Mas antes, forre o estômago. Depois de experimentar a gordura de porco preto e escamas de sal, a focaccia, o flat bread e o pão de mistura, incluído no couvert (4,5€), aposte numa entrada. Sugerimos os croquetes, feitos de aba de novilho e maionese de alcaparras (12€) ou cremoso de batata assada e aioli picante (11€).
António Roxo, 34 anos, é sommelier, portanto é quem o vai guiar pela rica e extensa lista de vinhos, composta por dezenas de produtos, de todas as regiões do País, que a equipa do Meat Me conheceu pessoalmente quando se encontrava de viagem em busca daqueles que seriam os melhores produtores para fornecerem as opções para a carta. Quando a estiver a observar, note as preciosidades: são garrafas únicas, exclusivas e antigas que os produtores de cada região destacaram.
Na carta das sobremesas, prove o mil folhas de doce de leite, caju salgado e limão (8€) ou ainda o charuto de chocolate, whiskey Glenfiddich, fumo e clementina (8,5€). E termine com uma experiência: o café balão (3,5€), em pode assistir ao café a ser feito, mesmo à sua frente, na mesa. Como? Exatamente como é feito naquelas cafeteiras antigas, mas num balão transparente e bastante mais sofisticado, que permite ver a água a unir-se com o café moído.
O prato, o whiskey e o amor perfeito
Para passar pelo Meat Me não precisa de ir comer. Na composição da identidade do espaço aquilo que se fez foi criar três irmãos, que coexistem, mas que também sabem ser independentes: há o restaurante, há o bar e, no futuro, haverá um terraço ao ar livre. A inspiração para a criação do símbolo do Meat Me partiu desta mesma ideia e está representada nas roupas do empregados, nos guardanapos e nas cartas onde facilmente conseguirá ver reunidos um prato, uma garrafa de whiskey e um amor perfeito.
Desmontado o primeiro signo — o prato, referente ao restaurante — falta ver os outros dois. Se a ideia for apenas beber um copo, suba até lá e deixe-se ir pelo espírito da tertúlia. Na carta, desenvolvida pelo chef de bar Vasco Martins, vai encontrar algumas das bebidas mais clássicas, misturadas sem recurso a composições muito barrocas, porque o que interessa é recuperar tradições antigas, algumas das quais perdidas, ainda que com um toque mais fresco e moderno.
Sem exceder muito os três ingredientes, e com principal destaque para o whiskey, cognac e bourbon, a importância daquilo que a terra nos oferece também vem contemplado na missão desta parte do Meat Me. A Glenfiddich está em peso nas prateleiras deste bar, não fosse o Meat Me o primeiro embaixador desta marca antiga de whiskey em Portugal.
Falta ainda falar das particularidades especiais do gelo, outra evidência que reflete a importância que aqui é dada a todos os pormenores. Como nos explicaram Guilherme Santos, barman, e Vasco Martins, chef de bar, a técnica a que se recorre é a da congelação inversa, o que resulta em água completamente livre de impurezas. Mas há mais detalhes: na casa de banho, unissexo, há perfumes Skin Life à disposição dos clientes, capazes de reforçar diferentes estados de espírito (sensualidade, coragem, inteligência, por exemplo), ou pelo menos é esse o desejo. Na sala de refeições o teto é forrado com mantas mizette, oriundas de uma fábrica alentejana de lanifícios ou ainda, e logo à entrada, um escultura de um animal assinada pelo artista Silvio Vicenzo Fiorencio.
Por último, o terraço. O terraço ainda não está a funcionar, mas espera-se que abra portas em breve. Vai ter um conceito mais leve, com uma carta e lista de cocktails a condizerem. Podemos adiantar-lhe que vai ter uma esplanada inspirada nas flores francesas, bem como um carro de ostras, acompanhado por champanhe da marca Laurent-Perrier, outra das quais o Meat Me é embaixador.