Ao subir a Avenida da Liberdade desde os Restauradores em direção à praça Marquês de Pombal, passamos pela francesa Claudie Pierlot, o cinco estrelas Sofitel Lisbon Liberdade, pela Boutique Rolex, pela Max Mara e eis que, ao virar da esquina após uma avenida de muitos luxos, encontramos um humilde pedaço do Japão: o novo Kapitan Ramen Bar, com ramens do M ao XL.
Já existe um Kapitan Ramen Bistro na zona dos Anjos, em Lisboa, que abriu na altura da pandemia. Apesar das circunstâncias, o sucesso tem sido tanto para apenas cerca de 20 lugares, que as fundadoras e amigas Angela Chen Cheng (tradutora e viajante atenta que se inspirou no mundo para abrir um restaurante de ramen) e Yukun Zhang (que já geria um restaurante francês em Xangai, China), tiveram de abrir um novo restaurante, agora com 70 lugares distribuídos entre as salas (incluindo uma mais reservada para grupos), a esplanada e os bancos altos no bar.
E, para sorte de todos os que são fãs de ramen e dos turistas que procuram menus rápidos, como o vegetariano de que falaremos à frente, depois de algumas peripécias devido à guerra na Ucrânia (e que nada tem que ver com falta de massa chinesa, aqui servida em mais de 100 gramas por cada ramen), acabou por ser possível abrir o restaurante.
"O proprietário do espaço é ucraniano e na altura, quando assinámos o contrato, ele estava fugido da Ucrânia para a Polónia e quase não conseguimos contactá-lo", conta à MAGG Angela Chen Cheng. Apesar de o dono do espaço ter ficado sem internet, lá conseguiram fechar o acordo, que é de momento a única fonte de rendimento do proprietário agora refugiado.
Uma multiculturalidade — vinda da Ucrânia, da China, do Japão, da Alemanha onde Angela teve a ideia de abrir o Kapitan Ramen e da França que levou Yukun para a área da restauração — está dentro do novo Kapitan Ramen Bar, que fomos conhecer ao pormenor. Mas antes, quisemos perceber o que diferencia este ramen.
O ramen cuja "a essência está no caldo"
Seja num ou noutro espaço, os ramens aqui servidos são feitos à semelhança da receita de ramen recriada na cidade de Yokohamaa, no Japão, escolhida por Angela e a sócia, Yukun, para tirar um curso de ramen.
"Quando Yokohamaa abriu o porto ao mundo, começaram a chegar comerciantes chineses àquela cidade e gradualmente foi-se criando uma Chinatown lá", começa por contar Angela Chen Cheng sobre a história da cidade. "Os chineses é que levaram a cultura de massa até à cidade de Yokohama. Portanto, o ramen que existe hoje em dia no Japão é uma adaptação dos japoneses através da cultura de massa chinesa", continua.
O que difere então o ramen chinês do japonês servido no Kapitan Ramen? "Os japoneses focam-se bastante no caldo. Por exemplo, na massa chinesa, o aspeto pode ser muito semelhante, mas faz-se de forma muito mais rápida. No ramen japonês, a essência está no caldo, de carne principalmente, que é muito mais demorado. O Tonkotsu é feito com ossos de porco, da perna e da costa. Normalmente faz-se em dois dias", explica a chinesa sobre o método de confeção do caldo que se quer com uma textura branca e cremosa.
Como topping, o mais tradicional traz fatias de barriga de porco marinado (chamadas de shoyu) e ovo marinado "elemento muito característico", segundo Angela, e que, por ter uma gema mais brilhante, faz estranheza a alguns clientes que perguntam "porque é que me está a dar o ovo cru? Como se come?". No entanto, há apenas uma resposta: "Come-se assim mesmo", brinca a co-fundadora.
Menos tradicional, existe também um ramen vegetariano, cujo caldo demora menos horas e é feito com leite de soja.
São várias as versões disponíveis no Kapitan Ramen Bistro e Kapitan Ramen Bar, e neste último, o novo localizado junto à Avenida da Liberdade, há uma forma de saber de qual é que gosta mais.
Nunca provou ramen? Uma degustação pode ser um bom começo
Uma das grandes novidades do Kapitan Ramen é que o restaurante, perto da praça do Marquês de Pombal, tem uma oferta mais vasta.
"Uma novidade que introduzimos cá são os diferentes tamanhos. Agora estamos a servir do tamanho M ao XL. O normal é o M. Depois no XL duplicamos o ovo, mais carne, etc", explica Angela Chen Cheng. Existem também ramen em tamanho XS, mas em vez de apenas um, são vários os que podem ir para a mesa neste tamanho através do menu de degustação — que já tinha sido experimentado nos Anjos.
Vem com dois mini ramens (um de carne, o Tonkotsu de porco ou o Miso KaPaitan de frango, e outro vegetariano) e um mini arroz de chashu de porco (13€).
"Há muita gente que ainda não conhece o ramen e não sabe qual é o caldo mais adequado. Cada um experimenta um, e se calhar na próxima escolhe o que se adaptar melhor. Isso foi também umas das formas como aprendemos no Japão: o nosso professor levava-nos a vários e chegávamos a experimentar dez ´[ramens] por dia", refere Angela, acrescentando: "Engordámos bastante", diz entre risos.
No Kapitan Ramen Bar vai encontrar caldos de porco e de frango, cujos toppings combinam com a proteína da base. O ramen clássico, o Tonkotsu Ramen, com caldo de porco, leva fatias de shoyu de porco, legumes e ovo (10,95€ na versão M e 15,50€ na XL) e o Miso KaPaitan, com caldo de frango, é guarnecido com panado de frango e ovo (10,95€ na versão M e 14,95€ na XL).
Outra das novidades do Kapitan Ramen Bar é que em cada ramem pode pedir mais um nível de picante até ao número quatro, basta acrescentar o hell ramen (1€). Se não bastar, em breve chegará um quinto nível para aqueles que são imunes aos suores e tosse que o primeiro nível de picante já provoca, por exemplo, no kapitan vegetariano — servido com tofu, tempeh, raíz de lótus e cogumelo preto (12,90€) —, que provámos.
Por falar em vegetariano, existe ainda um menu vegetariano, composto por edamame, mini veggie ramen e uma bebida não alcoólica (12€). É o ideal para uma paragem à hora do almoço de um dia de trabalho, embora também disponível ao jantar, mas pode reservar para essa refeição um ramen mais composto, acompanhado de sake, uma bebida alcoólica fermentada tradicional do Japão (7,90€), ou uma cerveja japonesa (1,70€) degustada na esplanada ao final do dia.
No fim da refeição, cai sempre bem um mochi artesanal, de chá verde, chocolate ou cheeseckae (3,90€) ou uma panqueca do Doraemon, a Dorayaki (3,90€).
Outro aspeto que reforça a oferta diversificada é o facto de num dia poder ficar a desfrutar do ramen na esplanada e outro no interior, cheio de referências ao Japão. "Como ainda não podemos lá ir, quisemos criar um cantinho do Japão", refere Angela. "Os néosn, lanternas japonesas, as pinturas" foram alguns dos elementos que contribuíram para trazer um pouco da Chinatown de Yokohamaa para Portugal.