Uma unidade de turismo rural leva-nos à paz. Um hotel no meio da cidade à experiência. Um hostel para a descontração. E um hotel de cinco estrelas como o Octant Douro, em Castelo de Paiva, ao paraíso. A palavra paraíso remete-nos para algo aprazível que de tão único parece nem existir e o Octant Douro poderia estar na definição de qualquer dicionário sobre este mesmo conceito.

Isto porque a unidade está camuflada numa encosta do rio Douro, uma vez que cada patamar foi escondido pela vegetação de tons verde e terra, semelhante à restante paisagem com grande presença das vinhas, havendo apenas um toque natural de cor das gauras e das verbenas bonariensis.

A estrutura do antigo Douro41 Hotel & Spa (que passou a ser Octant Douro depois de a DHM – Discovery Hotel Management ter anunciado a marca Octant Hotels em maio), respeitou, como se pode ver e sentir, a região, tendo esta colocado desafios à expansão da unidade em 2019. Como construir um elevador que leve os hóspedes aos quartos nas encostas com socalcos entre o 4.º piso e a piscina no terraço no topo hotel? Fácil. Um elevador funicular alinhado com natureza.

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"Gosta de conversa de elevador? Aproveite agora. Os solavancos fazem parte da experiência", avisa-nos um placar no elevador para não estranharmos a viagem trémula até uma das piscinas partilhadas do hotel, junto ao Terrace Pool & Grill, o restaurante de piscina no 10.º piso, aberto apenas no verão. Existe ainda outra piscina só para adultos, mais recatada, mas com o mesmo conceito: espreguiçadeiras para ficar deitado a ver a paisagem que vai para além do beiral infinito das piscinas aquecidas.

Piscina no 10.º piso, junto Terrace Pool & Grill
Piscina no 10.º piso, junto Terrace Pool & Grill créditos: MAGG

Já vamos em duas piscinas, adicionamos uma terceira à conta, que faz parte do spa (com sauna, banho turco, ginásio e sala de massagens), e uma quarta: a da pool suite. Foi esta que nos motivou a rumar ao Octant Douro, a fazer curvas no caminho para lá chegar, a ficar semanas a acompanhar as redes sociais do hotel e a invejar quem por lá andava (Cláudia Vieira, obrigada por aumentares as expetativas).

Se corresponderam ou não, é sobre o que nos debruçamos de seguida.

Belisquem-nos, porque parece ainda tudo um sonho

Inicialmente, o atual Octant Douro tinha apenas 40 quartos e suites, mas depois de uma renovação em 2019 foram adicionados mais 20. Surge agora mais uma suite, que não é nova, mas proporciona uma nova experiência: é a pool suite, situada no 5.º piso do hotel.

Nada nesta suite se faz por menos. Corresponde a dois quartos, o 501 e 502, tendo por isso duas entradas. Tem um quarto, uma sala, uma kitchenette com minibar, máquina de café e chaleira, duas casas de banho e o destaque: um terraço com piscina privada. Temos de admitir que quando fomos levados ao quarto após o check in e nos apresentaram todas as áreas da suite, uma vez sós, sentimo-nos perdidos.

"Onde ficava a outra casa de banho?". "Mas a entrada principal não era já aqui?". Confusão total, mas tempo era o que não faltava para nos ambientarmos.

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Colocámos música, arrumámos tudo nos armários da entrada, dividimos lavatórios (os luxos de um cinco estrelas são assim, até dá para escolher um lavatório ou uma casa de banho e não apenas o lado da cama), e eis que depois disso nos tocam à campainha.

"Olá, é para deixar um miminho", dizem duas raparigas do staff jovem que acaba de reforçar, e com grande primor, a equipa do hotel. Eis que deixam na mesa da sala, com flores frescas no centro, queijos regionais, fruta e espumante.

Primeira promessa dos serviços pool suite cumprida.

Serviços pool suite
Serviços pool suite créditos: MAGG

O quarto é anunciado no site do hotel como tendo ainda um personal assistant a acompanhar toda a estadia através de um número direto (a que não recorremos porque tudo o que era preciso estava lá fora, a piscina) e ainda amenities durante toda a estadia. Kit de barbear, touca de duche, escova de dentes, pente e esponja de duche — tudo o que possam não imaginar existia na pool suite.

Mas a verdadeira experiência aconteceu quando abrimos as janelas pesadas e altas para o terraço com mais de 65 metros quadrados. Suspirámos para fazê-lo. E não o dizemos para tornar tudo mais dramático.

É mesmo preciso suspirar para interiorizar que se está num paraíso que inclui piscina infinita de água aquecida (a água às 10 horas da manhã parece ter sido esquentada como quando ligamos a torneira do banho), com silêncio em redor, a não ser quando é interrompido pelo do sino da igreja da aldeia próxima do Octant Douro.

É difícil descrever um sítio assim, mas podemos falar de dois momentos que merecem ser vividos (nota prévia: não feche das cortinas antes de deitar): acordar, sentar na cama, ficar apenas a ver o céu acabado de despertar e sentir, como nós sentimos, que por momentos não há mais ninguém no mundo, somos só nós e a beleza da paisagem que entra quarto dentro; deitar junto à piscina, ouvir a água a correr para fora da borda infinita e ter de fundo a coluna Marshall a tocar "(sem título)", canção da Janeiro que tão bem se aplicava ao momento. Afinal, "De que servem 10 Lisboas; Se me sinto no deserto".

Acordar na suite pool
Acordar na suite pool créditos: MAGG

No momento da saída, recordámos um cartão deixado à nossa chegada: "Tenha em conta que pode não querer ir embora". E não queríamos mesmo. Mas tivemos, infelizmente, porque se tem de dar oportunidade a outros de viver esta quase utopia.

A estadia (disponível para um máximo de 2 adultos e 2 crianças em cama extra) inclui pequeno-almoço, no restaurante ou na suite, e o preço por noite começa nos 900€ em época baixa e 1500€ em época alta.

Octant Douro

Localização: EN 222, Km 41, Vista Alegre, 4550-631, Raiva Castelo de Paiva, Portugal
Reservas: +351 255 690 160/ reservations-douro@octanthotels.com

Qual meditação. No Octant Douro, a Raiva acalma-se com sorvet de tomate

Raiva. Raiva de já não estarmos no Octant Douro. Raiva de não compreendermos como pode existir tanta perfeição. Raiva de cada momento no restaurante com este nome (que se deve à vila próxima, Raiva) ser mais curto do que desejado. Numa das noites em que ficámos alojados no Octant Douro, fomos à descoberta do Raiva, sem para isso fazer quilómetros: foi só ir do quarto para o restaurante localizado no quilómetro 41 do rio Douro.

Já o restaurante Raiva fez quilómetros para se inspirar e construir os menus de degustação de quatro e cinco momentos, normal e vegetariano (desde 75€ por pessoa). São no total 897 quilómetros que ligam os Picos da serra Urbión, onde nasceu o rio Douro, e a sua foz no Porto, alguns deles marcados nestes mapas gastronómico que ligam a cultura de Portugal e Espanha, quer nos pratos do chef Dárcio Henriques e equipa, apresentados no serviço Costa Nova, quer nos copos adequados a cada vinho selecionado pelo sommelier do Raiva, Bernardo Pinto.

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A degustação começa com broa e pão ainda quente (que se deve partir mesmo à mão) e manteiga fumada com carqueja, em homenagem ao trabalho árduo das carquejeiras do Porto que antigamente ajudavam a manter aceso o forno a lenha, explicaram-nos.

Ao chegar ao primeiro momento, aqui diferente em cada menu, no caso do vegetariano é servida uma salada de tomates (coração de boi, tomate zebra e cherry), com sorvet de tomate no topo, correspondente ao Km 50. Parece simples, mas nada disto o é quando está combinado e temperado de uma forma que nos esquecemos da palavra salada para pensar como também um sorvet numa entrada nos pode levar ao paraíso. 

Foi neste momento, e logo no primeiro do menu de degustação no Raiva, que percebemos que coisas simples como a salada de tomate, o ouvir o sino pela manhã e o ato de ver a água da piscina do quarto a correr para fora da borda infinita, fazem do Octant Douro algo único.

Passámos ainda por outros momentos como a couve flor em azeite de caril ("WHAT!?", pensámos. "Isto existe?"), correspondente ao Km 1, e o risotto de courgete com queijo de cabra, Km 48, assim como pela tentativa, atenciosa, de nos fazerem gostar de vinho tinto. Experimentámos o Real Companhia Velha Séries Cornifesto tinto 2018, de que gostámos, mas ainda não chegámos ao patamar em que somos capazes de beber um copo destes até ao fim. Já do Xisto Preto DOC branco 2021 até poderia ter vindo mais.

Depois disto tudo ficámos, obviamente, sem uma ponta de raiva e num estado mais tranquilo do que faria uma sessão de meditação.

Piscina por um passeio no rio ou boa comida é uma troca justa

Poucas coisas nos levaram a sair da nova pool suite do Octant Douro, mas uma delas foi o passeio de barco pelo rio. A partida acontece no cais junto ao hotel e o barco vai daqui em direção à ilha dos Amores, a única ao longo do rio com mais de 800 quilómetros.

Saída para o passeio de barco
Saída para o passeio de barco créditos: MAGG

Antes de lá chegar, passámos por uma estátua que homenageia as vítimas da queda da ponte de Entre-os-rios, tragédia que aconteceu a 4 de março de 2001. Um total de 59 pessoas morreram no acidente que dificilmente será esquecido, apesar de duas novas pontes terem entretanto sido construídas para substituir a que ruiu. Foram recuperados apenas 23 dos 59 cadáveres, mas todos eles são lembrados por quem passeia no Douro.

O rio está cheio de histórias e outra é a lenda da ilha dos Amores — entre o rio Paiva e o rio Douro e entre os distritos de Viseu, Porto e Aveiro — que fala de um amor proibido entre uma nobre fidalga de sangue azul e um pobre lavrador. Quando certo dia a jovem nobre foi pedida em casamento, "o pobre lavrador ao saber da notícia ficou com o coração destroçado com a possibilidade de perder a sua amada e, num ato de loucura", conta o site das 7 Maravilhas de Portugal, matou o pretendente. Conseguiu depois raptar a amada para levá-la para ilha dos Amores, mas uma tempestade engoliu-os.

Felizmente, no dia em que fomos o tempo jogava a nosso favor e conseguimos explorar a ilha sem perigos antes de voltar para o barco conduzido por Francisco. Seguimos depois pelo rio Paiva, vimos o Leão do Paiva (que levámos algum tempo a identificar) e parámos a meio para o momento mais único do passeio: com o motor do barco desligado, vozes e telemóveis silenciados, ficar a ouvir o vento a passar por nós e pelas margens do rio.

Na viagem de regresso, fizemos um piquenique preparado pelo hotel (35€ por adulto), com duas sandes à escolha, saladas e bolos.

Piquenique
Piquenique créditos: MAGG

Valeu mais do que a pena sair do quarto para o passeio e também para no mesmo dia, ao jantar, sair para experimentar a vista e comida descontraída do À TERRA Bar and Canteen, com pizzas de forno a lenha, embora o apetite pedisse mais um prego de atum em bolo do caco (17€) e uma tábua de queijos (16€), acompanhada de pimenta da terra e pão torrado.

No regresso ao quarto já não demos mais mergulhos, porque faltava ainda experimentar um paraíso: a cama deste cinco estrelas, com almofadas que podem ser escolhidas num menu que vai desde a almofada relaxamento (sensível à temperatura corporal) à cuidadora (ideal para quem sofre de alergias).

*A MAGG ficou alojada a convite do Octant Douro.