Há algo em comum entre os pequenos luxos e os grandes luxos (tipo os do cinco estrelas do Anantara Vilamoura Algarve Resort). É que ambos suscitam tamanho entusiasmo e sabem pela vida. Foi isso que sentimos na última viagem até ao Algarve. O pequeno luxo foi a paragem para um café na estação de serviço por terras alentejanas, com um aroma que nenhuma Nepresso ou café de especialidade consegue trazer: férias.

O grande luxo foi chegar ao resort Anantara Vilamoura Algarve para conhecer o novo restaurante asiático da unidade e ter um cheirinho do mesmo no quarto: sushi. Quer dizer. Sushi pensávamos nós que era, mas de sushi tinha apenas o formato. Eram pequenos doces em formato de niguiri, uramaki e hosomaki, feitos com mestria pelo chef pasteleiro João Silva e a sua equipa.

Sushi do chef pasteleiro João Silva
Sushi do chef pasteleiro João Silva créditos: MAGG

Foi o início de um fim de semana que prometia, mesmo. A principal promessa foi a do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que dava previsão de calor e sol sempre descoberto.

Deu assim para experimentar as duas piscinas do resort, tanto a principal para famílias, como a mais recatada para adultos. Há lugar para todos, mas já que vamos sem pequenos atrás, preferimos a ala para adultos na qual apenas o efeito cascata sobre a piscina interrompe o silêncio. É mais como uma música de embalar (e não foram poucas as vezes em que nos rendemos ao sono).

Mas não foi para apanhar banhos de sol que fomos ao Anantara Vilamoura Algarve. Foi para conhecer o novo conceito gastronómico misterioso, que abriu a 22 de julho. Caracterizamo-lo assim porque as luzes suaves e vermelhas do restaurante não só criam um ambiente intimista como servem de antídoto a qualquer spoiler que possa circular nas redes sociais.

Seja com ou #nofilter, não há nada que ajude a melhorar as fotografias. Resta-nos, portanto, desfrutar.

Antes disso, fomos perceber de onde vêm alguns ingredientes usados no Sensai e nos restantes restaurantes do resort.

Estragámos uma receita de chef, mas o que conta é a intenção

No novo restaurante do Anantara Vilamoura Algarve, assim como em todos os outros, privilegia-se o uso de produtos locais, alguns deles até da horta do hotel, com aromáticas e pequenos legumes, e outros do mercado de Loulé, onde começámos uma das manhãs. Em Loulé, os sábados de manhã são para ir ao mercado e cumprir com alguns rituais: uns a quebrar o jejum com bifana e cerveja na mão, outros a comprar o peixe para o almoço e outros a pedir um gelado artesanal à venda no meio do mercado.

Já nós, que antes tínhamos passado na secção das omeletes e das frutas frescas do pequeno-almoço do Anantara Vilamoura, fomos direitinhos para as bancas do peixe, juntamente com o chef executivo Bruno Viegas.

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Objetivo? Primeiro, conhecer as imensas variedades da costa algarvia, segundo, comprar o melhor peixe para a aula de culinária Spice Spoons, uma das experiências mais antigas do hotel e presente em todas as unidades Anantara, que inclui esta ida ao mercado com um chef do hotel.

Chef executivo Bruno Viegas no mercado de Loulé
Chef executivo Bruno Viegas no mercado de Loulé créditos: MAGG

Quando fomos para a aula, pensávamos mesmo que íamos pôr mãos à obra e, quando percebemos que não, expressámos esse desejo. Os chefs Bruno Viegas e João Silva pareceram surpreendidos (talvez os turistas gostem mais de ficar só a ver), mas acederam.

Tarefa: tirar as espinhas da corvina que comprámos no mercado de Loulé para preparar uma massinha de chora, nome que se deve, conta-se, a quando "eles [pescadores] comiam e choravam por mais" no fim da pesca do bacalhau, explicou o chef. O que podia correr mal com a nossa ajuda? Tudo. 

Aula de culinária Spice Spoons
Aula de culinária Spice Spoons créditos: MAGG

Quando a massinha de chora foi para mesa, houve quem encontrasse algumas espinhas, mas há que ver a situação pelo lado positivo: ninguém se engasgou.

Poderia ter sido pior dar uma mão na sobremesa, um doce da casa, e, quem sabe, ao não bater as gemas com o leite condensado corretamente, ficaríamos sem sobremesa. É ou não pior cenário do que uma espinha na borda do prato?

Doce da casa
Doce da casa créditos: MAGG

Como já percebemos que cozinhar não é o nosso forte, deixámos a mestria para as mãos dos chefs, que sabem bem o que fazem — e prova disso é o o "fast food" à portuguesa que se pode encontrar no RIA Street and Seafood Bar, que serve peixe fresco e marisco local, ou no Cascades Pool Bar, onde provámos uma leve salada de bulgur ao almoço, com um ingrediente que vamos repetir em casa: gomos de limão.

Ainda assim, se quiser, pode experimentar a sua aptidão para reproduzir a massinha de chora do chef Bruno em casa.

Massinha de chora
Massinha de chora créditos: MAGG

Ingredientes (para quatro porções): 

— 3 a 4 l de água
— 800 gramas de alas de corvina
— 250 gramas de Camarão
— 150 gramas de cebolas
— 1,5 dl de azeite
— 2 dentes de alho
— 100 gramas coentros
— 1 folha de louro
— 1 colher chá de colorau
— 200 gramas de tomate de cacho
— 100 gramas de polpa de tomate
— 400 gramas de massa cotovelinhos
— Sal grosso q.b.

Modo de preparação:

Tempere as alas de corvina e os camarões com o sal grosso. Coza-os separadamente no tacho com água, juntando uns pés de coentros. Escorra o caldo da cozedura do peixe e camarão, por um passador fino e reserve. Retire a casca do camarão, as espinhas e pele do peixe e reserve. Num tacho à parte, refogue os dentes de alho, a cebola, talos de coentros picados finos, com azeite e uma folha de
louro. Quando estiver quase alourado, acrescente o colorau, o caldo onde cozeu o peixe e os camarões e deixe levantar
fervura. Junte a massa cotovelinhos e quando estiver quase cozida, adicione os miolos de camarão, o peixe e junte os coentros picados.

Sensai — e só sai mesmo quem come a sobremesa

Contrariamente a tudo o que os nossos pais sempre nos ensinaram, em vez da sopa, só sai da mesa do Sensai quem come a sobremesa no novo restaurante do Anantara, conceito pensado pelo chef executivo Bruno Viegas e concebido por si e pela equipa.

A última parte é normalmente a melhor, mas aqui torna-se mesmo o ponto mais surpreendente e obrigatório da refeição, não só pelo sabor. Mas já lá vamos.

Se quer ainda tirar uma fotografia do cocktail servido num trólei que vai até à mesa e leva-nos por caminhos deliciosos, aconselhamos a ir ao final do dia para ainda apanhar o sol a entrar na linha do horizonte e alguma luz naturalmente deslumbrante. Pode pedir um cocktail da original carta origami, como o rising apple, com Perrier Jouët, cidra e Angostura bitter (18€).

Trólei de cocktails
Trólei de cocktails créditos: MAGG

Depois disto, segue-se uma viagem.

"Este lugar amou perdidamente; Quem o cabo rondou do extremo Sul; E a costa indo seguindo para Oriente; (...) Perfumes e tempero descobriu; E danças moduladas por vestidos; Sedosos flutuantes e compridos; E outro nasceu de tudo quanto viu". 

O poema de Sophia de Mello Breyner Andresen abre a carta do Sensai e mostra como esta se inspirou na história marítima de Portugal, bem como na Rota das Especiarias e na herança asiática da marca Anantara. Os sabores da da China, Japão, Índia e Tailândia cruzam-se neste mar de experiências em diversos momentos do Oriente, desde as entradas ao ramen, antes de passar para os de sushi, preparado com peixe da lota local.

Tudo começa com um couvert (4€) que mistura diferentes texturas da telha de arroz tufado, do puffed rice, do kokis do Sri Lanka, do Sri Lankan Kokis e dos pappadums, acompanhados de uma espécie de molho tzatziki na versão asiática, o raita de pepino, e chutney de tomate rosa.

Para aconchegar o estômago há ainda uma sopa de soja fermentada, com amêijoas à bulhão pato (14€) — o primeiro sinal da influência portuguesa neste restaurante e que adorámos sem uma ponta de estranheza. O outro sinal é o facto de se poder provar um pouco de tudo ao partilhar os pratos.

Picámos as vieiras braseadas, com molho ponzu e kimchi (29€), o tártaro de carabineiro picante, abacate e ovas de tobiko (36€), as prawn tempuras (19€) e as gyosas de vegetais e molho de caril verde (12€) e de todas as entradas, o tártaro foi a que mais surpreendeu por ser fresco, uma bomba de texturas na boca suscitada pelas ovas e pelo creme de abacate e por ter um toque subtil de picante (que, já sabem, somos fãs).

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A partir daqui, das duas uma: ou se segue para o sushi ou para o ramen (a não ser que queira variar com o caril tailandês de bochecha de novilho, 33€, ou o atum tataki com molho de alho e citrinos, 38€). A escolha é fácil, porque dependerá de quão aberto está a experimentar um ramen de cozido à portuguesa (28€).

O chef Bruno Vieira caprichou e conseguiu inovar, levando o toque nacional para um dos pratos mais in e mais famosos da gastronomia japonesa: o ramen. E não há como enganar. O caldo cheira mesmo a cozido e os enchidos vêm mesmo lá, só que em vez do arroz que é servido a acompanhar o cozido em várias partes do País, aqui são os noodles que acompanham o irreverente ramen. Quem não é de carne tem o ramen de peixe e camarão “à Algarvia” (28€).

Para os mais céticos a quem estas inovações não agradam, podem optar por magia: o omakase sushi servido a fumegar, que consiste numa seleção especial de sushi (desde 40€ por 18 peças), preparada pelo sushiman Fábio, no qual não falta, obviamente, um toque nosso.

Omakase sushi
Omakase sushi créditos: MAGG

O que é servido varia sempre, mas temos um conselho a dar: suplique pelo tara maki de bacalhau fresco, maionese de alho negro e coentros — e se não vier, peça à parte (16€ por quatro unidades). Vale mesmo a pena.

Como fomos bem comportados e comemos tudo até não restar um pedaço de tártaro de carabineiro picante por mais calor que suscitasse ou um bago do tara maki de bacalhau, tivemos direito a sobremesa.

E aqui, caros, quando achávamos que nada poderia superar a inovação de um ramen de cozido à portuguesa, eis que nos é apresentada uma sobremesa chamada Anantara 5 Senses (14€).

Audição, tato, paladar, olfato e visão ficaram por instantes presos num pequeno pote para o qual precisámos de instruções para avançar. Foi então que percebemos que o processo iria ser D.I.Y, isto é, "faça você mesmo". E fizemos. Começámos por abrir a tampa para espreitar, tampa essa que tinha o elemento mágico da sobremesa: um tubo que devíamos partir ao meio, aqui a entrar o tato, e que ao colocar para dentro da tigela libertava um aroma intensamente agradável.

O conteúdo do tubo era comestível e foi então que descobrimos que além de despertar o olfato, despertava o paladar e a audição em simultâneo com o efeito peta zetas. Falta falar da visão, mas essa não é difícil de perceber, porque esteve presente do início ao fim da descoberta desta obra gastronómica, com maçã, yuzu, caramelo e chocolate gold. A visão é o único sentido que podemos transmitir-lhe (com uma fotografia de qualidade).

Anantara 5 Senses (14€)
Anantara 5 Senses (14€) créditos: divulgação

Fora esta, e algumas já partilhadas do espaço, as fotos que tentámos captar com o telemóvel não resultaram, por isso, o que aconteceu no Sensai fica no Sensai e para si resta a curiosidade.

Pode aproveitar a ida ao restaurante, também disponível para não hóspedes, e passar uma noite fora, que custa desde 307.80€ para duas pessoas, com pequeno-almoço incluído, em agosto.

*A MAGG visitou o novo restaurante Sensai e o Anantara Vilamoura Algarve Resort a convite da unidade.

Anantara Vilamoura

Morada: Av dos Descobrimentos nº 0, 8125-309 Vilamoura
Reservas: +351 289 317 000 ou vilamoura@anantara-hotels.com
Site; Facebook e Instagram

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