Antes de assistirmos a este concerto, sabíamos duas coisas: que os Karetus eram DJs e que tinham aquela música da burra que não andava. Com uma rápida pesquisa, descobrimos que o duo foi formado em 2010 e que é composto pelos lisboetas e amigos de infância Carlos Silva e André Reis.
Estes dois apaixonados por música eletrónica ganham a vida a remisturar a música tradicional portuguesa (e não só). Passava pouco das duas da manhã desta sexta-feira, 11 de agosto, quando subiram ao palco principal da 25.ª edição do MEO Sudoeste. Viria aí uma mancha vermelha.
Ao vermos esta atuação, ficámos com a ideia de que estes dois produtores musicais transformam tudo em música — até o "SIIII" de Cristiano Ronaldo. Distraímo-nos um pouco e, do nada, CR7 estava nos ecrãs gigantes. O mesmo aconteceria com Toy, que, em vídeo, mostrava o peito peludo ao som de um remix de "Coração Não Tem Idade".
"Boa noite, MEO Sudoeste. Quem vai ter a melhor noite da sua vida faz barulho", disse André Reis, no início da performance. "Esta noite vai ser épica", prometeu, avisando que teria de ser também "especial", uma vez que se tratava da 25.ª edição do festival onde atuaram pela quarta vez.
Foi quando estávamos a analisar o outfit que se fez luz na nossa cabeça. Depois de repararmos que ambos usavam óculos escuros, apercebemo-nos de que os casacos que usavam faziam alusão aos Caretos de Podence. Haveria alguma ligação entre os Caretos e os Karetus? E porque é que nunca pensámos nisso?
É aquele fenómeno clássico de quando algo é tão óbvio, mas que, ao mesmo tempo, acaba por nos escapar. Como o facto de as estrelas Michelin e os pneus Michelin estarem interligados. "Queríamos um nome tradicional, que também apelasse à nossa portugalidade", explicaram à "Rádio Vizela".
A certa altura, achámos que tínhamos pressionado o botão do comando sem querer e estávamos numa sessão de "Netflix & Chill". Houve "Squid Game" (com o tema "Red Light, Green Light"), houve "La Casa de Papel" (com "Bella Ciao") e até "Wednesday" (com "Bloody Mary").
Mas também houve fado, reinterpretações de temas estrangeiros (de cantores como Lil Nas X e Post Malone), "Esta merda é que é boa" e o icónico "Ay-Oh" de Freddie Mercury. E certamente ficámos surpreendidos com a transição de "Bella Ciao" para "One Love", de Bob Marley, que antecedeu "I Like To Move It" (sim, a do "Madagáscar").
Um dos pontos fortes é o espetáculo visual, que inclui fogo, fumo e muitas luzes agitadas. André e Carlos saltam bastante enquanto vão dando música aos festivaleiros — e a verdade é que, quando demos por nós, também estávamos a abanar-nos ao ritmo do que tocava.
Ao fim de três dias inteiros de festival (e muitos — talvez até demasiados — sets de DJs), já não conseguimos apreciar como deveríamos. Depois da seca de Bizarrap e da montanha-russa de David Guetta, os Karetus entregaram um show que esteve longe de ser monótono.
Afastando-se da fórmula do "mais do mesmo", esta dupla proporcionou-nos um espetáculo, sem dúvida, diferente de tudo o que já tínhamos visto. Mas claro que não é para todos os públicos — tal como o rapaz que adormeceu à nossa frente, a certa altura, poderia concordar.
"Obrigado, do fundo do nosso coração. Obrigado pelo vosso amor, pela vossa energia, pela vossa entrega. Nunca esqueceremos. Obrigado, MEO Sudoeste", agradeceram (uma catrefada de vezes). Estrearam um tema, tocaram o tal da burra teimosa e até uma versão deles do Olarilólé de Pedro Mafama ("Preço Certo"). Em suma, devem ser o encanto das festas de terrinha.