O Lincoln Jazz Center, a umas centenas de metros de Times Square, em Nova Iorque, EUA, não é propriamente o sítio que imaginaríamos para uma antestreia de um filme que tem como protagonista uma estrela de Hollywood com um Óscar no currículo. Mas ali estava Anne Hathaway, à distância de uns escassos metros, e Nicholas Galitzine, o par romântico da atriz em "The Idea of You".
O visionamento, que aconteceu esta terça-feira, 30 de abril, na "cidade que nunca dorme" e na qual a MAGG esteve presente, em exclusivo para Portugal, revelou duas coisas:
- as comédias românticas voltaram em força: se "Todos Menos Tu" gerou o delírio total entre as gerações mais novas, que relançaram, através do TikTok, "Unwritten" de volta para os tops, "The Idea of You" vai fazer a malta que está ali entre os 30 e muitos e os 40 voltar a sentir coisas quentinhas cá dentro;
- há pares com uma química inacreditável: é electrizante ver as personagens interpretadas por Anne Hathaway e Nicolas Galitzine apaixonarem-se ao longo do filme. Por muito que dois bons atores o sejam, se não houver entrosamento, nada feito. E aqui há. E muito. E sexy.
Mas falemos do filme propriamente dito. "The Idea of You" é baseado no best seller homónimo de Robinne Lee. Conta a história de Solène (Anne Hathaway), uma mãe solteira de 40 anos, que inicia de forma inesperada (e muito hilariante) um romance apaixonado com Hayes Campbell (Nicholas Galitzine), cantor de uma boysband chamada August Moon (e sim, já está preparada no Spotify uma playlist com as músicas do grupo, que são mesmo cantadas pelo próprio Nicholas Galitzine).
Solène, dona de uma galeria de arte, tinha tudo para ser a caricatura de uma mulher de 40 anos amargurada pela vida. Foi traída durante o casamento e, depois do divórcio, ainda tem de levar numa base quase diária não só com o ex, Daniel (Reid Scott), mas também com Eva (Perry Mattfeld), a mulher com quem ele a traiu. Mas Solène não é nada disso. É aquilo a que se pode chamar de uma gaja fixe. Não 'fixe' do género 'quero ir para os copos com ela', mas mais do tipo 'quero ser amiga dela e ver filmes românticos da treta com ela no sofá, numa tarde de chuva'.
Aparentemente, Hayes Campbell (Nicholas Galitzine) também tem tudo para ser a estrela pop megalómana, um puto de 24 anos irritante e com a mania que controla o mundo. Mas Hayes, que canta mesmo, toca e compõe, é o oposto disso. É um miúdo normal, e temos de colocar aqui "miúdo" entre aspas porque, com 24 anos, Hayes é muito mais homem do que o ex-marido de Solène.
"The Idea of You" tem o condão de, apesar de ser uma comédia romântica, colocar em confronto dois tipos diferentes de masculinidade, duas gerações opostas. Uma onde masculinidade é posse, controlo e desconexão emocional, outra onde masculinidade é fluidez, sensibilidade e desprendimento. Hayes é sexy sem ser hiper-masculino. Há uma leveza na personagem, que não tem tanto que ver com a idade, mas com a forma como este jovem cantor gere os seus sentimentos e está pronto para os viver e expressar.
Ao contrário do que nos habituámos a ver, ao longo de várias décadas de comédias românticas, aqui ninguém se faz difícil. Não há irritações iniciais, nem aquele cliché do "primeiro odeiam-se, depois amam-se". Apesar das reticências iniciais, e do espanto por se verem atraídos sendo tão diferentes, Solène e Hayes decidem entregar-se. E o que vemos no ecrã é universal: são só duas pessoas a apaixonarem-se.
Esta paixão, claro, tem outros ingredientes que tornam "The Idea of You" mais hollywoodesco: as viagens de jacto privado, as cenas de amor tórrido em hotéis de cinco estrelas, o facto de este encontro coincidir com um período da vida de Solène em que se pode dar ao luxo de estar algumas semanas sem trabalhar.
O lado mais negro, igualmente hollywoodesco, do filme, são as perseguições dos papparazzi, os títulos sensacionalistas, os comentários horríveis nas redes sociais, o facto de, seja em que sociedade for, até aos dias de hoje, ser muito verdade que o mundo odeia ver uma mulher feliz. Então se for uma mulher feliz com um homem mais novo, pior ainda.
A música é o elemento que une esta comédia romântica, que tem muito de romance e pouco de comédia (talvez seja a única crítica menos positiva que podemos fazer ao filme). Os August Moon, a banda a que pertence Hayes Campbell (Nicholas Galitzine), não só existem mesmo, como os cinco atores que a compõem gravaram as canções que já estão disponíveis no Spotify. "Dance Before We Walk" é um hit pop que fica na cabeça após a segunda repetição do refrão, um contraste perfeito com as músicas que Solène e a filha Izzy (Ella Rubin) ouvem no carro, bem como a banda sonora do início do romance de Hayes e Solène (Fiona Apple 4 ever).
O tempo não anda para trás e comédias românticas como "Um Amor Inevitável", "Pretty Woman", "Você Tem Uma Mensagem" ou "Como Perder um Homem em 10 Dias" dificilmente voltarão a ser feitas, seja pela forma estereotipada como retratam as mulheres, as relações, seja pelo simples facto de que as histórias que contam já não fazerem sentido nos dias que correm.
Mas o romance não está morto e, no atual contexto político e social que o mundo atravessa, ele é preciso e com urgência. "The Idea of You" é bem capaz de ser o antídoto perfeito ao scrolling dos infernos nas redes sociais e uma doce pausa da realidade.
Porque, no fundo, mesmo que seja bem lá no fundo, todos queremos viver um amor assim. E um amor assim, como prova o filme, pode ser vivido depois dos 40, com a mesma magia e intensidade com que se vive aos 20.