As consequências de acordar de forma tardia para os efeitos do capitalismo, a polémica de uma suposta cultura do cancelamento na internet e a ansiedade de viver num mundo cada vez mais frenético. "Why Are You Like This", uma série australiana da ABC que ganhou distribuição internacional através da Netflix, põe no centro da história três amigos que, apesar de serem um produto do mundo em que vivem, lidam com os problemas do século XXI de forma absolutamente contraditória.

Mia, a personagem interpretada por Olivia Junkeer, é uma mulher bissexual e de origem asiática. Duplamente vítima de preconceito, pela sua proveniência e orientação sexual, Mia é, ao contrário do que se podia esperar, tudo menos empática e chega mesmo a negar apoio médico a uma pessoa que se vê vítima de um ataque de pânico.

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Já Penny (Naomi Higgins), pelo contrário, é uma mulher branca e heterossexual que vive assoberbada pela ansiedade e que a leva a procurar conforto e validação de todos os que a rodeiam — até daqueles que não a apreciam. A elas junta-se Austin (Wil King), uma drag queen cujo deteriorar da sua saúde mental vai sendo escondido através do consumismo e da ostentação nas redes sociais.

É neste imbróglio que estes três jovens adultos pertencentes à geração Z (pessoas nascidas entre o meio e o fim de 1990 e o início de 2010), pouco cientes das suas fragilidades, tentam conciliar as suas carreiras, a vida noturna e a defesa das políticas de identidade e igualdade em Melbourne, Austrália, num contexto muito particular — o do "caos sociopolítico de 2021", segundo as criadoras da série em entrevista ao jornal britânico "The Guardian".

"Quero que qualquer homem branco e conservador se enfureça com a ideia de que uma mulher pode ter o seu período num copo. Isso tem piada", diz Humyara Mahbub, uma das criadoras da série, à mesma publicação. No entanto, acredita, e a série mostra isso mesmo, que o mundo sempre foi "mau", mas que agora se interiorizou a ideia de que há que falar sobre "todas as coisas más".

"O mundo sempre foi mau. Não era melhor quando os nossos pais eram miúdos. A diferença é que todos nós interiorizámos a ideia de que é suposto falarmos, por vezes de forma muito visível, contra todas as coisas más. E enquanto, em alguns casos, isso é ativismo, há uma linha muito ténue entre isso e deixar que as notícias arruínem a tua vida e o teu cérebro", diz.

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"Quando tinha 22 anos, pensava que toda a gente não prestava. Aos 28, isso mudou e passei a incluir-me nesse grupo. Eu também não presto. Essa é, talvez, a maior revelação quando estás nos teus 20", conclui. É nessa dicotomia, entre o ativismo social e a resistência de cada um dos três em assumir as suas falhas, e que muitas das vezes contribuem para os problemas que os próprios querem combater, que "Why Are You Like This" navega.

O resultado são seis episódios de cerca de 20 minutos cada que deambulam entre o surreal e o hilariante, com boa disposição e crítica social. Em Portugal, a série está inteiramente disponível na Netflix e ainda não se sabe se haverá segunda temporada.

Além dos protagonistas, do elenco fazem ainda parte nomes como Lawrence Leung, Shabana Azeez, Rik Brown e Roz Hammond.