Nestes 13 meses de pandemia, já vimos, ouvimos e vivemos de tudo. Primeiro foi a corrida ao papel higiénico. Depois o debate em torno do uso de máscaras (que só é atualmente uma questão para os negacionistas, perdão, os pretensos defensores das liberdades individuais), a desinfeção de embalagens, os eventos públicos, as manifestações, o desemprego, os apoios sociais, as variantes, as vacinas.
A cada reabertura (e já vamos na segunda volta neste carrossel que virou o mundo do avesso) a conversa é sempre a mesma. "Daqui a 15 dias volta tudo para casa". Infelizmente, foi o que aconteceu quando o relaxar de medidas no Natal e no Ano Novo nos pareceu coletivamente um balão de oxigénio (mais emocional do que racional) mas acabou por ser a tragédia que se sucedeu nos meses de janeiro e fevereiro.
Estamos todos emocional e fisicamente esgotados. Uns mais do que outros, é certo, e sei que escrevo de um lugar de privilégio porque mantenho o meu emprego e o futuro imediato não parece sombrio como de muitos milhares de portugueses que perderam trabalho, fontes de rendimento, perspetivas de uma vida decente e, o mais importante, que viram familiares e amigos morrerem por culpa desta praga.
Está mais do que confirmado que não, isto não nos tornou melhores, e mais do que certo que, coletivamente, isto nos vai tornar piores. E, por muito comezinho que seja, podemos avaliar isso nos comportamentos e comentários das redes sociais neste segundo desconfinamento.
Na MAGG tentamos, todos os dias, estar ao lado dos nossos leitores e leitoras. Acompanhar as suas preocupações, esclarecer as suas dúvidas. Proporcionar momentos de descontração, de ócio, ajudar a organizar o dia a dia, a planear férias, fins-de-semana, o almoço ou o jantar, ou apenas sugerindo uma série para descontrair após um longo dia de teletrabalho.
Desconfinados que estamos, e com todas as precauções que são necessárias, sugerimos-lhe as melhores esplanadas para que, possa, finalmente, olhar o mar, ler um livro, descansar ou reunir três amigos para aquele almoço ou jantar há tanto tempo adiado.
E porque gosto de por a teoria em prática, esta terça-feira aproveitei a folga e fui a não uma, não duas mas três esplanadas (entra o coro de indignação). Não foi planeado nem propositado, calhou assim. E que bom que foi.
Comecei por um clássico. O À Margem, em Belém, uma das mais belas vistas da Lisboa à beira Tejo. Depois (e porque tinha de resolver uns azares automóveis ali ao pé), seguiu-se uma imperial na esplanada da Hamburgueria Gália, em Queluz. Por fim, à noite, o reencontro com as amigas do coração, na Taqueria By Espada, no Cais do Sodré.
Ao longo desta primeira semana, por cada foto al fresco, há (e haverá) um comentário do género "daqui a 15 dias volta tudo para casa". E está tudo bem. É a nossa natureza mesquinha a vir ao de cima. Eu também a sinto, quando percorro o Instagram e vejo vidas muito mais interessantes do que a minha.
Mas guardo as minhas frustrações e não me passaria pela cabeça ir comentar tal patetice que, ainda para mais, tem um fundamento pífio. Estamos ao ar livre, com máscaras, distanciamento social, as mesas são limpas e desinfetadas após a saída de cada grupo de clientes. E, o mais importante, é legal. Foi aprovado, está tudo certo.
Não podemos saber nem adivinhar o que cada um faz dentro de casa, a não ser que o mostre nas redes sociais ou que alguém faça queixa (e acho bem que se faça caso sejam situações que ponham em risco a vida dos outros). Mas - pergunto eu que sou um bocado ingénua - qual é o propósito de criticar quem viaja tendo feito testes à covid-19, quem se senta numa esplanada para beber uma imperial ou fazer uma refeição?
Esta é a vida que podemos ter por agora. Não é perfeita. Não é calorosa. É fria e incerta. Havemos de perceber, daqui a muito tempo, os danos que causou na forma como nos relacionamos, como criamos elos, como amamos ou odiamos, como trabalhamos. Mas, já que é o que é, porque é que não havemos de aproveitar e - que raio! - por uma foto no Instagram de cerveja na mão?
É que, pensando bem, assim de repente, há coisas bem piores.