O surto de COVID-19 já infentou 119,375 pessoas até à manhã desta quarta-feira, 11 de março, e causou mais de 4 mil mortos. Ainda que os números sejam expressivos e estejam a abalar o dia a dia da sociedade e também a bolsa de valores, a verdade é que uma coisa o coronavírus trouxe de positivo: a redução das emissões de carbono.
Se as medidas de emergência para travar o coronavírus se mostrarem eficazes para colocar um travão também na poluição, então talvez essas possam servir de exemplo para responder às alterações climáticas.
Isto porque, na China, os períodos de quarentena que obrigaram fábricas a fechar, traduziram-se na consequente inatividade das fontes libertadoras de dióxido de carbono, Em poucos dias, o céu ficou mais limpo de poluição. E para que isto aconteça mesmo depois do surto, um estudo do site Carbon Brief revelou que basta uma diminuição de apenas 25% de emissões de CO2.
Se essa redução fosse feita, muitas conquistas seriam alcançadas: seria a primeira queda nas emissões desde a crise financeira de 2009/2009 e permitiria, não só travar as alterações climáticas, como também incentivar as pessoas a mudar os comportamentos a longo prazo. O aspeto negativo, seria a uma pequena redução no crescimento económico.
Além da atividade das indústrias, os voos são outro dos principais responsáveis pelas emissões de CO2 e aqui é fácil perceber o efeito do cancelamento das agendas mundiais — desde Donald Trump que adiou o encontro com os líderes da Associação das Nações do Sudeste Asiático, a 14 de março, até ao cancelamento de eventos de moda, desporto e música, como é o caso de Stormzy e Mariah Carey que cancelaram alguns concertos.
Da lista faz ainda parte o fecho de portas de atrações como a Tokyo Disneyland e o parque temático da Universal Studios em Osaka, para onde viajam milhares de pessoas todos os dias.
"Se isso [coronavírus] mudar a forma como viajamos, poderá levar a mais reuniões virtuais", disse Rob Jackson, presidente do Global Carbon Project, acrescentando que a redução das emissões da gases atualmente é positiva, mas não se manterá a longo prazo (mantendo-se apenas até o surto estabilizar).
Contudo, o ambientalista norte-americano Bill McKibben revela-se otimista quanto à mudança de hábitos da sociedade: “Vale a pena ver que milhões de pessoas parecem ter aprendido novos padrões. As empresas, por exemplo, estão a esforçar-se para permanecer produtivas, mesmo com muitas pessoas a trabalhar em casa".
Para já, apesar de o surto de coronavírus representar redução nas emissões de CO2, Corinne Le Quéré, professora de ciências da mudança climática na Universidade de East Anglia, refere que essa diminuição pode não reverter o estado climático: “Nos últimos 10 anos, as emissões cresceram a uma taxa anual de 1%, ou cerca de 317 megatoneladas, por isso precisaríamos de uma redução muito grande para ver uma queda este ano", disse de acordo com o jornal "The Guardian".
Ainda assim, Le Quéré observa que as ações tomadas pelos governos mostram que planos radicais podem funcionar: "Pode ver que, quando os governos veem uma emergência, eles agem imediatamente com medidas proporcionais à ameaça. Essa avaliação ainda não foi feita no caso das mudanças climáticas, embora os governos tenham declarado uma emergência."