Há muito que as  cirurgias estéticas deixaram de ser tabu e são cada vez mais os que recorrem à medicina para mudar alguma coisa com a qual se sentem descontentes. Apesar de uma intervenção poder mudar em muito a nossa autoestima, Sofia Santareno, médica especialista em cirurgia plástica, reconstrutiva e estética e diretora clínica da The Dr Pure Clinic (Lisboa e Évora), alerta que nem todas as cirurgias são capazes de o fazer e o fundamental é que as pessoas aprendam, acima de tudo, a gostar de si.

The Dr Pure Clinic. Aqui não há cirurgias plásticas sem avaliação psicológica
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Assim sendo, nesta clínica, nenhuma cirurgia estética é realizada sem que antes os pacientes passem por acompanhamento psicológico, pois só deste modo será possível perceber o impacto positivo ou negativo que a intervenção vai ter na pessoa. Em entrevista à MAGG, Sofia Santareno revela que há cirurgias que são mais solicitadas em idade jovem e outras em idade mais avançada.

No que diz respeito às mamoplastias de aumento, a especialista identifica duas grandes faixas etárias que procuram este tipo de intervenção. "Há aquele grupo de meninas que não tem maminhas nenhumas, e que quando chega o verão, sentem que são menos do que as outras. Nestes casos, analisamos, e quando vemos que já fizeram o seu desenvolvimento corporal todo e não têm mama nenhuma, percebemos que têm efetivamente uma hipomastia."

Nestes casos, Sofia explica que não tem qualquer problema em fazer este tipo de cirurgia em idades mais jovens. Contudo, em situações em que as pacientes apresentam peito e em que nota que existe falta de acompanhamento psicólogo, antes de fazer qualquer tipo de operação, as jovens têm de passar por uma avaliação.

No caso das mamoplastias de redução (ainda que as cirurgias estéticas apenas sejam recomendadas depois dos 18 anos), estas podem sempre ser realizadas mais cedo, desde que com autorização dos pais. E, segundo a especialista, há casos em que se justifica. "Gigantomastias e hipertrofias mamárias juvenis, a partir dos 14/15 anos, por exemplo. Não tem sentido negar-lhes isso porque há crianças com essa idade que nem conseguem correr por ter o peito grande. Tem tudo que ver com uma questão de bom senso", afirma a cirurgiã plástica.

A outra grande faixa etária que procura este tipo de cirurgia corresponde às mulheres com cerca de 50 anos. Segundo a especialista, muitas fazem-no nesta idade porque é quando sentem que já têm estabilidade financeira para fazer o investimento. Apesar disso, há detalhes a ter em conta. "A pele já não tem a mesma qualidade e é preciso gerir muito bem os volumes", alerta.

"Rinoplastia em crianças não fazem sentido" e otoplastias em adultos com mais de 45 anos também não

Apesar de no caso das mamoplastias a idade ser apenas um fator de aconselhamento, há cirurgias estéticas que não devem mesmo ser feitas em determinadas faixas etárias, como é o caso das rinoplastias.

"Uma rinoplastia numa criança, por exemplo, não faz sentido devido ao desenvolvimento facial. Para o fazermos nestas idades é preciso que a pessoa tenha uma deformidade anatómica ou funcional importante", explica a diretora da The Dr. Pure Clinic, referindo o exemplo das fendas lábio-palatinas com extensão até ao nariz.

"Aqui há um protocolo por etapas que define uma atitude que podemos tomar logo quando os bebés são pequenos. Depois há outra atitude aos 2 anos (que é a primeira rinoplastia) e,  mais tarde, há outras. São rinoplastias de fases, sendo que a última se realiza aos 14 anos. Mas são exceções", esclarece, referindo que em "estética pura" estas intervenção só são feitas a partir dos 18 anos "com o desenvolvimento do crânio completo".

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No caso das otoplastias (cirurgia estética que permite alterar a forma e posição das orelhas), o aconselhável é que sejam feitas o mais cedo possível. "Nós sabemos que entre os 4 e os 5 anos temos 80% do tamanho da cartilagem da orelha formada, o que já é uma situação aceitável. Assim, colocamos na balança aquilo que é o prejuízo de uma criança entrar numa escola primária e ser gozada por ter orelhas grandes. Isso também tem uma parte importante do ponto de vista psicológico, então, normalmente, a partir dos 5 anos faz-se essa cirurgia", esclarece a cirurgiã.

Mais tarde, pode continuar a ser feita, mas serão necessárias outras técnicas. À MAGG, Sofia Santareno explica ainda que, muitas vezes, quando as crianças são muito pequenas, as orelhas podem até ser moldadas. Segundo a especialista, a cartilagem é uma parte do corpo humano que tem uma grande componente de ácido hialurónico e, sendo este componente alimentado por estrogénios, "quando um bebé está em fase de amamentação, como o leite tem muitos estrogénios", é possível moldar as orelhas durante o período em que é amamentado.

Contudo, em idades mais avançadas, principalmente depois dos 40, o corpo vai perdendo estrogénios e a cartilagem deixa de ser moldável. "Enquanto que na primeira metade da vida a melhor técnica para esta operação é a chamada 'técnica fascial', que nem toca na cartilagem, quando chegamos a uma idade mais avançada, a cartilagem já não tem essa elasticidade", afirma Sofia Santareno. Deste modo, a única opção passaria pela escarificação (raspar e enfraquecer a cartilagem), o que leva a especialista a optar por não fazer otoplastias a pessoas com mais de 45 anos.