Ainda que haja cada vez mais livros, blogues e contas nas redes sociais a proclamar dietas com garantia de funcionarem para todos, está mais do que provado que as necessidades e os resultados são diferentes para cada pessoa. Há quem reaja bem ao leite, há quem não o consiga tolerar. Há quem se dê bem com pão, quem não o possa comer. Algumas pessoas digerem melhor gorduras do que outras. Mas podemos ir mais longe: será que todas as pessoas reagem da mesma forma ao corte de hidratos de carbono? Será que todos os corpos vão passar pelos mesmos processos face a um jejum intermitente?
Um novo estudo, apresentado na segunda-feira, 10 de junho, numa conferência da American Society for Nutrition, carrega ainda mais a tese da personalização, mostrando-nos que cada organismo é único: pessoas diferentes, até irmãos gémeos — que têm o mesmo ADN — podem responder de forma distinta a diferentes alimentos, descobriram os investigadores.
“As nossas recomendações, medicamente e em termos de saúde, presumiam que, se as pessoas seguissem um plano padrão, perderiam peso”, diz, citado pela “Time”, Tim Spector, professor de genética e epidemiologia na King’s College London, acrescentando que, desta forma, ficariam também protegidas de doenças crónicas. “Esse pensamento foi exposto como completamente falhado.”
O estudo, que ainda não foi publicado em nenhum jornal cientifico, incluiu 1100 adultos americanos e do Reino Unido, do qual faziam parte 240 pares de gémeos. Todos os intervenientes da investigação foram seguidos ao longo de duas semanas: o açúcar no sangue foi monitorizado, assim como a insulina e de gordura, depois da ingestão de refeições pré-feitas, como muffins ou bebidas com glicose. As bactérias intestinais também foram analisadas, bem como a qualidade de sono e hábitos de exercício físico.
Conclusões a retirar? Os investigadores conseguiram ver que os alimentos que aumentaram a quantidade de açúcar no sangue ou que mantiveram os níveis de gordura elevados durante horas numa pessoa, não tinham, necessariamente, o mesmo efeito na pessoa ao lado, mesmo que se se tratasse de um irmão gémeo. Houve casos de pessoas com respostas distintas às mesmas refeições, quando consumidas em diferentes alturas do dia. Os resultados, diz a revista americana, de acordo com a opinião de Tim Spector, sugerem que dados nutricionais não são capazes de prever como é que o peso e saúde de determinada pessoa são afetados pelos alimentos.
Mas, calma. Isto não deixa cair por terra toda a educação nutricional em que se tem apostado. “Há algumas diretrizes à volta do mundo com que toda a gente concorda”. Isto inclui comer alimentos ricos em fibra, reduzir calorias e evitar alimentos processados. Só que depois há também os alimentos em que não há consenso. Café puro de manhã faz mal? O jejum intermitente é eficaz? Uma dieta fraca em hidratos de carbono ou gordura é indicada para perder peso? Para isto, diz Spector, não há respostas fechadas, porque os corpos reagem de forma diferente.
A real nutrição personalizada é a linha a avistar no horizonte, mas o caminho para lá chegar ainda tem alguns obstáculos. Apesar de já se entenderem algumas ligações genéticas com padrões alimentares (intolerância à lactose ou ao glúten, por exemplo), ainda há muito para perceber: a comunidade cientifica ainda não conseguiu desmontar a complexa matriz de genes, ambiente e biomarcadores que influenciam as reações de uma pessoa a um vasto grupo de alimentos, diz Deborah Good à “Time”, professora de nutrição humana, alimentos e exercícios na Virginia Tech.
"Não sabemos o suficiente sobre todas as coisas diferentes que contribuem para isto", diz. “Em algum momento da nossa vida poderemos, pelo menos geneticamente, receber um conjunto de informações no início das nossas vidas. Mas ainda não chegámos lá e não sei quanto tempo levará até chegarmos.”