Os casos assintomáticos de COVID-19 são mais frequentes do que aqueles que apresentam sintomas como tosse, febre ou dificuldade respiratória, conclui o mais recente relatório do estudo "Diários de uma Pandemia", realizado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC). De acordo com a investigação, a proporção de testes positivos foi maior em pessoas que nunca apresentaram nenhum sinal da doença ou que nunca estiveram em contacto com uma pessoa infetada.
"Para cada caso sintomático, haverá quatro, cinco ou talvez mais casos de infecção que passam sem sintomas”, diz Henrique Barros, presidente do ISPUP, especialista em saúde pública e epidemiologista, em declarações ao "Público", jornal que apoia o estudo em questão.
A conclusão vai ao encontro do que disse Marta Temido, Ministra da Saúde, na conferência de imprensa de sábado, 2 de maio: na semana passada, 73% dos casos positivos testados eram de pessoas sem sintomas, sendo que mais de 20% das infecções eram assintomáticas.
A análise da ISPUP surge da análise aos inquéritos realizados a uma amostra de 11.125 indivíduos, em que 8613 disseram nunca ter tido contacto com casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus, não tendo demonstrado quaisquer sintomas. 187 decidiram fazer o teste por considerarem que, mesmo assim, poderiam estar em risco e 48,7% estava infetada.
“É verdade que o teste pode ser falsamente positivo e até com uma frequência superior ao desejado nas condições de ‘vida real’ que diferem das situações ideais de laboratório”, aponta Henrique Barros, que acrescenta que a aquilo que se deve retirar desta análise é que o número de infetados é muito superior aos casos confirmados, tendo em conta que uma grande quantidade de pessoas não apresentará sintomas.
“Os números oficiais são feitos com base em casos sintomáticos – e começam agora a ser ‘contaminados’ pelos casos assintomáticos por causa dos rastreios [nos lares de idosos e nas creches, por exemplo]. Mas é óbvio que não podemos andar a fazer rastreios à população toda”, diz o epidemiologista.
Porém, Henrique Barros também considera que se deve adotar uma postura mais liberar na questão dos testes. "No início, éramos muito mais críticos e selectivos com a realização dos testes, de acordo com o que sabíamos sobre o coronavírus e com a disponibilidade dos testes, que era menor, mas é importante que agora sejamos muito mais liberais. Se fizermos mais testes, vamos encontrar mais gente positiva e isso vai contribuir para ‘segurar’ melhor as cadeias de transmissão."
Porém, não acredita que as autoridades sanitárias identifiquem grandes níveis de imunidade, quando iniciarem os testes de imunidade para a população. "“Não me parece que possa acontecer aqui o que aconteceu em Nova Iorque, nos Estados Unidos, ou nalgumas cidades da Lombardia, em Itália, onde as cadeias de contacto foram brutais e, portanto, a proporção de infectados assintomáticos é muito alta. Arriscaria dizer que ficaremos abaixo dos 2% a nível nacional."