Várias questões têm sido levantadas quanto ao surto de COVID-19 e uma delas diz respeito às grávidas que receiam contrair a doença e afetar a saúde dos bebés. Estamos já a par das medidas de prevenção, mas quanto às evidências sobre os riscos de contágio na gravidez, pouco se tem revelado.
Há apenas um estudo publicado na revista científica "The Lancet" que revela que até ao momento não há provas científicas sobre uma suscetibilidade das mulheres grávidas à transmissão do coronavírus.
“Os artigos publicados e estudos de caso não confirmaram a existência de transmissão vertical de COVID-19 de mães para fetos. O prognóstico da gravidez, ou das mulheres grávidas, também não foi pior em comparação às mulheres não grávidas infetadas", refere Sérgio Soares, diretor médico do Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI), em Lisboa.
O médico acrescenta que uma vez que a ciência não apresentar resultados mais concretos, as mulheres grávidas devem manter-se calmas, reforçando o facto de até ao momento "nem mulheres em tratamento reprodutivo, nem grávidas no terceiro trimestre de gestação mostraram riscos para a evolução do seu processo e estado do seu futuro bebé".
Ainda assim, sabe-se que as grávidas são grupos de risco pela frágil imunidade, devendo evitar a exposição a possíveis perigos, não só para se protegerem do COVID-19, como de qualquer outra patologia: "Para uma mulher grávida qualquer infeção viral passível de afetar as vias respiratórias inferiores pressupõe risco para a mesma e para a gravidez", conclui o especialista.
Contactado pela MAGG, o ginecologista e obstetra Fernando Cirurgião explica que, de facto, "o risco de transmissão vertical de mães para fetos para já é inexistente", mas garante que embora não existam sinais clínicos específicos de infeção que precedem a complicações graves, "estes agentes têm o potencial de causar resultados maternos e perinatais adversos".
"As mulheres grávidas não têm maior risco de se infetarem ou de apresentarem sintomas mais graves na mesma idade. Do que já se sabe, parece haver, sim, um risco de parto pré-termo, pelo que o repouso extra se justifica em pleno", e por isso o especialista lista alguns cuidados imperativos de serem tomadas pelas grávidas em caso de suspeita de infeção.
"Todas as grávidas com suspeitas de infeção, tosse, febre e dificuldade respiratória deverão ser avaliadas. Mas antes disso deve haver a validação dos sintomas através do contacto telefónico com a Saúde 24 ou o médico assistente, de forma a não recorrem às urgências hospitalares onde pode haver um potencial contacto com doentes."
Embora não esteja confirmada a possibilidade de transmissão vertical, o ginecologista revela que no caso de a grávida estar infetada, pode procede-se à separação temporária da mãe e do bebé pós-parto para impedir o contágio.
Quanto a possíveis complicações durante a gravidez, Fernando Cirurgião baseia-se apenas em alguns dos estudos que foram sendo publicados referentes a outros surtos de infeções respiratórias virais anteriores.
"Na gravidez inicial não se pode excluir a maior probabilidade de aborto espontâneo e o risco de prematuridade ronda os 40%, podendo grande parte dos casos deverem-se, especialmente, à iniciativa obstétrica de antecipar o nascimento do feto", e garante também que não há qualquer risco acrescido de morte fetal.
E continua: "Não foram encontrados indícios de vírus no leite materno, pelo que a principal preocupação não é se o vírus pode ser transmitido através do leite, mas se a mãe pode transmiti-lo através de gotículas respiratórias durante o período de amamentação. Assim, uma mãe com COVID-19 confirmado deve tomar todas as possíveis precauções para evitar transmitir o vírus ao seu recém-nascido — usando uma máscara facial durante a amamentação."