Manchas vermelhas na pele, espirros e febre. Estes sintomas podem remetê-lo rapidamente para uma das doenças mais comuns e perigosas nas crianças: o sarampo. Mas dois novos estudo vieram comprovar que esta problemática — que pode aparecer em qualquer idade — tem um impacto devastador no sistema imunitário e pode provocar consequências a longo prazo.
Os estudos independentes, publicados na quinta-feira, 31 de outubro, nas revistas "Science" e "Science Immunology", indicam que para além da própria infeção, o sarampo pode também fazer o corpo perder a memória, a capacidade de reconhecer de forma rápida outros antígenos (substâncias estranhas ao organismo que desencadeiam a produção de anticorpos) e de combater infeções — comprometendo o sistema imune a longo prazo e aumentando a probabilidade de adquirir outras doenças. Este facto anteriormente baseava-se apenas em dados epidemiológicos, mas agora surge a primeira evidência biológica.
A investigação foi realizada em fases diferentes com crianças holandesas não vacinadas contra o sarampo. Em 2013, o investigador Rik de Swart, do Erasmus University Medical Center, de Roterdão, Holanda, colocou amostras de sangue de 77 crianças em contacto com agentes infecciosos de várias doenças. A investigação concluiu que, quando havia uma resposta imediata, o corpo tinha defesas contra a doença e memória imunológica.
Só que nesse mesmo ano surgiu um surto de sarampo na Holanda. Os testes imunológicos foram refeitos com as mesmas crianças e, com uma nova tecnologia de deteção de vírus, VirScan, foi possível comparar a memória imunológica antes e depois das crianças serem infetadas com o vírus do sarampo.
Stephen Elledge, geneticista do Howard Hughes, e os colegas, avaliaram o material. Michael Mina, um virologista de Harvard, juntou-se à Elledge para analisar as amostras de sangue de 77 crianças antes e depois de serem infetadas.
O estudo internacional conduzido por investigadores de Harvard indicou que o vírus do sarampo pode apagar de 11% a 73% a memória dos anticorpos de quem é infetado. Com a doença, as crianças perderam respostas imunológicas, o que aumenta a probabilidade de contraírem outras doenças e ficarem vulneráveis a outras que já tinham tido anteriormente — e que à partida já teriam presentes células de memória aptas para eliminar o vírus da melhor maneira.
O estudo publicado na "Science Immunology" usou os mesmos dados de Swart. A investigadora Ana Paula Lepique, do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, segundo o site "Metro", afirmou: "As células B sofrem uma alteração no seu repertório. Ou seja, células de memória que respondiam a vários antígenos ao qual a pessoa já havia sido exposta morrem, e deixam essa pessoa sem imunidade contra esses antígenos. Por outro lado, a resposta contra o sarampo durante a infeção é forte e, quando se examina a população de células B de memória, várias são específicas para sarampo".
Os resultados de ambas as experiências reforçam a importância de tomar esta vacina para não contrair a doença e evitar a redução da memória imunológica.