Apesar de as varizes das pernas serem as mais comuns, também porque são as mais visíveis, a verdade é que muitas mulheres sofrem de varizes pélvicas. Chama-se síndrome de congestão venosa pélvica e caracteriza-se pela existência de veias dilatadas que surgem principalmente na mulher e podem afetar o útero, as trompas de falópio ou os ovários.

Tiago Bilhim, radiologista de intervenção no Hospital de Saint Louis e na CUF Tejo, em Lisboa, explica à MAGG que estas varizes não muito diferentes das que vemos nas pernas, mas acabamos por lhes dar menos atenção porque não as conseguimos ver.

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"As veias deixam de ser normais quando as válvulas que a pessoa tinha deixam de funcionar. Essas válvulas permitiam que o sague não se acumulasse e que o sangue voltasse para as partes de baixo do corpo em direção ao coração. O problema é quando estas válvulas deixam de funcionar e o sangue, em vez refluir da pélvis, ou das pernas, para o coração, vai-se acumulando nestes sacos fazendo com que as veias dilatem e sangue se acumula", esclarece diz Tiago Bilhim, acrescentando que, por vezes, estas varizes "podem ser tão exuberantes e tão grandes que aparecem cá fora através da vagina ou na zona do períneo".  "Mas isso é já em situações mesmo muito graves", frisa.

Peso pélvico, dor pélvica crónica ou dor durante a atividade sexual são alguns dos principais sinais que podem alertar para a existência de varizes pélvicas e que interferem com a qualidade de vida das pessoas. Apesar de serem mais frequentes nas mulheres, também os homens podem ter este tipo de varizes (às quais é dado o nome varicocele) — ao contrário do que acontece nas mulheres, estas são mais fáceis de detetar porque se encontram nos testículos e são palpáveis.

Tiago Bilhim
Tiago Bilhim é radiologista de Intervenção no Hospital de Saint Louis e na CUF Tejo, em Lisboa. créditos: Divulgação

Fatores hereditários ou hormonais, anomalias anatómicas obstrutivas, patologias que originem congestão venosa secundária, cirurgias pélvicas, antecedentes de varizes ou multiparidade são algumas das principais causa que, segundo Tiago Bilhim, podem justificar a formação das varizes pélvicas que, apesar de poderem afetar pessoas de diferentes faixas etárias, aparecem maioritariamente entre os 40 e os 60 anos.

"Toda a gente que tem varizes sabe que as queixam pioram ao longo do dia porque é necessário que a pessoa esteja em pé para o sangue se ir acumulando nessa zona. Quando a pessoas está a noite toda deitada, isso faz com que o sangue não se acumule nos sacos venosos e provoque menos dores", diz o radiologista.

O melhor exame é aquele que permite também o tratamento

Quanto ao diagnóstico, Tiago Bilhim explica que a este se pode chegar através de exames de imagem onde é possível ver as veias dilatas. "Quer a ecografia endovaginal, quer exames como TAC ou ressonância podem ver estas varizes, mas nem sempre. Por isso, o exame de eleição é aquele a que chamamos flebografia."

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Tiago Bilhim explica que este é um exame de radiologia de intervenção que permite não só diagnosticar a presença de varizes pélvicas e de síndrome de congestão venosa pélvica, como permite também tratar na mesma sessão as varizes através da embolização.

"No fundo, é um cateterismo. Introduzimos pequenos tubinhos numa veia, geralmente do pescoço ou virilha, e vamos até às veias pélvicas. Depois injetamos contraste no equipamento de radiografia para ver se as veias estão reflexivas e dilatadas", explica, referindo que com a embolização, o cateter é avançado até às varizes pélvicas que são ocluídas ou tapadas com material específico que faz com que, dificilmente, estas voltem a ficar dilatadas.

Apesar de não ser uma patologia perigosa, interfere com a qualidade de vida das pessoas. De acordo com o radiologista, existe ainda o risco muito reduzido de formação de coágulos no interior dessas veias, que podem ser transportados até ao pulmão e causar uma embolia pulmonar (situação essa grave, que deve ser tratada o mais rápido possível no hospital).